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COMENTÁRIO
Com terroristas como "vizinhos", paranóia européia cresce
DO COLUNISTA DA FOLHA, EM BRUXELAS
Uma frase dita por uma moradora de Leganés entrevistada pela
TV espanhola resume o pano de
fundo que está causando uma
verdadeira paranóia não apenas
na Espanha, mas em toda a Europa: "É assustador saber que os terroristas podem ser seus vizinhos".
De fato, nenhum dos moradores da rua Carmen Martín Gaite
chegou a suspeitar dos novos vizinhos, instalados há três semanas
em apartamento do número 40.
Só o cerco policial da tarde/noite
de sábado, que levou ao suicídio
de cinco terroristas, permitiu aos
vizinhos descobrir que conviviam
não com a segunda linha do terror, mas, segundo a polícia, com
dois dos autores dos atentados de
11 de março.
Essa mesma característica foi
exibida por outros membros do
grupo na chácara que alugaram
em Chinchón (nas imediações de
Madri), para ali preparar os explosivos que colocariam nos
"trens da morte". Nove dias após
os ataques, chegaram a fazer um
churrasco, que se supõe serviu de
comemoração às explosões.
O organizador do churrasco, segundo relato do jornal "El País",
foi Jamil Zougam, um dos primeiros a ser preso e até a semana passada tido como o líder do grupo.
Pelo menos a polícia sabia que
Zougam não era um cidadão comum, gerente de uma loja de telefonia celular no bairro madrileno
de Lavapiés, bem no centro: ele
fora investigado, logo após o outro "11" (o 11 de Setembro, dos
atentados nos Estados Unidos),
como suspeito de integrar o braço
espanhol da Al Qaeda.
Mas não chegou a ser denunciado por falta de provas.
Aqui entra a grande falha dos
serviços de investigação: preferiam, até o 11 de Setembro, apenas
vigiar o que chamam de "células
adormecidas" do terror. Conseguiam informações e descobriam
vínculos com outros terroristas,
ao contrário do que aconteceria se
a célula fosse presa. O problema é
que, pelo menos na Espanha, a célula "acordou" no dia 11 de março
e matou 191 pessoas.
Agora, com base no exemplo espanhol, polícias européias, como
a britânica e a italiana, mudaram
de tática: na semana passada, em
ambos os países, houve batidas
policiais de dimensões inéditas,
que levaram à prisão suspeitos de
estarem preparando atentados.
Mas as prisões revelam que terroristas que "podem ser seus vizinhos" não são apenas de origem
árabe. No Reino Unido, os presos
são paquistaneses; na Itália,
membros do grupo turco "Exército de Libertação do Povo".
É fácil entender a paranóia que
se dissemina na Europa e que levou as autoridades italianas a decretar máximo alerta na Semana
Santa, pela avaliação de que lugares simbólicos para o cristianismo
seriam alvos potenciais.
(CR)
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