São Paulo, sexta-feira, 05 de maio de 2006

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AMÉRICA DO SUL

Para o candidato Petkoff, porém, mobilização evitou que país se tornasse uma ditadura

Venezuelano admite erros da oposição

CAROLINA VILA-NOVA
DA REDAÇÃO

Um dos principais críticos ao governo Hugo Chávez, Teodoro Petkoff, 74, dono do jornal "Tal Cual" e candidato à Presidência da Venezuela, reconhece que a oposição fez "pouco de bom" para oferecer alternativas no país.
O eleitorado parece reconhecer isso: segundo pesquisa da consultoria Hinterlaces, divulgada ontem, 70% afirmam querer uma opção diferente das representadas por Chávez e pela oposição. O número sinaliza que, a exemplo das últimas votações, a parcela da população apelidada de "ni-ni" ("ni una cosa ni otra", na gíria venezuelana) deve ter um papel-chave no pleito de dezembro.
Leia a entrevista dada por Petkoff à Folha ontem, por telefone.
 

Folha - Chávez está no poder há oito anos, com alto nível de popularidade, e agora controla um Parlamento sem opositores. Que mea culpa a oposição venezuelana faz?
Teodoro Petkoff
- Que de bom, fez muito pouco, e de mau, a maioria das coisas que fez. Chávez conseguiu manter um vínculo emocional com uma parte da população. O país está dividido em duas metades. O tamanho dessas metades flutua, e há ricos e pobres dos dois lados. O governo provocou insatisfação em muitos setores, fracassou na luta contra a pobreza e contra o desemprego e desenvolveu um estilo autoritário, em que os espaços democráticos são estreitados. Ele não conseguiu atingir seu objetivo completamente, certamente não se pode falar de uma situação como a cubana, porque, entre outras coisas, uma metade do país o enfrentou e impediu que o país se precipitasse para uma ditadura totalitária.

Folha - Mas que alternativas a oposição apresentou?
Petkoff
- A oposição é uma coisa muito grande. Eu não falo de oposição. A única alternativa que encontro sou eu mesmo, candidato presidencial, baseada na idéia precisamente contrária à que adotou a oposição em todos esses anos. Apresentei um programa, opções, alternativas ao que se fez. E com isso, se há uma metade que já o rejeita [a Chávez], pretendo convencer uma parte do outro lado de que o país pode ser governado de uma maneira melhor.

Folha - Mas há ao menos outros cinco candidatos que se apresentam como de oposição a Chávez.
Petkoff
- Muito bem. Vamos ver qual os venezuelanos preferem.

Folha - Chávez criou uma estratégia de influência regional baseada na diplomacia do petróleo. Como o sr. avalia essa estratégia?
Petkoff
- Como uma estratégia baseada na arrogância que lhe dá o poder petroleiro. Uma estratégia que chega ao extremo aberrante de chantagear a toda uma população, ameaçando romper relações caso não elejam o candidato que ele prefere, no caso do Peru. Que chega ao extremo de vender petróleo a preços preferenciais às prefeituras governadas pelos sandinistas, que são menos de um terço das prefeituras na Nicarágua. É um uso politiqueiro do poder petroleiro com um propósito de intromissão política nas campanhas eleitorais.
O modo como [Chávez] procedeu em relação à Comunidade Andina de Nações, sem consultar seu próprio povo, sem se reunir com seus homólogos para amenizar a crise; as intrigas que ele tentava desenvolver no Mercosul, opondo os países pequenos aos grandes; são relações de uma estratégia que se tornou um nó górdio na América Latina e que somente se sustenta em uma montanha de petrodólares que exacerbaram seu narcisismo.

Folha - A nacionalização decretada por Evo Morales é uma evidência da influência de Chávez?
Petkoff
- Não. Morales cumpre nesse ponto sua campanha eleitoral. Sua posição sobre o tema é conhecida na Bolívia há muito tempo. Não há porque atribuir essa decisão à influência de Chávez.


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