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Bogotá fala em "bomba suja", sem mostrar provas
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
A Colômbia voltou a usar um
fórum das Nações Unidas para
defender sua campanha militar
contra a guerrilha das Farc. Em
discurso ontem na Conferência
de Desarmamento da ONU, em
Genebra, o vice-presidente colombiano, Francisco Santos
Calderón, disse que entre as informações contidas no computador de Raúl Reyes, morto no
sábado, havia a de que o grupo
estava tentando comprar material radioativo para fabricar
"armas sujas".
"Ontem [segunda-feira] a
Polícia Nacional entregou um
primeiro relatório, ainda preliminar, do conteúdo dos computadores encontrados com
Raúl Reyes", disse Santos. "Nele aparece a informação de que
as Farc estariam negociando
material radioativo, base primária para gerar armas sujas de
destruição e terrorismo".
O vice-presidente acrescentou que a informação ainda está
sendo submetida "a um estrito
e rigoroso processo de verificação com acompanhamento internacional" e não apresentou
nenhum documento. Mas advertiu que os dados obtidos
confirmam que terroristas financiados pelo narcotráfico
"constituem uma ameaça muito grave não só para o nosso
país, mas para toda a região".
No dia anterior, Santos já havia usado um fórum da ONU
para fazer acusações. Ao discursar na sessão de abertura do
Conselho de Direitos Humanos, o vice-presidente disse que
"alguns governos" da região infringem a lei internacional ao
abrigar terroristas.
"Oriente Médio"
O ministro da Justiça do
Equador colocou em dúvida a
credibilidade do anúncio sobre
os planos radioativos das Farc.
"É preciso comprovar as denúncias com provas materiais
para que tenham crédito", disse
Gustavo Jalkh. "Pela direção
que tomaram as declarações do
governo colombiano, parece
que a intenção é distrair do elemento fundamental, que é a
violação flagrante da soberania
de um país", afirmou Jalkh.
Ele rejeitou a alegação do
Exército colombiano de que
cruzou a fronteira em uma perseguição. "Os fatos indicam um
plano pensado."
De acordo com o jornal colombiano "Hoy", no computador de Raúl Reyes haveria indícios de "compra e venda de 50
quilos de urânio por parte das
Farc". A informação estaria em
uma carta enviada por um comandante do grupo a Reyes, na
qual menciona "o material para
o explosivo que preparamos",
que seria vendido por um governo não identificado por US$
2,5 milhões o quilo.
Oscar Carvallo, embaixador
da Venezuela em Genebra, exibia uma expressão de descrença depois de ouvir o discurso do
vice-presidente colombiano.
Para ele, ao introduzir em seu
discurso a retórica da guerra ao
terror e as suspeitas de envolvimento com urânio, a Colômbia
busca internacionalizar um
conflito que é regional. "Parece
que estão querendo reproduzir
na América do Sul os esquemas
do Oriente Médio", disse.
O ministro equatoriano não
acredita que a comparação com
a "guerra ao terror" liderada
pelo governo americano possa
gerar uma compreensão à operação colombiana. "Pelo contrário. A reação de repúdio da
região mostra que essas são
ações intoleráveis", disse Jalkh.
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