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SUCESSÃO NOS EUA / DISPUTA DEMOCRATA
"Obamania" se alimenta de jovens
Senador tem 50% mais votos que adversária democrata entre eleitores com menos de 30 anos, diz pesquisa
"Geração do Milênio" pode fazer diferença nas urnas; Obama ganha mais espaço na mídia americana do que veteranos Hillary e McCain
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A CHICAGO
(ILLINOIS)
"Obamamania". "Obamarama". "Obamalot". "Obamapalooza". "Obama é Mac; Hillary é
PC". "Chega de drama; vote em
Obama." Nunca antes na história recente desse país um candidato à Presidência mobilizou
tanta gente jovem, que criou
tanto neologismo e frases de
efeito, como os acima. Esse
eleitorado, já batizado de "Geração do Milênio", pode fazer a
diferença nas urnas hoje.
Segundo levantamento da
Kennedy School of Government, de Harvard, o interesse
dos eleitores com menos de 30
anos no processo deste ano é de
74%, um salto espetacular dos
13% de 2000, quando George
W. Bush disputou com um Al
Gore pré-aquecimento global,
pré-Oscar e pré-Nobel -portanto, pré-"pop"- e dos 42% de
2004, quando o insosso John
Kerry era o nome contra Bush.
Nesse universo, segundo levantamento do instituto de
pesquisas SRBI a pedido da revista "Time", o senador tem
50% mais votos em média do
que a ex-primeira-dama. O fenômeno é maior do que apenas
a identificação por idade, que
obviamente também pesa:
quando Barack Obama nasceu,
há 46 anos, Hillary já estava no
ginásio, com 14; e John McCain
era piloto da Marinha, com 25.
Batizados de Geração do Milênio, por chegarem à idade
adulta próximo da virada do século, esse grupo foi desmamado na política pelo ataque terrorista de 11 de Setembro (2001), a Guerra do Iraque
(2003) e os dois mandatos do
republicano George W. Bush.
"Obama é um socialista europeu que fala em mudança no
sentido mais vago possível,
uma vez que os americanos só
se interessam pela noção de
que ele é um rosto novo", disse
à Folha Victor Davis Hanson,
da conservadora Hoover Institution, de Stanford.
"Já Hillary Clinton na verdade é Bill", provoca Hanson,
"um centauro que se guia por
51% do que o público pensa a
cada dia, sem se preocupar com
memória, ideologia ou qualquer outra coisa." É por isso,
acredita o estudioso, que o primeiro parece mais atraente.
Novidade
É também o mais midiático,
segundo o Project for Excellence in Journalism. Obama teve
mais espaço na imprensa local
do que Hillary, 41,3% ante
40,3% de 21 a 27 de janeiro, antes de alcançá-la nas pesquisas;
já John McCain, o líder entre os
republicanos, teve 16,3%.
O motivo são vários: um negro com chances de ganhar a
Presidência pela primeira vez,
a baixa idade média dos jornalistas e a "fadiga de material"
dos veteranos, que cobrem um
Bush ou um Clinton nas eleições presidenciais há décadas.
A base jovem dá à candidatura do senador negro por Illinois
um caráter de "movimento",
mais do que uma opção política. Assim, você "é" Obama, você
não "vota em" Obama. É o que
mostra a seção da Escola de Direito da Universidade de Chicago do grupo Students for Obama (SFOB, na gíria).
Como Illinois já é território
conquistado, os mais de 200
membros se reúnem a cada primária e partem para convencer
eleitores indecisos em Estados
em que o senador está atrás de
Hillary ou não há um claro preferido -caso de Nova Jersey
hoje. "Batemos em 1.400 portas", calcula a Lauren Leonards, líder do SFOB, em seu
blog. "Nunca tinha visto a comunidade universitária tão
unida em torno de uma candidatura como hoje. Nós somos
os Estados Unidos aqui e agora,
e Obama fala de políticas que
vão afetar minha geração."
A equipe de Obama também
é considerada mais atenta às
tendências dos jovens, não só
em internet, sites de relacionamento social e celulares, mas
em iniciativa. Os voluntários de
Chicago, por exemplo, são os
mesmos que há alguns meses
participaram aqui do "Acampamento Obama".
Tinha a mesma estrutura dos
acampamentos de férias, mas
em vez de cantorias em volta da
fogueira, as pessoas faziam jogos em que eram ensinadas táticas de militância.
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