|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PROTESTOS
Na Argentina, grupos de pressão popular favoráveis ao presidente se aproximam do poder
Kirchner coloca piqueteiros no governo
MAELI PRADO
DE BUENOS AIRES
A máquina do protesto nunca
esteve tão perto do poder na Argentina. Em meio a uma crise institucional na Bolívia, a Argentina,
como o Brasil, enviou na semana
retrasada um emissário ao país
para se inteirar da situação. Diferentemente do Brasil, entretanto,
que mandou o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, o governo Kirchner
preferiu nomear o líder piqueteiro Isaak Rudnik, funcionário da
Chancelaria do país vizinho.
Além de uma escolha no mínimo pouco ortodoxa, foi um sintoma significativo da proximidade
de uma parcela dos piqueteiros
-grupos de desocupados que se
organizaram para exigir programas sociais e emprego- do presidente Néstor Kirchner.
Não é o único. Além de Rudnik,
que é um dos chefes do grupo piqueteiro Bairros de Pé e que recebe um salário de 1.200 pesos para
ser assessor no Ministério de Relações Exteriores, um outro dirigente piqueteiro do mesmo grupo, Jorge Ceballos, tem um cargo
no Ministério do Desenvolvimento Social argentino.
Mais: durante a gestão Kirchner, apontam especialistas que estudam o fenômeno dos piquetes
na Argentina, comprovou-se que
os grupos de desempregados favoráveis ao presidente receberam
mais incentivos, via programas
sociais e ajuda alimentar, do que
os piqueteiros de oposição.
Os protestos, durante o período,
diminuíram, em parte pelo acercamento com o governo de alguns grupos e em parte por uma
verdadeira "cruzada antipiqueteira" realizada pela mídia argentina, que condenou a atuação de alguns grupos.
"Depois que Kirchner assumiu,
várias coisas mudaram. Seus primeiros gestos políticos, assim como a sua retórica "progressista",
concederam-lhe uma margem de
ação mais ampla em relação a governos anteriores", analisou a socióloga Maristella Svampa, autora
do livro "Entre la ruta y el barrio:
la experiencia de las organizaciones piqueteras".
Já a partir de 1996, aponta, o governo argentino passou a negociar com as organizações piqueteiras, via distribuição de benefícios de programas sociais. "Ainda
que em termos gerais a política de
Kirchner seja de continuar a linha
assistencial de seus predecessores, com todas as conseqüências
negativas que isso tem em termos
de clientelismo, agregou a entrega
de subsídios para projetos produtivos, como a ampliação de panificadoras comunitárias", ressalva
a socióloga.
"Duros" e "brandos"
Os principais grupos piqueteiros que apóiam Kirchner são a Federação de Terras e Vivendas, cujo líder, Luis D'Elía, se autodenomina um "soldado a serviço do
presidente", e a Bairros de Pé, de
Rudnik e Ceballos. Os piqueteiros
comandados por D'Elía foram os
principais beneficiados com a
criação de cooperativas de trabalho para a construção de redes de
água em La Matanza, na Província de Buenos Aires. Esses grupos,
chamados "brandos", têm trânsito fácil na Casa Rosada.
O jornal argentino "La Nación"
publicou recentemente a informação de que foi criado um grupo de diálogo entre o governo e os
piqueteiros que costuma ser chamado de "O Incrível Exército de
Brancaleone". Esse grupo seria liderado pelo secretário-geral da
Presidência, Oscar Parrilli.
Quando o presidente argentino
convocou a população a boicotar
a Shell pela alta nos preços do
combustível, grupos piqueteiros
que apóiam o governo bloquearam vários postos da multinacional. Segundo os jornais locais, foram coordenados pelo governo.
Um dos principais grupos piqueteiros chamados "duros" (de
oposição) é o Pólo Trabalhador,
liderado por Néstor Pitrola.
Texto Anterior: Líder autonomista não crê em conciliação Próximo Texto: Escândalo: Pivô de Watergate desdenha "Garganta" Índice
|