São Paulo, segunda-feira, 05 de abril de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Nove soldados americanos e um salvadorenho foram mortos em atos contra a prisão de assessor de líder religioso

Levante xiita no Iraque deixa 33 mortos

Ahmad al Rubaye/France Presse
Vestidos de preto, membros da milícia xiita Exército Mehdi celebram ataques a alvos americanos no bairro Sadr City, em Bagdá


DA REDAÇÃO

Um levante xiita em sete cidades do Iraque provocou ontem a morte de pelo menos 33 pessoas. Nove militares americanos morreram em conseqüência de ataques em Bagdá, na região de Najaf e na Província de Anbar.
Os iraquianos protestavam contra a prisão de Mustafa al Yacoubi e o fechamento, determinado na semana passada pelos americanos, do jornal "Al Hawza", de Bagdá, por incitamento à violência contra as tropas da coalizão. Yacoubi, assessor do clérigo xiita radical Moqtada al Sadr, é acusado de estar envolvido na morte de outro religioso, no ano passado.
Em comunicado, Sadr pediu a seus seguidores que "aterrorizassem" o inimigo. "Peço a vocês que não recorram a passeatas porque elas nada valem. Devemos achar outros meios. Aterrorizem o inimigo. Não podemos ficar em silêncio diante de suas violações."
O grupo de Sadr esteve em bastante evidência nos meses após a queda de Saddam Hussein, mas perdeu espaço com a ascensão do aiatolá Ali al Sistani, o principal líder xiita. Até agora, Sadr vinha evitando fazer declarações de apoio a ataques contra as forças da coalizão.

Mais problemas
O endurecimento da posição dos xiitas pode aumentar ainda mais os problemas para as forças da coalizão. Os americanos contam com a colaboração dos xiitas, que representam em torno de 60% da população do país (25 milhões), para contrabalançar a insurgência dos muçulmanos sunitas, concentrada a norte e oeste de Bagdá. Oprimidos durante o regime de Saddam (um sunita), os xiitas exigem que sua maioria seja refletida no governo iraquiano que deve ser instalado após a devolução da soberania pelos americanos em 30 de junho.
Uma batalha de três horas de duração envolvendo integrantes do Exército Mehdi, uma milícia xiita, contra forças iraquianas e da coalizão deixou 20 iraquianos e dois soldados (um salvadorenho e um americano) mortos em Kufa, vilarejo ao norte de Najaf. Ao menos 200 ficaram feridos.
O confronto começou após uma passeata de cerca de 5.000 pessoas perto da base militar administrada pelos espanhóis em Kufa. Segundo testemunhas, a milícia controlava Kufa ao final do dia, com homens armados ocupando delegacias.
Em Bagdá, no começo da noite, aconteceram explosões e tiroteios no bairro de periferia Sadr City, cujo nome é uma homenagem ao pai de Moqtada al Sadr.
Segundo os americanos, a luta começou depois que membros de milícia ligada a Sadr atacaram e tomaram o controle de postos policiais e edifícios governamentais em Sadr City. Milicianos vestidos de preto circulavam pelas ruas.
"A ocupação terminou. Agora somos comandados por Sadr. Os americanos devem ficar longe", gritavam manifestantes.
As forças da coalizão, no entanto, afirmam que reconquistaram as posições "e restabeleceram a segurança ao custo de sete soldados mortos e mais de duas dúzias de feridos".
Em Kirkuk, a explosão de um carro com um terrorista suicida feriu dois soldados americanos que patrulhavam uma passeata pró-Sadr -cinco iraquianos também sofreram contusões. Houve protestos também nas cidades de Basra, Amarah e Nassiriah, onde três militares portugueses e dois italianos foram feridos em um ataque com granada.
Em Samarra (norte), uma bomba explodiu perto de um posto de fiscalização, matando três iraquianos. O Exército americano informou, sem dar maiores detalhes, a morte de mais um marine ontem, vítima de ataque na Província de Anbar.
Uma equipe da ONU liderada por Lakhdar Brahimi, assessor especial do secretário-geral Kofi Annan, chegou ontem a Bagdá para encontro com líderes iraquianos. "Eles irão cooperar no processo de transição", segundo comunicado das Nações Unidas.

Com agências internacionais e "The New York Times"


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