São Paulo, quinta-feira, 05 de abril de 2007

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Fidel volta a criticar álcool e ataca Lula

Em novo artigo, cubano diz que nem brasileiro nem Bush têm respostas para ameaças ambientais e alimentares do programa

Para professor, apesar de maniqueísta, ditador tem bons argumentos e acerta ao questionar retórica ambientalista dos EUA

DA REDAÇÃO

No segundo artigo em menos de uma semana sobre o tema, o ditador de Cuba, Fidel Castro, voltou a atacar ontem o programa do álcool impulsionado por Brasil e EUA, dessa vez com críticas diretas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em texto publicado pelo jornal oficial cubano, o "Granma", Fidel afirmou que nem Lula nem o presidente americano, George W. Bush, responderam como conseguirão gerar biocombustível suficiente para substituir, ao menos em parte, o uso de petróleo e gás, sem pôr em risco o ambiente e o fornecimento global de alimentos.
Fidel, que desde julho passado se recupera de uma delicada cirurgia no intestino, comentava a reunião entre Bush e Lula, no último fim de semana, em que o programa do álcool foi discutido. "Não é minha intenção lastimar pelo Brasil, ou me imiscuir em assuntos relacionados à política interna", começa o cubano.
Depois, argumenta que a empreitada do álcool, em proporções mundiais, condena a população pobre do mundo a morrer de fome - "significa nada menos que a internacionalização do genocídio", já que as lavouras seriam redirecionadas para a produção de álcool e o preço dos alimentos subiria.
O cubano também cita que Lula voltou dos EUA sem nenhum aceno na questão das barreiras comerciais à importação do álcool brasileiro: "Diante das demandas de seu visitante brasileiro quanto às tarifas alfandegárias e subsídios que apóiam e protegem a produção norte-americana de álcool, Bush não fez a menor concessão".

Estratégia
Gilberto Dupas, coordenador-geral do Grupo de Conjuntura Internacional da USP, considera que, apesar da abordagem "maniqueísta", Fidel foi "inteligente" ao escolher a cruzada contra o álcool para sua "ressurreição" -o cubano já havia abordado o tema em um artigo há seis dias, o primeiro que escreveu desde que transferiu "provisoriamente" o governo ao irmão, Raul.
"Fidel Castro, grande produtor de cana que é, aproveitou para bater no velho grande inimigo escolhendo a tese ambiental que é o foco de Bush. A temática dele é controvertida, mas tem aspectos que merecem relevo", afirma Dupas, que lembra que um dos objetivos de Bush com o projeto é tentar diminuir seu "passivo" na questão ambiental.
Bush retirou os EUA do Protocolo de Kyoto e as emissões de gás carbônico crescem nos EUA. Além disso, Fidel não está sozinho ao soar o alerta -também o fazem ambientalistas e economistas, com apelo no eleitorado americano.
Para José Augusto Guilhon Albuquerque, fundador do departamento de Ciência Política e do Núcleo de Relações Internacionais da USP, a escolha de Fidel revela a importância que Cuba e Venezuela dão ao tema e à aproximação entre os EUA e o Brasil de Lula.
O que quer Fidel, e também seu aliado Hugo Chávez, diz Guilhon, é mostrar que não é possível uma posição de centro, como a que pretende Lula, de estar com os EUA e continuar aliado dos esquerdistas. "É uma velha tática bolchevista que tenta imprensar o centro: quem não está totalmente do meu lado está contra mim."
Fidel, diz o professor, atua em dois eixos conectados. O primeiro no sentido de reforçar a posição na região do presidente venezuelano, Hugo Chávez, que "desistiu de compartilhar com Lula e com outras lideranças uma certa direção do latino-americanismo". A segunda meta é apelar à base da esquerda petista, ainda sua audiência. "É como se dissesse: "Lula, se já não nos traiu, está traindo agora'", aponta.
(FLÁVIA MARREIRO)


NA INTERNET - Leia a íntegra do artigo de Fidel Castro www.folha.com.br/070941


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