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GUERRA SEM LIMITES
Os detidos poderão ser condenados à morte e permanecerão presos mesmo em caso de absolvição
EUA levam 6 de Guantánamo a corte militar
JAVIER DEL PINO
DO "EL PAÍS", EM WASHINGTON
Dois britânicos, um australiano,
um sudanês, um iemenita e um
paquistanês serão as primeiras
pessoas que os EUA julgarão em
um tribunal militar construído na
base militar de Guantánamo, na
qual também será erigida uma câmara de execuções.
Os seis foram acusados de crimes ligados ao terrorismo por serem membros da rede Al Qaeda.
O Pentágono só revelou as identidades dos acusados às autoridades de seus países de origem. Paradoxalmente, o Pentágono esclareceu que os detidos continuarão
indefinidamente em Guantánamo -ainda que eles sejam absolvidos no julgamento.
A assinatura do presidente
George W. Bush colocou em marcha um processo que, de acordo
com fontes do Pentágono, avançará com agilidade nas próximas
semanas. Os julgamentos militares poderão começar nos próximos meses.
Antes de dar início ao processo
judicial, o Pentágono precisava
que Bush designasse pessoalmente os detidos que irão a julgamento. Segundo um comunicado do
Departamento da Defesa, o presidente "determinou que há razão
para acreditar que cada um desses
combatentes inimigos fosse
membro da Al Qaeda ou estivesse
implicado em terrorismo contra
os EUA".
Não foram fornecidos os nomes
dos acusados (cidadãos dos EUA
não podem ser submetidos a esses
julgamentos especiais), mas autoridades de vários países identificaram alguns de seus cidadãos
entre os seis nomes da lista. O fiscal-geral do governo australiano,
Daryl Williams, assegurou que há
um cidadão de seu país entre os
primeiros a serem julgados, David Hicks, encarcerado em Guantánamo por lutar do lado do Taleban contra os EUA.
Autoridades britânicas também
disseram que há dois cidadãos do
país entre os seis primeiros julgados, Moazzam Begg e Feroz Abbasi, e prometem lutar "com vigor" para obter acesso aos acusados e participar de sua defesa. Os
outros três acusados, de acordo
com diversas fontes, são do Iêmen, do Sudão e do Paquistão.
Uma vez considerados aptos a
um julgamento militar, o passo
seguinte será a apresentação de
acusações formais contra eles. Para essa tarefa, o secretário da Defesa norte-americano, Donald
Rumsfeld, escolheu seu braço direito, o ultraconservador Paul
Wolfowitz. Esse membro da linha
dura do Pentágono escolherá os
componentes do tribunal.
Os julgamentos, que transcorrerão sob rigoroso sigilo, terão entre
três e sete juízes, trabalhando em
uma sala construída na base de
Guantánamo -ao lado de uma
câmara de execução. O veredicto
de culpa precisa ser aprovado por
dois terços dos votos, mas uma
condenação à morte requer unanimidade entre os magistrados.
Nos EUA, não ocorrem julgamentos militares como esses desde processos contra os comandantes alemães e japoneses após a
Segunda Guerra, há mais de meio
século. No entanto, por decisão de
Bush, sancionada política e judicialmente, os tribunais militares
atuais têm prerrogativas judiciais
muito mais amplas.
Neal Sonnett, presidente da comissão da Ordem dos Advogados
dos EUA que luta pelo respeito
aos direitos dos detidos em Guantánamo, comparou o procedimento a sistemas de países subdesenvolvidos. "O Departamento de
Estado publica, anualmente, um
relatório em que critica países que
conduzem julgamentos militares
secretos. O que ouço sobre os julgamentos aqui soa perigosamente parecido", disse Sonnett, que
defende julgamentos "justos e
transparentes".
Para maior indignação das organizações de defesa dos direitos
civis, fontes do Pentágono esclareceram que, embora um veredicto de culpa e condenação à morte
não comporte apelação, uma absolvição não daria a liberdade aos
acusados.
Os EUA consideram os detidos
"combatentes ilegais", o que permite que eles sejam mantidos prisioneiros após uma eventual absolvição. Isso exaspera grupos de
defesa dos direitos humanos.
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