São Paulo, quarta-feira, 05 de março de 2008

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Bogotá fala em "bomba suja", sem mostrar provas

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

A Colômbia voltou a usar um fórum das Nações Unidas para defender sua campanha militar contra a guerrilha das Farc. Em discurso ontem na Conferência de Desarmamento da ONU, em Genebra, o vice-presidente colombiano, Francisco Santos Calderón, disse que entre as informações contidas no computador de Raúl Reyes, morto no sábado, havia a de que o grupo estava tentando comprar material radioativo para fabricar "armas sujas".
"Ontem [segunda-feira] a Polícia Nacional entregou um primeiro relatório, ainda preliminar, do conteúdo dos computadores encontrados com Raúl Reyes", disse Santos. "Nele aparece a informação de que as Farc estariam negociando material radioativo, base primária para gerar armas sujas de destruição e terrorismo".
O vice-presidente acrescentou que a informação ainda está sendo submetida "a um estrito e rigoroso processo de verificação com acompanhamento internacional" e não apresentou nenhum documento. Mas advertiu que os dados obtidos confirmam que terroristas financiados pelo narcotráfico "constituem uma ameaça muito grave não só para o nosso país, mas para toda a região".
No dia anterior, Santos já havia usado um fórum da ONU para fazer acusações. Ao discursar na sessão de abertura do Conselho de Direitos Humanos, o vice-presidente disse que "alguns governos" da região infringem a lei internacional ao abrigar terroristas.

"Oriente Médio"
O ministro da Justiça do Equador colocou em dúvida a credibilidade do anúncio sobre os planos radioativos das Farc. "É preciso comprovar as denúncias com provas materiais para que tenham crédito", disse Gustavo Jalkh. "Pela direção que tomaram as declarações do governo colombiano, parece que a intenção é distrair do elemento fundamental, que é a violação flagrante da soberania de um país", afirmou Jalkh.
Ele rejeitou a alegação do Exército colombiano de que cruzou a fronteira em uma perseguição. "Os fatos indicam um plano pensado."
De acordo com o jornal colombiano "Hoy", no computador de Raúl Reyes haveria indícios de "compra e venda de 50 quilos de urânio por parte das Farc". A informação estaria em uma carta enviada por um comandante do grupo a Reyes, na qual menciona "o material para o explosivo que preparamos", que seria vendido por um governo não identificado por US$ 2,5 milhões o quilo.
Oscar Carvallo, embaixador da Venezuela em Genebra, exibia uma expressão de descrença depois de ouvir o discurso do vice-presidente colombiano. Para ele, ao introduzir em seu discurso a retórica da guerra ao terror e as suspeitas de envolvimento com urânio, a Colômbia busca internacionalizar um conflito que é regional. "Parece que estão querendo reproduzir na América do Sul os esquemas do Oriente Médio", disse.
O ministro equatoriano não acredita que a comparação com a "guerra ao terror" liderada pelo governo americano possa gerar uma compreensão à operação colombiana. "Pelo contrário. A reação de repúdio da região mostra que essas são ações intoleráveis", disse Jalkh.


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