DO ENVIADO A BUCARESTE

Putin já era o grande personagem da cúpula de Bucareste antes mesmo de seu avião tocar o solo da capital romena. A um mês de deixar a Presidência da Rússia, chegou cercado de enorme expectativa sobre como se comportaria o ex-agente da KGB, no 59º aniversário da aliança militar criada para conter o império soviético.
Sua chegada ao Palácio do Parlamento, sede da cúpula, foi digna de uma estrela pop. Putin foi cercado por jovens romenos, ávidos por autógrafos e uma foto ao lado do presidente russo. "Ele é sexy", disse a estudante Anca, 23, exibindo a assinatura que ocupava quase uma página inteira de seu diário.
Com um sorriso discreto e gestos duros e calculados, Putin acenava para os admiradores enfileirados na porta do palácio, dando a impressão de estar se deliciando com cada minuto de sua despedida da cena internacional como presidente da Rússia.
Mais tarde, na entrevista coletiva em que foi recebido por aplausos discretos e já saudosos de alguns jornalistas russos, admitiu sem modéstia que não costuma decepcionar. "Há um tremor religioso antes de qualquer discurso meu", disse.
O tremor parece ter contagiado a cúpula, que evitou a todo custo pisar nos calos do presidente. E não apenas nos assuntos de peso, como ao rejeitar a inclusão de Ucrânia e Geórgia no plano de adesão da Otan, o que foi considerado um presente de fim de mandato para Putin, mas nos mínimos detalhes do protocolo. A entrevista coletiva foi atrasada para que a bandeira russa fosse posicionada sem ter a bandeira da aliança ao lado.
De pé, no centro do palco do teatro do Parlamento, Putin dispensou a modéstia ao falar de seu governo no Kremlin, que considera ter sido responsável pela "ressurreição da Rússia". E garantiu aos jornalistas que sua saída de cena não tornará a Rússia menos atraente.
"Meu sucessor tem ótima formação", disse sobre seu apoiado Dmitri Medvedev, de quem será primeiro-ministro. "Vocês terão momentos muito interessantes com ele."
Na saída, mais aplausos tímidos e já saudosos. (MN)


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