São Paulo, sábado, 04 de dezembro de 2010

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Brasil pede Estado palestino em áreas ocupadas por Israel

Decisão atende a pedido feito a Lula pelo presidente palestino, Mahmoud Abbas, há cerca de uma semana

Negociações ocorriam desde julho, mas foram adiadas por eleição; em nota, Israel manifesta seu "desapontamento"

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

O Brasil emitiu nota ontem em apoio ao Estado palestino nas fronteiras de 1967, informou ontem o Itamaraty. Isso significa uma Palestina na faixa de Gaza e Cisjordânia, territórios ocupados por Israel na Guerra dos Seis Dias, há 43 anos.
A posição do Brasil não é nova, como reconheceu ontem o chanceler Celso Amorim, para quem se trata de mera "atualização". Desde 1988 o Brasil defende um Estado palestino nestas áreas.
Trata-se, isso sim, de um gesto político de fim de mandato do presidente Lula, que atende a pedido do presidente da ANP (Autoridade Palestina), Mahmoud Abbas.
Em carta enviada a Lula, Abbas culpa Israel pela paralisia das negociações de paz e pede o reconhecimento do Brasil ao Estado palestino antes do fim de seu mandato.
"Israel ainda desafia o mundo inteiro e insiste em suas atividades colonizadoras", escreveu Abbas. "Tal posição dificulta qualquer possibilidade de se alcançar um acordo por meio de negociações".
A Folha apurou que as gestões palestinas começaram em julho, durante a visita a Brasília do comissário de Relações Exteriores do Fatah (principal força política da ANP), Nabil Shaat.
Embora tenha prometido seu apoio, o governo brasileiro preferiu fazer o anúncio depois da eleição presidencial para não causar danos à campanha de Dilma Rousseff, contou uma fonte diplomática, pedindo anonimato.
A resposta de Lula ao pedido de Abbas destaca o apoio histórico do Brasil à causa palestina -"em particular durante meu governo".
Em nota, o Itamaraty lembrou que mais de cem países reconhecem o Estado palestino. A maioria, incluindo o Brasil, expressou seu apoio em 1988, ao votar favoravelmente à proclamação do Estado palestino na Assembleia Geral da ONU. A iniciativa teve peso simbólico mas pouco efeito prático, e o Estado palestino continuou sendo apenas uma aspiração.

CAMPANHA
Nos últimos meses, frustrada com as dificuldades do processo de paz, a ANP começou uma campanha para obter apoio internacional a um Estado palestino nas fronteiras de 1967, a fim de aumentar a pressão para que Israel se retire dos territórios.
O Brasil é o primeiro país a atender ao pedido. A esperança da ANP é que outros países latino-americanos sigam o exemplo. Cuba, Nicarágua, Costa Rica, Venezuela e Bolívia já reconheciam o Estado palestino.
Israel reagiu com insatisfação à decisão brasileira e manifestou "pesar e desapontamento" com a decisão.
"É decepcionante", disse à Folha a chefe do Departamento de América Latina da Chancelaria israelense, Dorit Shavit. "Os palestinos querem criar um Estado sem negociações, é inaceitável".
O cônsul-geral de Israel no Brasil, Ilan Sztulman disse à Folha que a decisão do Brasil "é triste", porque reconheceu um Estado que "não existe". "O governo está criando um problema para o próximo que vai entrar".
Para o palestino Nabil Shaat, o anúncio reforça o apoio internacional a uma solução pacífica para o conflito. "É um dia de alegria e entusiasmo para os povos da Palestina e do Brasil", disse.
Consultado pela Folha, o Departamento de Estado dos EUA considerou o reconhecimento "prematuro".
"Negociações são o caminho para que as partes alcancem a realização de suas aspirações", disse um porta-voz da Chancelaria. Em Mar del Plata (Argentina), o chanceler Celso Amorim disse que o reconhecimento é a melhor maneira de o Brasil contribuir para o processo de paz. ""Na realidade, é uma mera atualização da posição brasileira. [Mas] não deixa de ter um valor simbólico, para fortalecer um processo pacífico", disse.

Colaboraram ANDREA MURTA, de Washington, GUSTAVO HENNEMANN, enviado a Mar del Plata, FILIPE MOTTA, de São Paulo, e JULIANA ROCHA, de Brasília


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