São Paulo, terça-feira, 05 de fevereiro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / DISPUTA DEMOCRATA

"Obamania" se alimenta de jovens

Senador tem 50% mais votos que adversária democrata entre eleitores com menos de 30 anos, diz pesquisa

"Geração do Milênio" pode fazer diferença nas urnas; Obama ganha mais espaço na mídia americana do que veteranos Hillary e McCain

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A CHICAGO (ILLINOIS)

"Obamamania". "Obamarama". "Obamalot". "Obamapalooza". "Obama é Mac; Hillary é PC". "Chega de drama; vote em Obama." Nunca antes na história recente desse país um candidato à Presidência mobilizou tanta gente jovem, que criou tanto neologismo e frases de efeito, como os acima. Esse eleitorado, já batizado de "Geração do Milênio", pode fazer a diferença nas urnas hoje.
Segundo levantamento da Kennedy School of Government, de Harvard, o interesse dos eleitores com menos de 30 anos no processo deste ano é de 74%, um salto espetacular dos 13% de 2000, quando George W. Bush disputou com um Al Gore pré-aquecimento global, pré-Oscar e pré-Nobel -portanto, pré-"pop"- e dos 42% de 2004, quando o insosso John Kerry era o nome contra Bush.
Nesse universo, segundo levantamento do instituto de pesquisas SRBI a pedido da revista "Time", o senador tem 50% mais votos em média do que a ex-primeira-dama. O fenômeno é maior do que apenas a identificação por idade, que obviamente também pesa: quando Barack Obama nasceu, há 46 anos, Hillary já estava no ginásio, com 14; e John McCain era piloto da Marinha, com 25.
Batizados de Geração do Milênio, por chegarem à idade adulta próximo da virada do século, esse grupo foi desmamado na política pelo ataque terrorista de 11 de Setembro (2001), a Guerra do Iraque (2003) e os dois mandatos do republicano George W. Bush.
"Obama é um socialista europeu que fala em mudança no sentido mais vago possível, uma vez que os americanos só se interessam pela noção de que ele é um rosto novo", disse à Folha Victor Davis Hanson, da conservadora Hoover Institution, de Stanford.
"Já Hillary Clinton na verdade é Bill", provoca Hanson, "um centauro que se guia por 51% do que o público pensa a cada dia, sem se preocupar com memória, ideologia ou qualquer outra coisa." É por isso, acredita o estudioso, que o primeiro parece mais atraente.

Novidade
É também o mais midiático, segundo o Project for Excellence in Journalism. Obama teve mais espaço na imprensa local do que Hillary, 41,3% ante 40,3% de 21 a 27 de janeiro, antes de alcançá-la nas pesquisas; já John McCain, o líder entre os republicanos, teve 16,3%.
O motivo são vários: um negro com chances de ganhar a Presidência pela primeira vez, a baixa idade média dos jornalistas e a "fadiga de material" dos veteranos, que cobrem um Bush ou um Clinton nas eleições presidenciais há décadas.
A base jovem dá à candidatura do senador negro por Illinois um caráter de "movimento", mais do que uma opção política. Assim, você "é" Obama, você não "vota em" Obama. É o que mostra a seção da Escola de Direito da Universidade de Chicago do grupo Students for Obama (SFOB, na gíria).
Como Illinois já é território conquistado, os mais de 200 membros se reúnem a cada primária e partem para convencer eleitores indecisos em Estados em que o senador está atrás de Hillary ou não há um claro preferido -caso de Nova Jersey hoje. "Batemos em 1.400 portas", calcula a Lauren Leonards, líder do SFOB, em seu blog. "Nunca tinha visto a comunidade universitária tão unida em torno de uma candidatura como hoje. Nós somos os Estados Unidos aqui e agora, e Obama fala de políticas que vão afetar minha geração."
A equipe de Obama também é considerada mais atenta às tendências dos jovens, não só em internet, sites de relacionamento social e celulares, mas em iniciativa. Os voluntários de Chicago, por exemplo, são os mesmos que há alguns meses participaram aqui do "Acampamento Obama".
Tinha a mesma estrutura dos acampamentos de férias, mas em vez de cantorias em volta da fogueira, as pessoas faziam jogos em que eram ensinadas táticas de militância.


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