São Paulo, segunda-feira, 05 de abril de 2004

Próximo Texto | Índice

GUERRA AO TERROR

Com a morte de tunisiano em cerco policial, governo anuncia desmonte do grupo acusado pelos ataques de Madri

Líder terrorista está morto, diz Espanha

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA, EM BRUXELAS

O governo espanhol deu ontem por desarticulado o "núcleo central" do grupo terrorista que praticou os atentados contra quatro trens, no dia 11 de março em Madri, causando a morte de 191 pessoas e ferindo mais de 1.500.
"O núcleo central está detido ou morreu no suicídio coletivo de ontem", afirmou o ministro do Interior, Ángel Acebes, ao fazer o relato da explosão de sábado à noite no subúrbio madrileno de Leganés, em que cinco supostos terroristas se mataram, entre eles dois dos seus líderes, fazendo explodir bombas quando estavam cercados pela polícia.
Morreu também Francisco Javier Torronteras Gadea, 41, membro dos GEO (Grupos Especiais de Operações), o corpo de elite da polícia espanhola, que não havia tido um só morto em ação desde sua criação em 1978.
Segundo Acebes, um dos mortos é Sarhane Ben Abdelmajid Fakhet, "El Tunecino", tido pelas autoridades como o coordenador dos atentados de 11 de março.
Outro dos líderes do grupo terrorista, Jamal Ahmidan, "El Chino", também teria morrido. Seria dele o corpo encontrado na piscina do condomínio em que ocorreu o suicídio coletivo -informação que não era confirmada oficialmente até a noite de ontem.
Os outros mortos identificados são Agdennabi Kounjaa, "Abdallah", e Asri Rifat Anouar. Anouar é o único contra o qual não havia ordem de captura. "El Tunecino", "El Chino" e "Abdallah" estavam entre os seis acusados pelos atentados contra os quais a Audiência Nacional expedira ordem internacional de busca e captura, na quarta-feira passada.
Mas a lista expõe falhas de informação que recomendam tomar com cautela a afirmação de Acebes de que o "núcleo básico" do grupo terrorista foi desarticulado.
"El Tunecino", "El Chino" e "Abdallah" eram dados como foragidos da Espanha, daí a ordem internacional de busca e captura. Vê-se agora, após a explosão de Leganés, que estavam muito próximos de Madri, o local onde praticaram o crime.
As autoridades espanholas não descartam que alguns terroristas tenham fugido, ao notar o cerco montado em torno do número 40 da rua Carmen Martín Gaite, no subúrbio de classe média de Leganés. Dão até nomes de possíveis fugitivos: Amer El Aziz, Sanel Sjekirica e Rabei Osman Ahmed.
A polícia chegou ao prédio de Leganés porque um dos terroristas tentou ativar um dos cem cartões de telefone celular comprados em uma loja do bairro de Lavapiés. Os celulares servem como "timer" para acionar bombas. Uma delas não explodiu em 11 de março, o que permitiu puxar o fio do inquérito até chegar às primeiras prisões, justamente na loja em que os cartões foram vendidos.
Ao se verem cercados, os terroristas começaram a gritar e a cantar em árabe. "Diziam Alá não sei o que", relatou um dos moradores da área à TV espanhola. Segundo a polícia, avisaram: "Vamos morrer matando".
Assim o fizeram: acionaram bombas preparadas com parte dos dez quilos de Goma 2 Eco, um tipo de dinamite, encontrados no apartamento que ocupavam, junto com 200 detonadores.
Detonadores e explosivos são semelhantes aos usados tanto nos atentados de 11 de março como na tentativa frustrada de explodir o AVE (o trem espanhol de alta velocidade) Sevilha/Madri, na última sexta-feira.
Os explosivos estavam prontos para serem utilizados, segundo Acebes, o que significa que novos atentados estavam sendo preparados pelo grupo.
O policial morto foi enterrado em Madri, depois de ter sido velado no quartel do GEO em Guadalajara, nos arredores de Madri. A cerimônia foi acompanhada pelo premiê José María Aznar e por seu sucessor no cargo, José Luis Rodríguez Zapatero.
Trabalhava há 17 anos na polícia e havia participado na prisão de outro tipo de terroristas, os do ETA (Euskadi Ta Askatasuna ou Pátria Basca e Liberdade), que mata em nome da independência do País Basco.


Próximo Texto: Comentário: Com terroristas como "vizinhos", paranóia européia cresce
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.