São Paulo, segunda-feira, 05 de abril de 2010

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Atentados deixam 42 mortos em Bagdá

Triplo ataque atribuído à Al Qaeda mira embaixadas e surge no vácuo de poder que sucede as eleições do mês passado

Indefinição sobre sucessão de atual premiê, que saiu derrotado das urnas, pode favorecer rebeldes; polícia diz ter evitado mais ataques

Thaier al Sudani/Reuters
Autoridades inspecionam local de atentado no bairro de Mansour, que abriga representações diplomáticas e muitas das residências mais luxuosas de Bagdá

DA REDAÇÃO

Atentados coordenados contra representações diplomáticas em Bagdá deixaram ontem ao menos 42 mortos e 220 feridos, num ataque atribuído pelas autoridades ao braço iraquiano da Al Qaeda.
A ação ocorre um dia após homens armados matarem 24 pessoas na periferia da capital, o que aumenta temores de que grupos rebeldes estejam aproveitando o vácuo de poder surgido após a eleição legislativa do último dia 7, na qual nenhum bloco obteve votos suficientes para formar o governo.
Não se sabe quando as atuais conversas entre blocos rivais resultarão em um novo governo, cuja missão será assumir a segurança do país após o fim da já iniciada retirada das tropas americanas, em 2011.
Autoridades temem que esteja se repetindo o cenário que sucedeu o pleito de 2005, quando meses de negociação para a formação de um gabinete afetaram o funcionamento das forças de segurança, permitindo uma explosão da violência.
Os ataques começaram de madrugada, quando foram disparados morteiros contra a Zona Verde, a área ultraprotegida de Bagdá que abriga a Embaixada dos EUA. Não houve feridos.
No final da manhã, três kamikazes lançaram carros-bomba contra alvos estrangeiros com minutos de intervalo. Não está claro quantas vítimas cada ação deixou nem a ordem em que cada uma ocorreu. Também não se sabe se estrangeiros estão entre as vítimas dos ataques.
Dois veículos explodiram no bairro Mansour, que abriga as residências mais luxuosas de Bagdá. Um visou as embaixadas espanhola e alemã, que ficam uma ao lado da outra.
Um segundo carro bomba foi jogado contra a representação do Egito. Ao verem o veículo se aproximando, seguranças atiraram no kamikaze, sem conseguir impedir a explosão.
Um terceiro carro bomba foi acionado em frente à embaixada do Irã, perto da entrada principal da Zona Verde.
A polícia relatou ter impedido um quarto atentado ao atirar no motorista que dirigia uma van com cerca de uma tonelada de explosivos, no bairro comercial de Karrada.
O terrorista, identificado como um rapaz de 17 anos que estaria drogado no momento da ação, foi internado com ferimentos na perna. Peritos levaram horas até desarmar os artefatos no veículo.
A polícia afirmou que um quinto carro bomba explodiu acidentalmente no momento em que terroristas montavam o dispositivo, matando dois deles e ferindo um terceiro.

Ganhos frágeis
Os ataques expõem a fragilidade dos ganhos de segurança observados desde 2006, quando começou a ser implementada uma bem-sucedida estratégia anti-insurgência -cooptação de milícias rebeldes mediante pagamento de salário e reforço do contingente militar americano de combate.
Caiu o número de ataques e de vítimas, mas os rebeldes mantiveram a capacidade de lançar atentados com grande poder de destruição -a maioria contra alvos oficiais.
Os atentados de ontem surgem em meio à fragilidade do governo, já que o premiê Nuri al Maliki tem poucas chances de se manter no cargo. Seu bloco xiita religioso chegou em segundo lugar no pleito legislativa e enfrenta resistência tanto de xiitas seculares como de sunitas e curdos. O bloco que saiu na frente foi o de Iyad Allawi, um sunita apoiado por xiitas.
Segundo analistas, a espera pela posse de um novo governo e pela substituição dos aparatos de segurança favorece os insurgentes, que podem inclusive retomar a estratégia de acirrar as rivalidades sectárias e étnicas em meio às atuais negociações.
"Enquanto houver discordância política, [os terroristas] tentarão lançar operações para jogar os políticos uns contra os outros", disse ao "New York Times" Hadi al Ameri, chefe do Comitê de Segurança do Parlamento. "A mensagem da Al Qaeda é: "ainda estamos aqui"."


Com agências internacionais


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