São Paulo, segunda-feira, 05 de janeiro de 2009

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análise

Israelenses deixam meta em aberto

DO ENVIADO A SDEROT

Uma antiga máxima militar diz que é possível saber como uma guerra começa, mas não como ela terminará. O inconclusivo desfecho da guerra travada no Líbano há dois anos parecia ter ensinado aos israelenses os perigos de uma ofensiva militar sem objetivos realistas. Entretanto, após nove dias de intensos ataques a alvos do Hamas em Gaza, a pergunta permanece aberta: quais as metas de Israel?
O governo e o Exército afirmam que a ofensiva visa o fim dos foguetes lançados por extremistas contra Israel. Mas não escondem que é quase impossível garantir o fim dos disparos. Num dos primeiros dias da ofensiva, a Folha perguntou a Meir Shitrit, ministro do Interior, como Israel consideraria a operação um sucesso.
"Que parem os foguetes e haja calma no sul do país", respondeu, em visita a Sderot, uma das cidades mais alvejadas. Então a ofensiva só vai terminar quando não houver mais nenhum disparo? "O objetivo não é zero míssil, mas zero motivação do Hamas para lançá-los."
O assunto voltou a ser abordado dois dias depois pela chanceler Tzipi Livni, uma das comandantes da ação ao lado do premiê Ehud Olmert e do ministro da Defesa Ehud Barak. "Já atingimos a capacidade do Hamas de lançar foguetes", disse ela.
"Resta saber se atingimos o desejo do Hamas em dispará-los."

Expectativas
Diante de objetivos tão fluidos e difíceis de avaliar, tornou-se quase inevitável especular que a maior ofensiva israelense em décadas tem uma ambição bem maior que a declarada: derrubar o Hamas do poder em Gaza.
Sabendo que ações militares não bastam para depor regimes -uma manobra que exigiria uma indesejável e custosa reocupação da faixa de Gaza-, Israel baixou as expectativas. Publicamente, reduz suas ambições. Às vezes, contudo, desejos ocultos são expostos.
"O objetivo da operação é acabar com o Hamas", disse, no sábado, o ministro da Indústria Ely Ishai, pouco após o início da incursão terrestre.
O temor dos que defendem metas maximalistas é que uma trégua com o Hamas no poder terá um sabor amargo de empate, dando aos fundamentalistas a legitimidade política que Israel queria eliminar.
Para Yossi Alpher, ex-oficial do Mossad (serviço de inteligência), a operação terrestre aumentou perigosamente a aposta, pois é difícil levar ao fim do regime do Hamas. "Poderíamos ter terminado com isso ontem [sábado] e declarado vitória", disse ao "Independent". "Teria sido uma vitória controvertida e incompleta, mas não uma derrota." (MN)


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