São Paulo, quarta-feira, 05 de maio de 2010

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Kirchner é eleito secretário-geral da Unasul

Após retirada de veto uruguaio, ex-presidente é escolhido por consenso; para Lula, argentino é "100% apto" para a função

Político teve seu nome envolvido em denúncias de suborno a empresários que atuaram na Venezuela durante o seu governo


SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A LOS CARDALES (ARGENTINA)

O ex-presidente da Argentina Néstor Kirchner (2003-2007) assumiu ontem a Secretaria-Geral da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), principal bloco político da região, criado em 2004.
Candidato único, Kirchner foi eleito por consenso. "Vou me abster. Não vou emitir nenhuma opinião a respeito", afirmou a presidente Cristina Kirchner, mulher do postulante ao cargo e anfitriã da reunião, realizada em Los Cardales (a 61 km de Buenos Aires).
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi o primeiro a anunciar o voto. "Kirchner tem experiência. Conhece as dificuldades políticas e ideológicas do continente. Está 100% apto a ser um extraordinário secretário-geral da Unasul", disse.
O assessor internacional da Presidência brasileira, Marco Aurélio Garcia, citou o "prestígio" de Kirchner como uma das características que o credenciam ao cargo.
Kirchner ocupa hoje uma cadeira na Câmara de Deputados da Argentina. Ele enfrenta atualmente uma suspeita de associação ilícita no comércio bilateral com a Venezuela durante sua Presidência.
Está sob investigação da Justiça um suposto esquema de cobrança de suborno em negócios empreendidos por empresas argentinas na Venezuela, do qual o então presidente teria ciência e participaria com testas de ferro, segundo algumas versões de acusados de fraude.
Para o governo liderado por sua mulher Cristina, as acusações são "uma infâmia".
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, se referiu ontem a Kirchner como "grande amigo, profundo companheiro, solidário em todos os tempos e todas as dificuldades".
A eleição de Kirchner como secretário-geral foi possível porque o Uruguai reviu o veto com que barrou sua pretensão em 2008, numa retaliação ao conflito entre os dois países em torno da instalação de uma fábrica finlandesa de celulose às margens do rio Uruguai.
No mês passado, a Corte Internacional de Justiça de Haia considerou que o Uruguai infringiu o tratado bilateral sobre o rio ao não avisar a Argentina da intenção de instalar a fábrica, mas autorizou que ela siga funcionando.
Ao anunciar seu apoio a Kirchner, o presidente uruguaio José Mujica, sucessor de Tabaré Vázquez, autor do veto, disse: "Este passo me impõe um custo político".
Manifestantes argentinos impedem há mais de seis anos a passagem na fronteira com o Uruguai em protesto contra a fábrica que julgam poluente. Parte do espectro político e da opinião pública uruguaios discordam da atitude de apoio de Kirchner aos manifestantes.
"Decidimos acompanhar o consenso dos presidentes da América Latina porque aspiramos a progredir com o conjunto dos povos da região, mas em primeiro lugar com o povo argentino, que consideramos não como irmão mas algo mais", afirmou Mujica.


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