São Paulo, quarta-feira, 05 de maio de 2004

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IRAQUE OCUPADO

País apura casos de presos maltratados e mortos por americanos no Iraque, no Afeganistão e em Guantánamo

EUA ampliam investigação sobre tortura

RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK

Os EUA anunciaram ontem a ampliação das investigações sobre tortura praticada por militares americanos contra prisioneiros de guerra, inicialmente circunscritas à prisão iraquiana de Abu Ghraib.
Na semana passada, a TV americana CBS deflagrou um escândalo ao divulgar fotos em que soldados dos EUA torturam e humilham presos iraquianos. Ao menos sete militares já foram punidos no caso -nenhum com prisão.
Em meio a pressão de congressistas americanos e críticas externas, o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, afirmou que investigações foram iniciadas para saber se houve atos similares em outros centros de detenção dos EUA, incluindo a base de Guantánamo, onde estão suspeitos de terror.
O Exército dos EUA informou que estão em curso investigações sobre a morte de 25 prisioneiros no Iraque e no Afeganistão.
Segundo fontes militares citadas pela agência Reuters, já se confirmou que dois americanos (um soldado e um civil contratado pela CIA) seriam responsáveis por duas das mortes no Iraque.
No caso do soldado, ele foi condenado por uma corte marcial americana pelo assassinato a tiros de um prisioneiro que havia atirado pedras nele, em setembro de 2003. A punição do militar foi rebaixamento de patente -ele não foi preso. O Exército não divulgou nem seu nome nem a patente.
Já no caso do civil, nenhuma ação legal foi tomada porque ele não fazia parte do Exército. A CIA disse que está investigando o caso.
Uma terceira morte investigada foi considerada homicídio "justificável", porque o prisioneiro estava tentado fugir, segundo as fontes citadas pela Reuters.
O general Donald Ryder, que divulgou alguns detalhes sobre os casos, disse que, das outras 22 mortes, 12 tiveram causas naturais ou indeterminadas e as outras dez -todas no Iraque- ainda estão sendo investigadas.
Para Rumsfeld, esses maus-tratos -que incluem abuso sexual, segundo Ryder- são "totalmente inaceitáveis e não-americanos". O secretário de Estado, Colin Powell, disse que as imagens reveladas pela CBS são "imorais". Segundo a CNN, o presidente George W. Bush sabia das investigações sobre torturas, mas desconhecia a existência das fotos.
Questionado se o escândalo poderia afetar a imagem dos EUA, Rumsfeld disse: "Certamente. Não ajuda". Mas acrescentou: "É, esperamos, um caso isolado".
Congressistas democratas e republicanos fizeram declarações públicas exigindo respostas do governo sobre a origem e a extensão dos atos de maus-tratos.
O senador John Warner, republicano como Bush, disse que "houve alguns incidentes" no Afeganistão. "Não recebemos todos os detalhes, mas ficamos com a impressão de que foram relativamente isolados e certamente em pequeno número", declarou.
O senador Tom Daschle, líder democrata, afirmou que Rumsfeld deveria falar aos senadores até o final da semana.
"Temos de ter um depoimento do secretário sobre como essa situação evoluiu, que ações foram tomadas e que outras podem vir a ser para prevenir que essa situação terrível volte a acontecer", disse o republicano John McCain.
O senador se queixou ainda do fato de o relatório do Pentágono sobre os maus-tratos ter sido liberado para a imprensa antes que fosse enviado ao Senado.
Na tentativa de reduzir o estrago na imagem dos EUA no mundo árabe, a assessora de Segurança Nacional do país, Condoleezza Rice, falou a três TVs árabes.
"Temos um sistema democrático que torna as pessoas responsáveis por seus atos", disse ela à rede Al Jazira. A outro canal, declarou: "O presidente garante que os que cometeram esses atos serão responsabilizados".


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