São Paulo, sábado, 05 de abril de 2008

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Longe da liberdade, Ingrid inspira marcha em Bogotá

Centenas vão às ruas pedir soltura de ex-candidata, mas dia não traz avanços

Guerrilha não dá sinais de que receberá avião francês; Uribe mantém negativa a desmilitarizar zona; Chávez promete agir em silêncio

Maurício Dueñas/France Presse
Manifestação em Bogotá pede a libertação de reféns das Farc

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ

Em mais um dia sem novidades sobre o paradeiro de Ingrid Betancourt, colombianos voltaram ontem às ruas de Bogotá e de outras cidades do país para exigir a libertação da ex-candidata presidencial e de outros seqüestrados pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
A mobilização contou apenas com algumas centenas de manifestantes, sem conseguir alcançar o comparecimento de marchas semelhantes realizadas em fevereiro, contra as Farc, e no mês passado, contra os paramilitares. Ex-reféns das Farc, entre os quais Clara Rojas, ex-companheira de chapa de Ingrid, participaram do ato.
Presente à marcha, o ex-senador Jorge Gechem, solto pelas Farc em fevereiro, defendeu um acordo humanitário. "Mais do que pela liberdade, pela vida dessas pessoas em cativeiro."
Uma das explicações para o baixo comparecimento é que a mobilização, convocada pela ONG Rede de Iniciativas pela Paz e Contra a Guerra, teve pouco apoio dos meios de comunicação, ao contrário da concorrida marcha de 4 de fevereiro, apoiada pelos principais canais de TV e pelo presidente do país, Álvaro Uribe.
Ontem, a maioria dos cartazes trazia imagens e palavras de apoio a Ingrid, 46, cujo precário estado de saúde após mais de seis anos em cativeiro provocou nesta semana uma atabalhoada operação de resgate por parte da França.
Em Paris, a Chancelaria voltou a dizer que o presidente Nicolas Sarkozy está disposto a ir até a selva colombiana para receber Ingrid. Mas as suas gestões para liberar a cidadã franco-colombiana, que incluíram o envio de um avião médico a Bogotá, têm provocado críticas na Colômbia por terem sido feitas sem uma negociação prévia com as Farc (leia texto abaixo).
Astrid Betancourt, irmã de Ingrid, disse que a idéia foi enviar o avião "para ver se a iniciativa provocaria uma reação das Farc". A guerrilha, no entanto, não deu sinais de que deixará nem ao menos que a seqüestrada receba tratamento médico.
Em Caracas, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez afirmou que seguirá tentando a libertação de Betancourt. "Não descansaremos, não vamos falar do tema em público, preferimos atuar, obrigados pelas circunstâncias."
Chávez também disse que as tentativas dos governos colombiano e americano para capturar Iván Márquez, um dos sete secretários das Farc, estavam prejudicando as negociações. Ele contou ter recusado o pedido do colega francês Nicolas Sarkozy para entrar em contato com o guerrilheiro Iván Márquez. "Não facilitarei a caça a um homem."
A pedido de Uribe, Chávez mediou um acordo com as Farc entre agosto e novembro, quando o presidente colombiano interrompeu suas gestões, desatando uma crise diplomática. Em ato de apoio ao venezuelano, a guerrilha liberou unilateralmente seis reféns.
Em Bogotá, o presidente Uribe voltou a dizer que a desmilitarização de dois municípios, exigência das Farc, está fora de questão. Ele também anunciou que revisará a situação jurídica do "chanceler" das Farc, Rodrigo Gandra, libertado no ano passado a pedido de Sarkozy como forma de impulsionar um acordo humanitário.
Anteontem, uma carta de Gandra divulgada na internet disse que a liberação dos 39 reféns políticos só ocorrerá caso o governo liberte guerrilheiros das Farc que estão presos.
A boa notícia de ontem foi que um guerrilheiro das Farc desertou e libertou no sul do país dois reféns "econômicos", ou seja, que estão fora das negociações com o governo.


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