São Paulo, segunda-feira, 05 de maio de 2008

Próximo Texto | Índice

Santa Cruz aprova autonomia em pleito rejeitado por La Paz

Governador da oposição vê "conquista histórica" em projeção de vitória ampla

Morales diz que estimativa de abstenção alta torna a consulta, organizada pelo departamento sem aval judicial, "fracasso rotundo"


Andrés Stapff/Reuters
Autonomista empunha estaca contra simpatizante de Morales

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A SANTA CRUZ DE LA SIERRA (BOLÍVIA)

Um controvertido estatuto que amplia os poderes do governo do departamento boliviano de Santa Cruz, controlado pela oposição, foi aprovado por cerca de 85% dos votos válidos, segundo pesquisas de boca-de-urna. Enquanto o governador Rubén Costas qualificou o resultado de "a conquista mais importante da história republicana" da Bolívia, o presidente Evo Morales desconheceu o referendo, que chamou de "rotundo fracasso".
"Estamos aqui para celebrar a conquista mais importante da nossa história republicana. Vocês, com seu voto, consolidaram o início da reforma estrutural de maior transcendência em nossa pátria", discursou Costas no início da noite, diante de milhares de pessoas com bandeiras brancas e verdes, as cores de Santa Cruz.
Minutos depois, Morales fez um pronunciamento pela TV no qual buscou minimizar o resultado do referendo. "Esta consulta sobre o estatuto autonômico fracassou rotundamente. Esta consulta ilegal e anticonstitucional não teve o sucesso esperado por algumas famílias, alguns grupos de Santa Cruz", disse Morales. "A abstenção de uns 39%, o "não" e os votos nulos fazem praticamente uns 50%."
De acordo com a boca-de-urna do jornal "La Razón", a abstenção -defendida pelos partidários de Morales- ontem chegou a 40%.
O referendo foi considerado ilegal pela Corte Nacional Eleitoral e pelo Tribunal Supremo. Em nota divulgada ontem, as Forças Armadas reafirmaram que o estatuto autonômico "afeta a segurança e a defesa nacional do Estado boliviano".
O estatuto autonômico, escrito por uma comissão oposicionista, prevê que o governo departamental de Santa Cruz, o mais rico do país, assuma várias áreas hoje nas mãos de La Paz. Um dos pontos mais criticados pelo governo é o controle sobre a política de terras. Para Morales, o objetivo é proteger os latifúndios da região.
O processo eleitoral foi realizado pelo Conselho Departamental Eleitoral (CDE). Controlado pela oposição, foi o responsável pela distribuição das urnas, organização da segurança e contagem dos votos -o resultado oficial deve ser divulgado a partir de hoje. A jornada não contou com observadores eleitorais tradicionais, como da União Européia e da Organização dos Estados Americanos.
Depois de Santa Cruz, outros três departamentos governados pela oposição -Pando, Beni e Tarija-, pretendem realizar referendos autonômicos, em junho. Os quatro governadores prometem implantar os estatutos de forma simultânea, embora a viabilidade disso seja questionada (veja quadro à pág. A11) e analistas avaliem que seu objetivo seja negociar com Morales de uma posição de força.
Na noite de ontem, Costas entregou uma bandeira ao governador de Beni, Ernesto Suárez, simbolizando que é a sua vez de realizar um referendo.


Próximo Texto: Rivais se enfrentaram com paus e pedras
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.