São Paulo, terça-feira, 05 de fevereiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

análise

Desta vez, eleitor mede elegibilidade

CLIVE CROOK
DO "FINANCIAL TIMES"

Quem acompanha esta espantosa eleição precisa lembrar constantemente de que os EUA, ao final do processo, podem bem terminar com o presidente que todos imaginavam inicialmente. Por enquanto, Hillary Clinton continua a ser a candidata favorita.
Mas quem teria imaginado a situação atual da disputa? À véspera da Superterça, Barack Obama reduziu a vantagem de Hillary, enquanto os republicanos estão prestes a indicar John McCain.
Pela metade do ano passado, todos acreditavam que a candidatura de McCain estivesse morta, e muitos dos eleitores de seu partido o consideravam tão ruim quanto os malditos democratas.
À primeira vista, as disputas dos dois partidos parecem completamente diferentes. Os democratas começaram com uma franca favorita, cuja vantagem acabou sendo contestada por um político que vem de fora dos círculos tradicionais de Washington e transformou a disputa em uma parada muito difícil. Os republicanos jamais tiveram um favorito claro, um pré-candidato em torno do qual a complicada coalizão de conservadores, evangélicos e libertários que forma o partido pudesse se unir.
No entanto, McCain começou a vencer e passou a receber adesões de todas as alas do partido. Os democratas têm probabilidades maiores do que os republicanos de demorar a definir um candidato, e a batalha interna do partido pode se arrastar, e causar danos, por meses. Quem teria apostado nisso?
Essas disputas contrastantes têm uma coisa em comum, no entanto. Nos dois casos, as vozes mais ruidosas, mais insistentes e menos propensas a compromissos -as dos ativistas, dos apresentadores de rádio, dos progressistas militantes, do movimento conservador- foram, se não ignoradas, ao menos dispersadas em meio à cacofonia dos palanques.
O que os eleitores de ambos os partidos parecem desejar mais é que seu lado vença. E assim, a despeito da evidente polarização do debate político, cada partido se deixou atrair por candidatos capazes de falar com o eleitorado de centro, e ganhar seu apoio.
As diferenças políticas perderam importância e questões de personalidade e elegibilidade começaram a ganhar destaque.
Os eleitorados de ambos os partidos estão pensando menos em ideologia e mais em vitória. Ao contrário do que acreditam os proponentes da polarização de parte a parte, isso é bom. O ponto não é que políticas de centro sejam sempre melhores. Mas o sistema de governo teimosamente democrático dos Estados Unidos foi concebido de maneira a requerer amplo consenso antes que grandes iniciativas sejam adotadas.
O presidente ocupa posição única para promover o consenso nacional e caso não seja capaz de exercer essa responsabilidade, o sistema e o país saem prejudicados. Nem todo presidente que deseja unir o país obtém sucesso. Mas um presidente que careça da ambição ou capacidade de fazê-lo está fadado ao fracasso.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


Texto Anterior: Cidade da adversária, Chicago é Obama, mas também guarda manchas passadas
Próximo Texto: Disputa mais dura faz Hillary mudar campanha
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.