|
Próximo Texto | Índice
GUERRA AO TERROR
Com a morte de tunisiano em cerco policial, governo anuncia desmonte do grupo acusado pelos ataques de Madri
Líder terrorista está morto, diz Espanha
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA, EM BRUXELAS
O governo espanhol deu ontem
por desarticulado o "núcleo central" do grupo terrorista que praticou os atentados contra quatro
trens, no dia 11 de março em Madri, causando a morte de 191 pessoas e ferindo mais de 1.500.
"O núcleo central está detido ou
morreu no suicídio coletivo de
ontem", afirmou o ministro do
Interior, Ángel Acebes, ao fazer o
relato da explosão de sábado à
noite no subúrbio madrileno de
Leganés, em que cinco supostos
terroristas se mataram, entre eles
dois dos seus líderes, fazendo explodir bombas quando estavam
cercados pela polícia.
Morreu também Francisco Javier Torronteras Gadea, 41, membro dos GEO (Grupos Especiais
de Operações), o corpo de elite da
polícia espanhola, que não havia
tido um só morto em ação desde
sua criação em 1978.
Segundo Acebes, um dos mortos é Sarhane Ben Abdelmajid Fakhet, "El Tunecino", tido pelas
autoridades como o coordenador
dos atentados de 11 de março.
Outro dos líderes do grupo terrorista, Jamal Ahmidan, "El Chino", também teria morrido. Seria
dele o corpo encontrado na piscina do condomínio em que ocorreu o suicídio coletivo -informação que não era confirmada oficialmente até a noite de ontem.
Os outros mortos identificados
são Agdennabi Kounjaa, "Abdallah", e Asri Rifat Anouar. Anouar
é o único contra o qual não havia
ordem de captura. "El Tunecino",
"El Chino" e "Abdallah" estavam
entre os seis acusados pelos atentados contra os quais a Audiência
Nacional expedira ordem internacional de busca e captura, na
quarta-feira passada.
Mas a lista expõe falhas de informação que recomendam tomar
com cautela a afirmação de Acebes de que o "núcleo básico" do
grupo terrorista foi desarticulado.
"El Tunecino", "El Chino" e
"Abdallah" eram dados como foragidos da Espanha, daí a ordem
internacional de busca e captura.
Vê-se agora, após a explosão de
Leganés, que estavam muito próximos de Madri, o local onde praticaram o crime.
As autoridades espanholas não
descartam que alguns terroristas
tenham fugido, ao notar o cerco
montado em torno do número 40
da rua Carmen Martín Gaite, no
subúrbio de classe média de Leganés. Dão até nomes de possíveis
fugitivos: Amer El Aziz, Sanel Sjekirica e Rabei Osman Ahmed.
A polícia chegou ao prédio de
Leganés porque um dos terroristas tentou ativar um dos cem cartões de telefone celular comprados em uma loja do bairro de Lavapiés. Os celulares servem como
"timer" para acionar bombas.
Uma delas não explodiu em 11 de
março, o que permitiu puxar o fio
do inquérito até chegar às primeiras prisões, justamente na loja em
que os cartões foram vendidos.
Ao se verem cercados, os terroristas começaram a gritar e a cantar em árabe. "Diziam Alá não sei
o que", relatou um dos moradores da área à TV espanhola. Segundo a polícia, avisaram: "Vamos morrer matando".
Assim o fizeram: acionaram
bombas preparadas com parte
dos dez quilos de Goma 2 Eco,
um tipo de dinamite, encontrados
no apartamento que ocupavam,
junto com 200 detonadores.
Detonadores e explosivos são semelhantes aos usados
tanto nos atentados de 11 de março como na tentativa frustrada de
explodir o AVE (o trem espanhol
de alta velocidade) Sevilha/Madri,
na última sexta-feira.
Os explosivos estavam prontos
para serem utilizados, segundo
Acebes, o que significa que novos
atentados estavam sendo preparados pelo grupo.
O policial morto foi enterrado
em Madri, depois de ter sido velado no quartel do GEO em Guadalajara, nos arredores de Madri. A
cerimônia foi acompanhada pelo
premiê José María Aznar e por
seu sucessor no cargo, José Luis
Rodríguez Zapatero.
Trabalhava há 17 anos na polícia
e havia participado na prisão de
outro tipo de terroristas, os do
ETA (Euskadi Ta Askatasuna ou
Pátria Basca e Liberdade), que
mata em nome da independência
do País Basco.
Próximo Texto: Comentário: Com terroristas como "vizinhos", paranóia européia cresce Índice
|