São Paulo, terça-feira, 05 de junho de 2007

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40 anos após guerra, tensão sobe em Israel

Antagonismo em relação à Síria, derrotada na Guerra dos Seis Dias, vêm crescendo nos últimos meses com manobras militares

Países se preparam para eventual confronto; em Israel, analistas acham que risco é baixo, mas defendem negociação com Damasco

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

A Guerra dos Seis Dias, que definiu como nenhum outro acontecimento a agenda do conflito árabe-israelense, completa hoje 40 anos em meio a um clima de tensão regional. Enquanto dois dos antagonistas da guerra, Síria e Israel, realizam exercícios militares com vistas a um confronto, o caos domina os territórios palestinos, e o Irã mantém o tom belicoso contra o Estado judeu.
O jornal mais popular de Israel, "Yediot Ahronot", estampou ontem em letras garrafais e fundo vermelho a seguinte manchete: "Síria se prepara para confronto no verão". Segundo o diário, o Exército sírio realizou recentemente exercícios militares como preparativo para uma guerra contra Israel nos próximos meses (quando o hemisfério norte estará no verão).
Sinais adicionais de escalada militar do outro lado da fronteira, de acordo com o jornal: o Exército sírio adquiriu recentemente sofisticados mísseis terra-ar do Irã e decidiu encurtar seu calendário oficial para dar início antecipadamente às grandes manobras militares que faz todo ano.
Tudo isso, diz o "Yediot Ahronot", que apesar do estilo espalhafatoso é um jornal respeitado no país, é uma reação à percepção em Damasco de que a tensão entre os dois países tende a aumentar nos próximos meses.
Ao mesmo tempo, Israel também continua a se preparar para o pior. Duas indicações do lado de cá: nos últimos meses o Exército israelense realizou grandes manobras militares nas colinas do Golã, no norte do país, território que tomou da Síria justamente na guerra que faz hoje aniversário.
Na semana passada, o chefe do Estado-Maior do Exército, Gabi Ashkenazi, visitou o Comando Norte e se reuniu com oficiais, para discutir a possibilidade de um confronto com a Síria. De acordo com um membro da inteligência israelense consultado pela Folha, todos os planos são defensivos.
"Nossa percepção é a de que [o ditador sírio, Bashar] Assad poderia iniciar uma guerra limitada, não com o objetivo de recuperar o Golã, mas para obter um ganho estratégico ou fortalecer sua imagem no mundo árabe", diz o oficial, sob condição de anonimato.

Assunto dominante
Em Israel, há meses fala-se na "próxima guerra do verão" nas ruas, nos cafés, nos programes de TV e rádio. Não chega a lembrar o clima que antecedeu a Guerra dos Seis Dias, quando a retórica árabe contra Israel atingiu um ponto explosivo, e o líder egípcio, Gamal Abdel Nasser, ordenou a retirada das tropas da ONU do Sinai e bloqueou o acesso de navios israelenses ao mar Vermelho.
Sentindo-se encurralado, Israel decidiu atacar primeiro, obtendo uma vitória fulminante contra três Exércitos árabes em apenas seis dias. Na época, as maiores tensões eram entre Israel e Síria, que disputavam as águas escassas do rio Jordão. Hoje sabe-se que nenhum dos países envolvidos estava interessado em um conflito, mas que foram arrastados para o campo de batalha pela percepção errada da intenção alheia.
Quatro décadas depois, as manobra sírias são mera guerra psicológica ou indicam um plano real de ataque? "Se você tivesse me perguntado isso há dois anos eu diria que um ataque sírio era impossível", disse à Folha Moshe Arens, ministro da Defesa de Israel durante a primeira Guerra do Golfo (1991). "Hoje, com os resultados duvidosos obtidos por Israel na guerra contra o Hizbollah no Líbano, talvez Assad se sinta estimulado a melhorar sua posição no campo de batalha. Ainda assim, eu diria que o risco continua baixo."
Fontes militares israelenses citadas pela imprensa do país estimam que os sírios poderiam estimular ações terroristas na fronteira para provocar uma guerra, caso não haja avanços no plano político. Para evitar uma escalada, o ministro dos Transportes de Israel, Shaul Mofaz, que já foi comandante do Exército e ministro da Defesa, parte hoje para Washington para discutir a reabertura do diálogo com Damasco.
Mofaz defende o início de negociações secretas com a Síria por meio de terceiros, mas o plano esbarra na relutância do premiê israelense, Ehud Olmert, em aceitar o conselho de altos oficiais do Exército, que também são favoráveis a um diálogo com o regime de Assad.
Caso Olmert aceite a idéia, faltará ainda a luz verde de Washington. Informalmente, os americanos têm vetado o descongelamento das negociações entre Síria e Israel por achar que isso daria legitimidade a um regime que, para eles, posiciona-se como um aliado do terrorismo ao apoiar os radicais do Hizbollah e ao permitir a entrada de insurgentes no Iraque através de sua fronteira.
Para Uzi Dayan, general da reserva que foi assessor de segurança nacional de dois governos israelenses, é uma boa idéia voltar a negociar com a Síria, mas sem grandes expectativas. "É ingênuo achar que chegaremos a um acordo de paz no curto prazo, pois as diferenças são grandes demais", disse à Folha."E enquanto negocia, Israel precisa seguir com os preparativos militares, sem esquecer o 11º mandamento no Oriente Médio: seja forte."

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