São Paulo, sábado, 05 de janeiro de 2008

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DNA aponta que Emmanuel está em Bogotá

Segundo procurador-geral colombiano, exame mostra "probabilidade muito alta" de que suposto refém não esteja com Farc

Teste médico, que confirma tese de Uribe e significa derrota política para Chávez, terá contraprova realizada na Espanha

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Resultados preliminares de exame de DNA revelam que o menino de três anos localizado em Bogotá é mesmo o filho da assessora política Clara Rojas, seqüestrada pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) em 2002, informou ontem a Procuradoria Geral da Colômbia.
Com isso, prevalece a tese do presidente colombiano, Álvaro Uribe, de que a guerrilha não soltou na semana passada os três reféns que prometera porque um deles -Emmanuel- não estava em seu poder.
"O DNA mitocondrial de Juan David tem uma total coincidência com o DNA de Clara de Rojas [mãe da seqüestrada]. Foram estabelecidas coincidências com probabilidade de verdade", disse o procurador-geral, Mario Iguarán, em Santa Marta, no norte do país.
Segundo Iguarán, há "uma probabilidade muito alta" de que o garoto seja Emmanuel, nascido em cativeiro, fruto de um relacionamento entre Rojas e um de seus captores.
"A conclusão dos cientistas é que há maior probabilidade de que o menino pertença à família [Rojas] do que a qualquer outra", disse o procurador, que anunciou também a realização de testes adicionais na Espanha para ratificar o resultado.
Segundo informações coletadas pelo governo colombiano, o garoto de três anos e meio registrado como Juan David Gómez Tapiero foi entregue à custódia do Estado em julho de 2005, em San José del Guaviare (centro-sul), por um homem que se dizia seu tio-avô.
A criança tinha sinais de maus-tratos e uma saúde delicada: sofria de desnutrição, malária, diarréia e fratura no braço. Desde então, está sob a responsabilidade do Instituto Colombiano de Bem-Estar Familiar (ICBF).
No final do ano passado, o suposto tio-avô, José Crisanto Gómez, tentou reavê-lo no ICBF. Em depoimento nesta semana, confessou que não tinha parentesco com a criança, a qual seria "das Farc".
Para verificar a veracidade da história, a avó materna de Emmanuel, Clara de Rojas, e Iván Rojas, tio do menino, concordaram em ter seu DNA colhido para exame e comparação com o do garoto do ICBF.

Derrota
O resultado é mais uma derrota política para Hugo Chávez, que organizou uma megaoperação nos últimos dias de 2007 para reaver os três reféns que as Farc haviam prometido libertar em "ato de desagravo" ao líder venezuelano.
Quando Uribe lançou a "hipótese" de que Emmanuel não estava mais com as Farc, no último dia 31, Chávez acusou o colombiano de "dinamitar" a operação, ao criar uma "cortina de fumaça". Disse ainda que tinha mais elementos para confiar na guerrilha do que no colega, endossando a tese das Farc segundo a qual os reféns não podiam ser entregues por causa dos intensos ataques militares.
"Esperamos que não haja mais atrasos e desculpas por parte das Farc, que a doutora Clara Rojas e a ex-congressista Consuelo González de Perdomo [a outra refém que seria libertada] regressem imediatamente", disse o alto comissionado para a Paz do governo colombiano, Luis Carlos Restrepo, sobre o anúncio de libertação, feito em 18 de dezembro.
Ontem de manhã, quando já circulava nos meios de comunicação colombianos o resultado extra-oficial do exame, o chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, acusou Bogotá de impedir Caracas de realizar uma comprovação paralela do teste de DNA, lançando assim "dúvidas" sobre o resultado.
"Lamentavelmente, essa atitude do governo colombiano lança um manto de dúvidas, muito grave, sobre uma investigação que contou com a colaboração de nosso governo de maneira imediata, e nós esperávamos a mesma conduta, que não houvesse obstáculo nem movimento obstrucionista por parte do governo da Colômbia", disse Maduro, em um programa da TV estatal VTV.
Hugo Chávez não se pronunciou ontem sobre o caso.
Anteontem, porém, o presidente da Venezuela disse que já colocou em marcha uma operação "clandestina" para que as Farc entreguem os reféns. Em reação, o governo colombiano disse que não aceitaria uma operação desse tipo, feita por uma nação estrangeira, dentro de seu território.


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