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São Paulo, sábado, 05 de julho de 2003

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TERROR

Ataque suicida contra mesquita xiita é o pior dos últimos anos; manifestantes reagem incendiando ala de hospital

Atentado no Paquistão mata ao menos 44

DA REDAÇÃO

Um atentado suicida contra uma mesquita xiita lotada em Quetta, no sudoeste do Paquistão, matou ontem pelo menos 44 pessoas e feriu outras 65. Foi o pior ataque desse tipo dos últimos anos no país. Embora nenhum grupo tenha assumido a autoria da ação, a suspeita é que o atentado seja mais um capítulo de duas décadas de rivalidades e disputas entre grupos xiitas e sunitas.
Testemunhas deram versões diferentes sobre como a ação ocorreu. Um fiel xiita disse ter visto dois homens armados atirarem contra pessoas que estavam dentro da mesquita. Em seguida, uma terceira pessoa teria detonado uma bomba. Outra testemunha relatou ter visto dois homens-bomba.
Já o Ministério da Informação declarou que havia três suicidas - dois morreram na hora e outro mais tarde, em decorrência de ferimentos.
"Eu vi corpos transformados em pedaços", disse Khan Ali, 60, que ficou levemente ferido durante a explosão. Ele afirma que estava rezando dentro da mesquita durante a ação.
O ataque provocou diversos protestos pelas ruas de Quetta. Uma multidão de xiitas -alguns disparando tiros para o alto- cercou o hospital para onde os mortos e feridos foram levados, no centro da cidade.
Veículos, lojas e uma seção do hospital foram incendiados. A multidão só começou a se dispersar com a chegada de tropas do Exército, que usaram alto-falantes para anunciar um toque de recolher na cidade.

Reação
O ministro da Informação, Sheikh Rashid Ahmed, disse ontem que ainda é cedo para saber de quem partiu o ataque.
O presidente do Paquistão, general Pervez Musharraf, que está em Paris em visita oficial, prometeu punir os autores do atentado.
"É lamentável que algumas pessoas no Paquistão estejam minando o que o país defende. É lamentável que essa minoria seja capaz de sabotar o sentimento nacional", disse Musharraf.
A ação representa um revés para o presidente paquistanês, aliado-chave da "guerra contra o terror" liderada pelo governo norte-americano. Nos últimos dias, ele esteve na Europa e nos Estados Unidos com o objetivo de acalmar investidores depois de uma série de ataques contra alvos ocidentais no ano passado.
Para Sajid Naqvi, líder do Islami Tehrik, maior grupo político xiita do país e opositor de Musharraf, o ataque foi um "incidente terrorista" organizado "com o conhecimento de órgãos do governo".
"Se esses incidentes não forem impedidos, o terrorismo afundará todo o país", afirmou Naqvi.

Violência religiosa
Centenas de pessoas já morreram nos últimos anos em decorrência de atos violentos envolvendo militantes xiitas e sunitas. Neste ano, houve uma piora da violência depois de uma relativa trégua em 2002.
Há menos de um mês, 11 recrutas da polícia foram mortos e outros nove ficaram feridos quando franco-atiradores abriram fogo contra o veículo em que estavam, também na cidade de Quetta. Todos eram xiitas, que são minoria.
Em fevereiro, nove xiitas foram mortos a tiros em Karachi, cidade portuária no sul do país.
Até recentemente, Quetta não havia sido palco da violência entre grupos rivais muçulmanos, que têm aterrorizado a região de Karachi desde os anos 80.


Com agências internacionais


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