São Paulo, quarta-feira, 05 de março de 2008

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Colombiano sobe tom e acusa Chávez de "genocídio"

Presidente usa linguagem da "guerra ao terror" americana, mas não detalha acusação que será feita ao Tribunal Penal Internacional

IURI DANTAS
ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ

O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, afirmou ontem que vai denunciar o dirigente venezuelano, Hugo Chávez, ao Tribunal Penal Internacional (TPI) por financiamento e patrocínio de genocídio diante do suposto envio de US$ 300 milhões às Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
A medida também serve de reação às críticas de presidentes sul-americanos à operação militar no Equador que resultou na morte do número 2 das Farc, Raúl Reyes. "Não precisamos simplesmente que nos dêem tapinhas nos ombros para expressar os pêsames por nossos mortos enquanto estão dando refúgio aos inimigos da Colômbia", disse Uribe.
A base para a denúncia à corte, que julga indivíduos acusados de crimes contra a humanidade, serão os dados obtidos em um laptop encontrado no acampamento onde morreu Reyes. Segundo o governo colombiano, um e-mail enviado pelo dirigente das Farc Iván Marquez a Reyes no dia 14 de março relata supostas negociações com Chávez para entrega do dinheiro. O presidente venezuelano seria a pessoa tratada por "Ángel" no e-mail.
A ofensiva de Uribe também atingiu o presidente do Equador, Rafael Correa. No início da noite, o porta-voz presidencial leu uma nota acusando o Equador de violar resoluções da ONU por "abrigar terroristas". Ele não mencionou que resoluções seriam, mas provavelmente se referia às decisões que legitimaram a invasão americana do Afeganistão, acusado de dar abrigo a Osama bin Laden.
Segundo o porta-voz, os documentos apreendidos com Raúl Reyes serviram para iniciar "importantes processos judiciais". De acordo com a Colômbia, esses documentos serão também submetidos a uma análise técnica de organismos internacionais.
A chancelaria de Uribe não se pronunciou sobre a denúncia ao TPI. Procurada pela Folha, informou que o assunto estava na seara presidencial. A assessoria de Uribe disse que não dispunha de nenhum detalhe sobre a denúncia ao TPI.
O chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, disse que a ameaça de Uribe é "risível" e acusou-o de produzir uma "fábrica de mentiras" e de montar uma operação diversionista. Tom semelhante foi utilizado pelo presidente do Equador, Rafael Correa. "Primeiro bombardeiam e depois encontram as informações que justificam o bombardeio", disse.
A população e a imprensa colombianas, no entanto, disparam seus torpedos contra Chávez. Ontem pela manhã, programas de entrevistas nas rádios e TVs de Bogotá recebiam ligações de ouvintes criticando a eventualidade de uma guerra contra a Venezuela. "Armar uma guerra por causa da morte de um terrorista é um absurdo", resumiu David Ochoa, 26.
Segundo taxistas, havia um número maior de carros de polícia nas ruas de Bogotá ontem. Por duas vezes -cortejo fúnebre e pneu furado- a reportagem testemunhou policiais nervosos diante de carros parados no meio da rua.


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