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Fidel volta a criticar álcool e ataca Lula
Em novo artigo, cubano diz que nem brasileiro nem Bush têm respostas para ameaças ambientais e alimentares do programa
Para professor, apesar de maniqueísta, ditador tem bons argumentos e acerta ao questionar retórica ambientalista dos EUA
DA REDAÇÃO
No segundo artigo em menos
de uma semana sobre o tema, o
ditador de Cuba, Fidel Castro,
voltou a atacar ontem o programa do álcool impulsionado por
Brasil e EUA, dessa vez com críticas diretas ao presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
Em texto publicado pelo jornal oficial cubano, o "Granma",
Fidel afirmou que nem Lula
nem o presidente americano,
George W. Bush, responderam
como conseguirão gerar biocombustível suficiente para
substituir, ao menos em parte,
o uso de petróleo e gás, sem pôr
em risco o ambiente e o fornecimento global de alimentos.
Fidel, que desde julho passado se recupera de uma delicada
cirurgia no intestino, comentava a reunião entre Bush e Lula,
no último fim de semana, em
que o programa do álcool foi
discutido. "Não é minha intenção lastimar pelo Brasil, ou me
imiscuir em assuntos relacionados à política interna", começa o cubano.
Depois, argumenta que a empreitada do álcool, em proporções mundiais, condena a população pobre do mundo a
morrer de fome - "significa nada menos que a internacionalização do genocídio", já que as
lavouras seriam redirecionadas
para a produção de álcool e o
preço dos alimentos subiria.
O cubano também cita que
Lula voltou dos EUA sem nenhum aceno na questão das
barreiras comerciais à importação do álcool brasileiro:
"Diante das demandas de seu
visitante brasileiro quanto às
tarifas alfandegárias e subsídios que apóiam e protegem a
produção norte-americana de
álcool, Bush não fez a menor
concessão".
Estratégia
Gilberto Dupas, coordenador-geral do Grupo de Conjuntura Internacional da USP,
considera que, apesar da abordagem "maniqueísta", Fidel foi
"inteligente" ao escolher a cruzada contra o álcool para sua
"ressurreição" -o cubano já
havia abordado o tema em um
artigo há seis dias, o primeiro
que escreveu desde que transferiu "provisoriamente" o governo ao irmão, Raul.
"Fidel Castro, grande produtor de cana que é, aproveitou
para bater no velho grande inimigo escolhendo a tese ambiental que é o foco de Bush. A
temática dele é controvertida,
mas tem aspectos que merecem relevo", afirma Dupas, que
lembra que um dos objetivos de
Bush com o projeto é tentar diminuir seu "passivo" na questão ambiental.
Bush retirou os EUA do Protocolo de Kyoto e as emissões
de gás carbônico crescem nos
EUA. Além disso, Fidel não está
sozinho ao soar o alerta -também o fazem ambientalistas e
economistas, com apelo no
eleitorado americano.
Para José Augusto Guilhon
Albuquerque, fundador do departamento de Ciência Política
e do Núcleo de Relações Internacionais da USP, a escolha de
Fidel revela a importância que
Cuba e Venezuela dão ao tema
e à aproximação entre os EUA e
o Brasil de Lula.
O que quer Fidel, e também
seu aliado Hugo Chávez, diz
Guilhon, é mostrar que não é
possível uma posição de centro,
como a que pretende Lula, de
estar com os EUA e continuar
aliado dos esquerdistas. "É uma
velha tática bolchevista que
tenta imprensar o centro:
quem não está totalmente do
meu lado está contra mim."
Fidel, diz o professor, atua
em dois eixos conectados. O
primeiro no sentido de reforçar
a posição na região do presidente venezuelano, Hugo Chávez, que "desistiu de compartilhar com Lula e com outras lideranças uma certa direção do
latino-americanismo". A segunda meta é apelar à base da
esquerda petista, ainda sua audiência. "É como se dissesse:
"Lula, se já não nos traiu, está
traindo agora'", aponta.
(FLÁVIA MARREIRO)
NA INTERNET - Leia a íntegra do
artigo de Fidel Castro
www.folha.com.br/070941
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