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Cansaço detém protesto no Quênia
Repressão e escassez de alimentos que começa a atingir população esvaziam movimento opositor
Governo dá primeiro sinal de recuo e diz que aceitará o que a Justiça decidir sobre
a votação contestada
que reelegeu presidente
Riccardo Gangale/Associated Press
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Deslocados internos no Quênia; violência pós-eleição forçou 100 mil quenianos a deixar suas casas em menos de uma semana |
DA REDAÇÃO
O presidente do Quênia,
Mwai Kibaki, só aceitará realizar uma nova eleição no país
caso os tribunais anulem o controvertido pleito de 27 de novembro, anunciou ontem Alfred Mutua, um dos porta-vozes do governo. Violentas contestações ao resultado oficial,
que reconduziu Kibaki ao cargo
por uma pequena margem, resultaram em pelo menos 300
mortes desde o anúncio da vitória, em 30 de janeiro.
Acusações de fraude e manipulação dos resultados marcaram as eleições presidenciais.
Minutos após a divulgação do
resultado oficial, partidários de
Raila Odinga, líder do Movimento Democrático Laranja
(ODM, na sigla em inglês), saíram às ruas em Nairóbi, num
movimento que logo se espalhou pelo país. Os manifestantes -grande parte deles luos,
como Odinga- voltaram-se
contra os kikuyus -grupo étnico de Kibaki-, acusados de monopolizar a vida política no
Quênia.
O advogado-geral do Quênia,
Amos Wako, pediu uma investigação independente sobre a
contagem de votos. O ODM rejeita a sugestão de Wako, considerado um aliado do governo, e
promete manter a mobilização
até que o pleito seja cancelado.
Cansados e famintos
Após uma semana de protestos, porém, o movimento dá sinais de fadiga. O grande ato da
oposição, remarcado para ontem por Raila Odinga, não
aconteceu. A repressão, com
patrulha ostensiva, a fome e a
exaustão física venceram o ânimo dos manifestantes.
"A gente está sofrendo com
esses protestos intermináveis,
porque todos nós vivemos de
biscates... Para trabalhar, e até
para protestar, é preciso ter comida", comenta Fred Nguli, 24.
Ele disse estar faminto demais
para participar de mais marchas. Como Nguli, cerca de
40% dos trabalhadores quenianos não têm emprego fixo.
Com o aumento dos preços
de alimentos e a interrupção no
fluxo de turistas, a instabilidade começa a afetar o bolso dos
quenianos. Declaração do Banco Mundial afirma que a continuidade dos tumultos ameaça o
"impressionante" crescimento
econômico e a redução da pobreza no Quênia, cuja expansão
econômica chegou a 7% no ano
passado. O setor turístico é
uma das principais fontes de
recursos do país, pobre em minérios e em terras cultiváveis.
Para as nações vizinhas, uma
crise prolongada seria desastrosa. Em poucos dias, a violência no Quênia -até então um
dos mais estáveis da África
Oriental- já levou ao desabastecimento de combustíveis em
Uganda, Ruanda e Burundi,
que dependem dos portos do
Quênia, temporariamente fechados.
Impasse Político
Rivais circunstanciais, Odinga e Kibaki foram aliados nas
eleições de 2002, que pôs fim a
24 anos de governo de Daniel
Arap Moi. Descontente com a
divisão de poder, Odinga rompeu com Kibaki e, em 2005, liderou com sucesso a campanha
contra o referendo que aumentaria poderes da Presidência.
Surgia o Movimento Democrático Laranja -fruta que representava o "não" no referendo.
Os mediadores internacionais defendem um governo de
coalizão -hipótese que, a princípio, os rivais não descartaram. Raila Odinga chegou a remarcar para terça (8 de janeiro)
o protesto inicialmente marcado para anteontem, abrindo espaço para um diálogo.
Após a recusa de Kibaki em
negociar com quem não o reconhecesse como presidente,
anunciada em rede de TV,
Odinga antecipou a data. Um
lugar no governo não é o bastante para nenhum dos líderes,
dispostos a continuar a disputa
pela cadeira presidencial.
Com agências internacionais
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