São Paulo, segunda-feira, 05 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

COMENTÁRIO

Com terroristas como "vizinhos", paranóia européia cresce

DO COLUNISTA DA FOLHA, EM BRUXELAS

Uma frase dita por uma moradora de Leganés entrevistada pela TV espanhola resume o pano de fundo que está causando uma verdadeira paranóia não apenas na Espanha, mas em toda a Europa: "É assustador saber que os terroristas podem ser seus vizinhos".
De fato, nenhum dos moradores da rua Carmen Martín Gaite chegou a suspeitar dos novos vizinhos, instalados há três semanas em apartamento do número 40. Só o cerco policial da tarde/noite de sábado, que levou ao suicídio de cinco terroristas, permitiu aos vizinhos descobrir que conviviam não com a segunda linha do terror, mas, segundo a polícia, com dois dos autores dos atentados de 11 de março.
Essa mesma característica foi exibida por outros membros do grupo na chácara que alugaram em Chinchón (nas imediações de Madri), para ali preparar os explosivos que colocariam nos "trens da morte". Nove dias após os ataques, chegaram a fazer um churrasco, que se supõe serviu de comemoração às explosões.
O organizador do churrasco, segundo relato do jornal "El País", foi Jamil Zougam, um dos primeiros a ser preso e até a semana passada tido como o líder do grupo.
Pelo menos a polícia sabia que Zougam não era um cidadão comum, gerente de uma loja de telefonia celular no bairro madrileno de Lavapiés, bem no centro: ele fora investigado, logo após o outro "11" (o 11 de Setembro, dos atentados nos Estados Unidos), como suspeito de integrar o braço espanhol da Al Qaeda.
Mas não chegou a ser denunciado por falta de provas.
Aqui entra a grande falha dos serviços de investigação: preferiam, até o 11 de Setembro, apenas vigiar o que chamam de "células adormecidas" do terror. Conseguiam informações e descobriam vínculos com outros terroristas, ao contrário do que aconteceria se a célula fosse presa. O problema é que, pelo menos na Espanha, a célula "acordou" no dia 11 de março e matou 191 pessoas.
Agora, com base no exemplo espanhol, polícias européias, como a britânica e a italiana, mudaram de tática: na semana passada, em ambos os países, houve batidas policiais de dimensões inéditas, que levaram à prisão suspeitos de estarem preparando atentados.
Mas as prisões revelam que terroristas que "podem ser seus vizinhos" não são apenas de origem árabe. No Reino Unido, os presos são paquistaneses; na Itália, membros do grupo turco "Exército de Libertação do Povo".
É fácil entender a paranóia que se dissemina na Europa e que levou as autoridades italianas a decretar máximo alerta na Semana Santa, pela avaliação de que lugares simbólicos para o cristianismo seriam alvos potenciais. (CR)


Texto Anterior: Guerra ao terror: Líder terrorista está morto, diz Espanha
Próximo Texto: França confisca armas do ETA
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.