São Paulo, sexta-feira, 05 de fevereiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Missionários dos EUA são denunciados por sequestro no Haiti

Americanos esperavam ser repatriados ontem, mas Justiça determina permanência em Porto Príncipe

LUIS KAWAGUTI
EM PORTO PRÍNCIPE

A Justiça do Haiti denunciou ontem dez missionários norte-americanos por sequestro e associação para o crime, segundo o porta-voz da Polícia Nacional do Haiti Frantz Lerebours.
Eles haviam sido capturados na última sexta-feira pela Polícia Nacional do Haiti ao tentar cruzar a fronteira do país com a República Dominicana em um ônibus com 33 crianças com idades entre 0 e 12 anos. O caso veio a público no domingo.
A prisão dos americanos causou um problema para o governo do Haiti, que não deseja que a publicidade sobre o caso resulte na diminuição da ajuda humanitária americana ao Haiti depois do terremoto ocorrido no dia 12 de janeiro.
Na tarde de ontem, um dos advogados de defesa dos americanos, Jorge Puello, de origem dominicana, e a maioria das equipes de TVs norte-americanas que estão no Haiti já davam como praticamente certa a libertação dos missionários, que então responderiam às acusações nos EUA.
O advogado já havia até fretado uma aeronave para retirar seus clientes de solo haitiano.
A Folha apurou que uma das hipóteses era a de que os americanos fossem autorizados a voltar ao seu país para que o caso deixasse de roubar a atenção da mídia. O primeiro-ministro haitiano já havia afirmado anteontem que a mídia americana estava prestando mais atenção em dez pessoas "do que em um milhão de haitianos que estão sofrendo nas ruas".
O outro advogado de defesa, Edwin Coq, disse após a audiência que o juiz encontrou provas suficientes para aceitar a denúncia da Promotoria. Segundo Coq, o sistema legal haitiano não prevê um julgamento aberto, e um veredicto só deve sair em três meses. "Farei o que puder para obter as absolvições."
acusação de sequestro pode render penas de cinco a 15 anos de prisão. A associação para o crime pode render entre três e nove anos de reclusão. Além disso, a Justiça haitiana pode considerar ainda que os missionários cometeram 33 vezes esses crimes, uma vez que esse era o número de crianças encontradas pela polícia em poder deles.
Os missionários passaram toda a tarde de ontem na corte haitiana. Por volta das 19h (de Brasília), retornaram ao Departamento Central de Polícia Judiciária onde se encontram detidos desde sua captura, e também onde funciona a sede provisória do governo haitiano.
Eles chegaram sem algemas em duas caminhonetes da Polícia Nacional do Haiti e carregavam malas de viagem. Aparentavam tranquilidade e não tentaram desviar o olhar das câmeras de TV. A polícia haitiana usou jaquetas para tentar encobrir os rostos dos missionários na chegada à prisão.
Segundo Lerebours, a polícia ainda não sabe se eles continuarão detidos na sede do governo ou se serão transferidos para outra unidade prisional.
Os missionários americanos disseram em sua defesa que estavam levando crianças órfãs para uma instituição na República Dominicana. Apesar disso, pelo menos 12 pais já se apresentaram à organização não governamental onde as crianças estão sendo mantidas para reclamá-las.


Texto Anterior: Debate Brasil-Venezuela sobre apagão é adiado
Próximo Texto: Reino Unido: 390 parlamentares terão de devolver US$ 1,6 mi ao Estado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.