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ELEIÇÃO NOS EUA
Pré-candidatos à Presidência buscam apoio dos jovens empresários da Internet na Califórnia
Vale do Silício entra no mapa político
MALU GASPAR
enviada especial a San Francisco
"Esse lugar é maravilhoso." A
frase, do pré-candidato republicano à Presidência dos EUA
George W. Bush, foi dita há alguns meses em visita à Califórnia,
mas poderia ter sido dita por
qualquer um dos outros candidatos à sucessão de Clinton.
O lugar, no entanto, não é nenhuma paisagem natural californiana, mas uma região industrial
nos arredores de San Francisco,
que é parada estratégica cada vez
mais importante para políticos
em campanha: o Vale do Silício, o
coração da indústria de tecnologia dos EUA.
O vice-presidente e pré-candidato democrata, Al Gore, fez na
semana passada sua enésima visita ao Vale desde que começou sua
campanha para a sucessão do
presidente Bill Clinton. Mas ele
não esteve ali, às vésperas das primárias californianas, por suas ligações "especiais" com a indústria da Internet (ele já chegou a
afirmar uma vez ter sido o "inventor" da rede).
Da última campanha presidencial até a atual corrida sucessória,
o Estado que abriga as primárias
mais importantes da "Super Terça" passou a abrigar também uma
nova força política: a rede mundial de computadores.
Levantamento do Center for
Responsive Politics, uma ONG especializada em estudar as doações
de campanha para os candidatos,
mostra que as indústrias de informática doaram no ano passado
US$ 1,5 milhão para as campanhas presidenciais.
A maior parte desse dinheiro -
US$ 700 mil- foi para o governador do Texas, George W. Bush.
Em seguida vêm o ex-senador democrata por Nova Jersey Bill Bradley (US$ 333 mil) e Gore, que recebeu US$ 330 mil. John McCain,
senador republicano pelo Arizona, levou US$ 140 mil.
Esse dinheiro não é nada se
comparado aos US$ 13 milhões
que os advogados ou aos US$ 11
milhões que os aposentados já
doaram para as campanhas. É
uma miséria também se comparado aos US$ 365 bilhões anuais
de faturamento das gigantes da
indústria local.
Mas os candidatos cortejam o
Vale do Silício desde que entraram na corrida eleitoral porque
sabem que esse é um setor que
tem muito mais dinheiro para injetar nas campanhas e que, pelo
menos na Califórnia, pode ajudar
a melhorar a imagem do político.
A indústria tecnológica movimenta 20% da economia norte-americana e a ela se atribui boa
parte da responsabilidade pelo
crescimento econômico sem precedentes na história do país.
"Estar associado à indústria "do
futuro" e comprometido com o
crescimento da economia pode
sinalizar para o eleitorado que o
candidato fará o país crescer, e esse é um ativo político muito importante", afirma o pesquisador
da Universidade de Stanford Armando Razo, especialista no estudo das primárias.
Desinteresse político
Dos empresários do Vale do Silício, a maioria jovens que dirigem suas empresas usando tênis e
jeans, muitos têm milhões de dólares, mas poucos têm realmente
interesse pela política.
"Eles não sabem muito de política, alguns nunca votaram na vida. Mas estão cheios de dinheiro",
afirma o veterano da indústria
tecnológica Ron Unz, republicano que depois de ficar milionário
deixou de dirigir a própria empresa para virar político (leia entrevista abaixo).
Mas, extremamente práticos,
perceberam que era preciso garantir que assuntos como a isenção de impostos para o comércio
eletrônico, o crédito fiscal para investimento em pesquisa e tecnologia e a ampliação do número de
vistos para trabalhadores qualificados sejam contemplados na
agenda do governo. Para o setor,
o essencial é reduzir ao máximo a
taxação sobre seus negócios e
manter o governo federal interferindo o menos possível.
Em 1998, as indústrias do Vale
do Silício formaram o Technology Network, uma instituição
nacional só para organizar o
lobby junto a governos, ao Congresso e aos candidatos a cargos
executivos.
Todos os outros setores da economia têm organizações do tipo.
"Na última eleição presidencial,
companhias como Yahoo, Amazon e Netscape estavam apenas
começando", afirma Wade Randlett, responsável na Technology
Network pela ligação com os democratas. "O Vale está amadurecendo e começando a assumir o
seu papel", diz ele.
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