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AMÉRICA DO SUL
Para o candidato Petkoff, porém, mobilização evitou que país se tornasse uma ditadura
Venezuelano admite erros da oposição
CAROLINA VILA-NOVA
DA REDAÇÃO
Um dos principais críticos ao
governo Hugo Chávez, Teodoro
Petkoff, 74, dono do jornal "Tal
Cual" e candidato à Presidência
da Venezuela, reconhece que a
oposição fez "pouco de bom" para oferecer alternativas no país.
O eleitorado parece reconhecer
isso: segundo pesquisa da consultoria Hinterlaces, divulgada ontem, 70% afirmam querer uma
opção diferente das representadas por Chávez e pela oposição. O
número sinaliza que, a exemplo
das últimas votações, a parcela da
população apelidada de "ni-ni"
("ni una cosa ni otra", na gíria venezuelana) deve ter um papel-chave no pleito de dezembro.
Leia a entrevista dada por Petkoff à Folha ontem, por telefone.
Folha - Chávez está no poder há
oito anos, com alto nível de popularidade, e agora controla um Parlamento sem opositores. Que mea
culpa a oposição venezuelana faz?
Teodoro Petkoff - Que de bom,
fez muito pouco, e de mau, a
maioria das coisas que fez. Chávez
conseguiu manter um vínculo
emocional com uma parte da população. O país está dividido em
duas metades. O tamanho dessas
metades flutua, e há ricos e pobres
dos dois lados. O governo provocou insatisfação em muitos setores, fracassou na luta contra a pobreza e contra o desemprego e desenvolveu um estilo autoritário,
em que os espaços democráticos
são estreitados. Ele não conseguiu
atingir seu objetivo completamente, certamente não se pode
falar de uma situação como a cubana, porque, entre outras coisas,
uma metade do país o enfrentou e
impediu que o país se precipitasse
para uma ditadura totalitária.
Folha - Mas que alternativas a
oposição apresentou?
Petkoff - A oposição é uma coisa
muito grande. Eu não falo de oposição. A única alternativa que encontro sou eu mesmo, candidato
presidencial, baseada na idéia
precisamente contrária à que
adotou a oposição em todos esses
anos. Apresentei um programa,
opções, alternativas ao que se fez.
E com isso, se há uma metade que
já o rejeita [a Chávez], pretendo
convencer uma parte do outro lado de que o país pode ser governado de uma maneira melhor.
Folha - Mas há ao menos outros
cinco candidatos que se apresentam como de oposição a Chávez.
Petkoff - Muito bem. Vamos ver
qual os venezuelanos preferem.
Folha - Chávez criou uma estratégia de influência regional baseada
na diplomacia do petróleo. Como o
sr. avalia essa estratégia?
Petkoff - Como uma estratégia
baseada na arrogância que lhe dá
o poder petroleiro. Uma estratégia que chega ao extremo aberrante de chantagear a toda uma
população, ameaçando romper
relações caso não elejam o candidato que ele prefere, no caso do
Peru. Que chega ao extremo de
vender petróleo a preços preferenciais às prefeituras governadas
pelos sandinistas, que são menos
de um terço das prefeituras na Nicarágua. É um uso politiqueiro do
poder petroleiro com um propósito de intromissão política nas
campanhas eleitorais.
O modo como [Chávez] procedeu em relação à Comunidade
Andina de Nações, sem consultar
seu próprio povo, sem se reunir
com seus homólogos para amenizar a crise; as intrigas que ele tentava desenvolver no Mercosul,
opondo os países pequenos aos
grandes; são relações de uma estratégia que se tornou um nó górdio na América Latina e que somente se sustenta em uma montanha de petrodólares que exacerbaram seu narcisismo.
Folha - A nacionalização decretada por Evo Morales é uma evidência da influência de Chávez?
Petkoff - Não. Morales cumpre
nesse ponto sua campanha eleitoral. Sua posição sobre o tema é conhecida na Bolívia há muito tempo. Não há porque atribuir essa
decisão à influência de Chávez.
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