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Isolar Jerusalém vai opor Israel aos EUA, aponta analista
Para Akiva Eldar, meta do novo governo de expandir colônia na Cisjordânia representará o término do processo de paz
Pesquisador da história dos assentamentos defende pressão americana para coibir plano de Netanyahu
LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL
Se implantado, o plano do
novo governo israelense de expandir assentamentos na Cisjordânia, "ilhando" o setor árabe de Jerusalém, vai precipitar
uma crise com Washington.
O diagnóstico é de Akiva Eldar, autor de um livro sobre a
história das colônias judaicas e
editorialista do "Haaretz". Ele
fala com autoridade de quem
atuou dez anos como correspondente diplomático e mais
três na chefia do escritório em
Washington de um dos mais influentes jornais de Israel.
FOLHA - Como a colonização da
área E1 afeta a ideia de
instalar a capital palestina em Jerusalém Oriental?
AKIVA ELDAR - O plano de cercar
a Grande Jerusalém com comunidades judaicas remove
qualquer chance de os palestinos conectarem Jerusalém a
outras partes da Cisjordânia.
Com a construção do muro, na
E1 e outras colônias a Cisjordânia será cortada ao meio. A população palestina cresce rapidamente e eles não têm onde
construir novas casas.
FOLHA - Pode ser imposto um isolamento como o da faixa de Gaza?
ELDAR - Ao menos em Gaza há
unidade territorial, sem assentamentos. Em Jerusalém, o
plano de ampliar colônias não
permitirá a separação entre israelenses e palestinos, em prol
da solução dos dois Estados.
FOLHA - Colonizar E1 é ideia do
premiê, Binyamin Netanyahu, ou do
chanceler, Avigdor Liberman?
ELDAR - É mais antiga. Desde
93, com o Acordo de Oslo, ficou
claro que precisava ser congelada. O plano passou por comitês de planejamento e zoneamento. Todos os premiês sofrem pressão do prefeito de
Maale Adumim, a segunda
maior colônia na Cisjordânia,
para expandir a E1. A meta é ter
3.500 famílias, criar hotéis e
uma zona industrial.
FOLHA - Contempla palestinos?
ELDAR - O governo dirá que, na
área industrial, podem ser criados empregos para palestinos,
não casas. Os assentamentos
são só para judeus.
FOLHA - Onde viveriam os árabes
trabalhadores do parque industrial?
ELDAR - (Risos) Acha que Netanyahu e Liberman se importam? Talvez eles gostariam que
o Brasil os recebesse...
FOLHA - Como seria a reação dos
EUA à expansão dessa colônia?
ELDAR - A rigor, a única razão
para a E1 permanecer no papel
é a pressão americana. Isso
ilustra que, quando os americanos mandam uma mensagem
clara a Israel de que não aceitam novos assentamentos, os
israelenses evitam fazê-lo.
Aconteceu com Netanyahu entre 1996 e 1999, que só fez promessas mas não encostou na
E1. Para os americanos, tal
avanço representará o fim do
processo de paz. Mostrar que o
campo pragmático de Abu Mazen [Mahmoud Abbas] não serve e que o Hamas está 100%
certo, que os israelenses não
querem buscar a terceira via.
FOLHA - Como os EUA limitariam a
ação de Israel?
ELDAR - O presidente Bush pai,
em 1992, disse aos israelenses
que parassem as colônias, para
manter o auxílio econômico.
Israel quis contestar, acabou
sem o dinheiro e o Likud perdeu a eleição. Os americanos
têm muito poder: o povo israelense não aprova seu governo
contrariar os EUA. O premiê
que entrar em crise com os
EUA está fadado ao fracasso.
FOLHA - O que precipitaria uma crise desse porte com os EUA?
ELDAR - Se decidirem construir
na E1, irá precipitar uma crise.
Por isso ainda não foi feito. A
mensagem até mesmo de Bush
[filho], e mais ainda de Obama,
sobre E1 é bem clara: para os
EUA é uma linha vermelha.
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