|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
análise
Desta vez, eleitor mede elegibilidade
CLIVE CROOK
DO "FINANCIAL TIMES"
Quem acompanha esta
espantosa eleição precisa
lembrar constantemente
de que os EUA, ao final do
processo, podem bem terminar com o presidente
que todos imaginavam inicialmente. Por enquanto,
Hillary Clinton continua a
ser a candidata favorita.
Mas quem teria imaginado a situação atual da
disputa? À véspera da Superterça, Barack Obama
reduziu a vantagem de Hillary, enquanto os republicanos estão prestes a indicar John McCain.
Pela metade do ano passado, todos acreditavam
que a candidatura de
McCain estivesse morta, e
muitos dos eleitores de
seu partido o consideravam tão ruim quanto os
malditos democratas.
À primeira vista, as disputas dos dois partidos parecem completamente diferentes. Os democratas
começaram com uma
franca favorita, cuja vantagem acabou sendo contestada por um político que
vem de fora dos círculos
tradicionais de Washington e transformou a disputa em uma parada muito
difícil. Os republicanos jamais tiveram um favorito
claro, um pré-candidato
em torno do qual a complicada coalizão de conservadores, evangélicos e libertários que forma o partido
pudesse se unir.
No entanto, McCain começou a vencer e passou a
receber adesões de todas
as alas do partido. Os democratas têm probabilidades maiores do que os
republicanos de demorar a
definir um candidato, e a
batalha interna do partido
pode se arrastar, e causar
danos, por meses. Quem
teria apostado nisso?
Essas disputas contrastantes têm uma coisa em
comum, no entanto. Nos
dois casos, as vozes mais
ruidosas, mais insistentes
e menos propensas a compromissos -as dos ativistas, dos apresentadores de
rádio, dos progressistas
militantes, do movimento
conservador- foram, se
não ignoradas, ao menos
dispersadas em meio à cacofonia dos palanques.
O que os eleitores de
ambos os partidos parecem desejar mais é que seu
lado vença. E assim, a despeito da evidente polarização do debate político, cada partido se deixou atrair
por candidatos capazes de
falar com o eleitorado de
centro, e ganhar seu apoio.
As diferenças políticas
perderam importância e
questões de personalidade
e elegibilidade começaram
a ganhar destaque.
Os eleitorados de ambos
os partidos estão pensando menos em ideologia e
mais em vitória. Ao contrário do que acreditam os
proponentes da polarização de parte a parte, isso é
bom. O ponto não é que
políticas de centro sejam
sempre melhores. Mas o
sistema de governo teimosamente democrático dos
Estados Unidos foi concebido de maneira a requerer amplo consenso antes
que grandes iniciativas sejam adotadas.
O presidente ocupa posição única para promover
o consenso nacional e caso
não seja capaz de exercer
essa responsabilidade, o
sistema e o país saem prejudicados. Nem todo presidente que deseja unir o
país obtém sucesso. Mas
um presidente que careça
da ambição ou capacidade
de fazê-lo está fadado ao
fracasso.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Texto Anterior: Cidade da adversária, Chicago é Obama, mas também guarda manchas passadas Próximo Texto: Disputa mais dura faz Hillary mudar campanha Índice
|