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Santa Cruz aprova autonomia em pleito rejeitado por La Paz
Governador da oposição vê "conquista histórica" em projeção de vitória ampla
Morales diz que estimativa de abstenção alta torna a consulta, organizada pelo departamento sem aval judicial, "fracasso rotundo"
Andrés Stapff/Reuters
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Autonomista empunha estaca contra simpatizante de Morales
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A SANTA CRUZ DE LA
SIERRA (BOLÍVIA)
Um controvertido estatuto
que amplia os poderes do governo do departamento boliviano de Santa Cruz, controlado pela oposição, foi aprovado por cerca de 85% dos votos válidos, segundo pesquisas de boca-de-urna. Enquanto o governador Rubén Costas qualificou
o resultado de "a conquista
mais importante da história republicana" da Bolívia, o presidente Evo Morales desconheceu o referendo, que chamou
de "rotundo fracasso".
"Estamos aqui para celebrar
a conquista mais importante da
nossa história republicana. Vocês, com seu voto, consolidaram o início da reforma estrutural de maior transcendência
em nossa pátria", discursou
Costas no início da noite, diante de milhares de pessoas com
bandeiras brancas e verdes, as
cores de Santa Cruz.
Minutos depois, Morales fez
um pronunciamento pela TV
no qual buscou minimizar o resultado do referendo. "Esta
consulta sobre o estatuto autonômico fracassou rotundamente. Esta consulta ilegal e
anticonstitucional não teve o
sucesso esperado por algumas
famílias, alguns grupos de Santa Cruz", disse Morales. "A abstenção de uns 39%, o "não" e os
votos nulos fazem praticamente uns 50%."
De acordo com a boca-de-urna do jornal "La Razón", a abstenção -defendida pelos partidários de Morales- ontem chegou a 40%.
O referendo foi considerado
ilegal pela Corte Nacional Eleitoral e pelo Tribunal Supremo.
Em nota divulgada ontem, as
Forças Armadas reafirmaram
que o estatuto autonômico
"afeta a segurança e a defesa
nacional do Estado boliviano".
O estatuto autonômico, escrito por uma comissão oposicionista, prevê que o governo
departamental de Santa Cruz, o
mais rico do país, assuma várias
áreas hoje nas mãos de La Paz.
Um dos pontos mais criticados
pelo governo é o controle sobre
a política de terras. Para Morales, o objetivo é proteger os latifúndios da região.
O processo eleitoral foi realizado pelo Conselho Departamental Eleitoral (CDE). Controlado pela oposição, foi o responsável pela distribuição das
urnas, organização da segurança e contagem dos votos -o resultado oficial deve ser divulgado a partir de hoje. A jornada
não contou com observadores
eleitorais tradicionais, como da
União Européia e da Organização dos Estados Americanos.
Depois de Santa Cruz, outros
três departamentos governados pela oposição -Pando, Beni e Tarija-, pretendem realizar referendos autonômicos,
em junho. Os quatro governadores prometem implantar os
estatutos de forma simultânea,
embora a viabilidade disso seja
questionada (veja quadro à pág.
A11) e analistas avaliem que seu
objetivo seja negociar com Morales de uma posição de força.
Na noite de ontem, Costas
entregou uma bandeira ao governador de Beni, Ernesto Suárez, simbolizando que é a sua
vez de realizar um referendo.
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