São Paulo, quarta-feira, 05 de março de 2008

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Reunião com Correa hoje será ato de desagravo

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O governo brasileiro considera que os Estados Unidos estão na contramão das Américas ao apoiar a violação do território equatoriano pela Colômbia e insiste num "mea culpa" formal colombiano para a reabertura do diálogo. O encontro que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá com o do Equador, Rafael Correa, hoje, às 10h, no Planalto, está sendo classificado como "gesto de desagravo".
Em contrapartida, Lula fará um apelo a Correa: que o Equador seja receptivo a um pedido de desculpas formal e sem condicionantes da Colômbia, que os países da região vêm tentando negociar com o presidente colombiano, Alvaro Uribe.
Os dois pedidos ensaiados até agora por Uribe, um deles ontem, na reunião da OEA, não foram aceitos pelo Equador, que os considerou "frágeis e insuficientes". O Brasil concordou com essa avaliação.
A expectativa é de que Uribe faça um "mea culpa" incisivo, sem tentativas de justificar a violação do território do Equador. Essa é a premissa para o início de qualquer processo para desanuviar os ânimos no continente.

Nem Bush nem Chávez
Na avaliação do Planalto e do Itamaraty, tanto o norte-americano George W. Bush quanto o venezuelano Hugo Chávez "só pioram a situação" e "estimulam o conflito". O Brasil insiste em dois pontos básicos para tentar esfriar o conflito e evitar uma escalada: considerar a questão estritamente bilateral (entre Colômbia e Equador), sem caráter regional e muito menos internacional.
Conforme a Folha ouviu em diferentes gabinetes de Brasília ontem, quanto menos os EUA, a Venezuela e até a França se manifestarem, melhores serão as possibilidades de retomada do diálogo entre os dois países.
"Este é o momento mais complexo que já vivi na América Latina nos meus 50 anos de convivência formal com os países da região", disse ontem em Brasília o ex-presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) Enrique Iglesias (1988-2005), hoje na Secretaria Geral Ibero-Americana, com sede em Madri.
Uma das preocupações de Iglesias, compartilhada com setores brasileiros, é que a crise política cause refluxo de investimentos internacionais, especialmente nos países da América do Sul, num momento de desaceleração da economia dos EUA. Ele pediu "serenidade e diálogo" contra a tensão.
Presidentes das Américas e do Caribe, do Grupo do Rio, têm encontro marcado para sexta-feira na República Dominicana, quando certamente o principal assunto acabará sendo a crise Colômbia-Equador. Lula, porém, não irá, pois receberá em Brasília o presidente de Portugal, Cavaco e Silva.


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