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ESCÂNDALO
Gordon Liddy, que organizou a invasão do comitê democrata em 1972, diz que ação da fonte do "Post" foi "desonrosa"
Pivô de Watergate desdenha "Garganta"
PEDRO DIAS LEITE
DE NOVA YORK
Na semana em que acabou um
dos maiores segredos da história
do jornalismo, uma das peças-chave do escândalo de Watergate
disse que a identidade do "Garganta Profunda" -codinome da
fonte central do jornal "The Washington Post" na cobertura do caso- era uma questão menor.
"Nem gastei muito tempo tentando descobrir. Não foi muito
importante", disse à Folha Gordon Liddy, 74, o homem que arquitetou a invasão da comitê do
Partido Democrata em 1972, ação
cuja repercussão levaria à renúncia do presidente republicano Richard Nixon dois anos mais tarde.
Ex-agente do FBI, Liddy era um
dos integrantes da unidade de investigações especiais da Casa
Branca e estava a poucas quadras
do prédio quando os cinco invasores foram presos. Julgado, ficou
quase cinco anos na prisão, mais
de cem dias na solitária.
Passados mais de 30 anos do escândalo, Liddy mantém sua versão dos fatos, considerada por
muitos uma teoria da conspiração.
Segundo ele, seu grupo invadiu
o comitê democrata não para
grampear o local, mas em busca
de provas de uma rede de prostituição que teria elos no local e serviria a políticos do partido. De
acordo com ele, não havia nenhuma intenção política.
Para Liddy, a atitude do ex-número dois do FBI W. Mark Felt
-que era o "Garganta Profunda"- "foi desonrosa naquela
época, é desonrosa agora".
Crítico da mídia norte-americana, o ex-assessor de Nixon hoje
tem um popular programa de
"talk-show" de extrema direita
que é retransmitido por mais de
200 estações de rádio nos Estados
Unidos. Leia a seguir a entrevista
que Liddy concedeu à Folha, por
telefone.
Folha - Como o senhor vê a discussão sobre se o "Garganta Profunda" era um herói ou um traidor?
Gordon Liddy - Acho que traidor
seria uma palavra muito forte. O
que ele fez foi desonroso, foi errado, e se alguém ler o texto [que revelou sua identidade] fica claro
que foi desonroso. Foi por isso
que ele não queria que seu nome
viesse a público. Aparentemente,
velho, fraco, com um infarto e a
mente confusa, sua família o levou a isso pelo dinheiro.
Folha - Mas, passado tanto tempo, ainda é desonroso?
Liddy - Foi desonroso naquela
época, é desonroso agora.
Folha - Sua vida mudou completamente desde então. E em relação
a Watergate, alguma coisa mudou?
Liddy - Não é nada diferente
agora do que era então. O grande
problema é que o público não sabe do que Watergate se tratou na
verdade. [Bob] Woodward e
[Carl] Bernstein [jornalistas que
fizeram as reportagens do "Post"]
escolheram não contar sobre o
que de fato era.
Folha - E o que era?
Liddy - O FBI estava investigando uma rede de prostituição, que
estava vindo do Columbia Plaza,
que ficava do outro lado da rua do
complexo de Watergate. E o FBI
achou uma ligação entre a rede de
prostituição e o quartel-general
do Partido Democrata.
O FBI disse que o elo era uma
mulher, que era uma secretária ou
assistente administrativa. Tanto
que, quando o aparelho de escuta
foi encontrado pelos democratas,
foi achado no telefone de uma
mulher que era uma secretária,
assistente administrativa, não tinha nada a ver com o comando
do Partido Democrata. E toda essa informação está disponível,
nos arquivos, mas eles escolheram manter essa ficção de que era
uma intriga política. Não era.
Folha - Então toda a história era
uma mentira, e o FBI estava certo
ao fazer a investigação em Watergate?
Liddy - Sim, com certeza. É o que
o FBI encontrou.
Folha - E o senhor acha que esse
seu ângulo da história pode ganhar
novo fôlego agora?
Liddy - A mídia não vai publicar,
a mídia continua mantendo esses
segredos.
Folha - O senhor já comparou
uma vez a mídia àquele tio indesejado, "uma coisa infeliz que acontece", na sua expressão.
Liddy - Porque ela não conta a
verdade às pessoas. Mantém em
segredo, por exemplo, a real motivação do caso Watergate.
Folha - E agora, em relação ao
presidente George W. Bush, de direita como o senhor, também mentem sobre ele?
Liddy - A imensa maioria da mídia está muito descontente com o
presidente Bush, porque ela é
muito à esquerda neste país. Há
alguns veículos que não, como o
"Washington Times", que é um
jornal justo, a Fox News, que é balanceada. Mas a maioria é de esquerdistas.
Folha - O senhor alguma vez pensou que Felt fosse a fonte?
Liddy - Não sabia quem era. E
realmente também nem gastei
muito tempo tentando descobrir.
Folha - Por quê, isso era uma
questão menor?
Liddy - Sim, nós sabíamos que
eles tinham várias fontes, as identidades de algumas delas, só não
sabíamos quem era aquela lá. Não
foi muito importante. O editor do
"Washington Post" naquela época, num aniversário do caso, escreveu um artigo dizendo que a
contribuição do "Garganta Profunda" foi muito supervalorizada,
era marginal. E ele era o editor,
deve saber do que estava falando.
Não ia gastar meu tempo tentando descobrir quem era.
Folha - E essa revelação trouxe à
tona alguma lembrança?
Liddy - Não, só que era um homem desonrado, fazendo algo desonrável.
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