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Reunião com Correa hoje será ato de desagravo
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O governo brasileiro considera que os Estados Unidos estão na contramão das Américas
ao apoiar a violação do território equatoriano pela Colômbia
e insiste num "mea culpa" formal colombiano para a reabertura do diálogo. O encontro que
o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva terá com o do Equador,
Rafael Correa, hoje, às 10h, no
Planalto, está sendo classificado como "gesto de desagravo".
Em contrapartida, Lula fará
um apelo a Correa: que o Equador seja receptivo a um pedido
de desculpas formal e sem condicionantes da Colômbia, que
os países da região vêm tentando negociar com o presidente
colombiano, Alvaro Uribe.
Os dois pedidos ensaiados
até agora por Uribe, um deles
ontem, na reunião da OEA, não
foram aceitos pelo Equador,
que os considerou "frágeis e insuficientes". O Brasil concordou com essa avaliação.
A expectativa é de que Uribe
faça um "mea culpa" incisivo,
sem tentativas de justificar a
violação do território do Equador. Essa é a premissa para o
início de qualquer processo para desanuviar os ânimos no
continente.
Nem Bush nem Chávez
Na avaliação do Planalto e do
Itamaraty, tanto o norte-americano George W. Bush quanto
o venezuelano Hugo Chávez
"só pioram a situação" e "estimulam o conflito". O Brasil insiste em dois pontos básicos
para tentar esfriar o conflito e
evitar uma escalada: considerar
a questão estritamente bilateral (entre Colômbia e Equador), sem caráter regional e
muito menos internacional.
Conforme a Folha ouviu em
diferentes gabinetes de Brasília
ontem, quanto menos os EUA,
a Venezuela e até a França se
manifestarem, melhores serão
as possibilidades de retomada
do diálogo entre os dois países.
"Este é o momento mais
complexo que já vivi na América Latina nos meus 50 anos de
convivência formal com os países da região", disse ontem em
Brasília o ex-presidente do BID
(Banco Interamericano de Desenvolvimento) Enrique Iglesias (1988-2005), hoje na Secretaria Geral Ibero-Americana, com sede em Madri.
Uma das preocupações de
Iglesias, compartilhada com
setores brasileiros, é que a crise
política cause refluxo de investimentos internacionais, especialmente nos países da América do Sul, num momento de desaceleração da economia dos
EUA. Ele pediu "serenidade e
diálogo" contra a tensão.
Presidentes das Américas e
do Caribe, do Grupo do Rio,
têm encontro marcado para
sexta-feira na República Dominicana, quando certamente o
principal assunto acabará sendo a crise Colômbia-Equador.
Lula, porém, não irá, pois receberá em Brasília o presidente
de Portugal, Cavaco e Silva.
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