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CONFRONTO
Grupos de direitos humanos apóiam travestis e prostituas; moradores se mobilizam e invocam moral
Direito de prostitutas divide Buenos Aires
AUGUSTO GAZIR
de Buenos Aires
Prostituição legal ou não? Na semana passada, escândalos de corrupção, situação política e econômica ficaram em segundo plano
em Buenos Aires. O debate sobre a
oferta sexual nas ruas da cidade dividiu com a Copa do Mundo a
atenção dos portenhos.
De um lado, moradores de Palermo (bairro de classe média),
mobilizados há meses, invocam a
moral familiar e exigem a proibição da prostituição pública.
Apoiados por entidades de direitos humanos, os travestis e as
prostitutas se organizam para garantir a profissão.
Na última quinta-feira, eles se
encontraram no prédio do Legislativo portenho para fazer lobby
junto aos parlamentares, que votaram modificações no Código de
Convivência Urbana.
As mudanças aprovadas restringiram a prostituição, sem proibir a
oferta sexual nas ruas. Os deputados, insultados pelos manifestantes, tentaram o consenso, mas no
final desagradaram a todos.
A polêmica sobre o tema começou em março deste ano, quando
os legisladores aprovaram o Código de Convivência, que liberava a
oferta sexual pública. As prostitutas trabalhavam na rua, mas eram
inibidas pela extorsão policial.
Agora, elas podem trabalhar em
público, desde que não façam ruído, não pertubem o trânsito, não
hostilizem vizinhos e não andem
com roupas íntimas.
O policial não pode prender a
prostituta que desrespeitar a lei.
Terá de convocar um fiscal da Justiça, que decidirá o que fazer.
Candidato da oposição a presidente, o governador de Buenos
Aires, Fernando de la Rúa, ficou
do lado dos vizinhos e afirmou
que a proposta é "híbrida".
O governo federal também saiu
em defesa dos vizinhos. "O texto é
insuficiente para manter a ordem
e a segurança da cidade", disse
Carlos Corach, ministro do Interior.
Bertolt Brecht
A sessão que votou o novo código foi marcada por tumulto e protestos. Do lado de fora do Legislativo, cem policiais continham a
raiva de travestis e prostitutas que
não entraram por falta de lugar
nas galerias.
Barrados no Legislativo, eles rasgaram os documentos de identidade para reivindicar o direito de
assistir à sessão.
"Somos seres humanos e lutamos para sobreviver, enquanto esses vizinhos se queixam dos ruídos. Parece que há uma diferença", afirmou Paula Rodríguez, da
Associação pela Luta da Identidade Travesti e Transexual.
Os moradores de Palermo distribuíram 5.500 cartazes pela cidade
contra a prostituição. "Estamos
com travas. Travas para dormir,
para andar na calçada, para que
nossos filhos brinquem no bairro", diz a publicidade, que traz a
foto de um travesti.
Em discurso, o deputado da Frepaso (Frente País Solidário) Fernando Finvarb citou o dramaturgo alemão Bertolt Brecht para defender os direitos dos travestis.
"Primeiro, levaram os hippies.
Depois, os travestis. Não me importei. Hoje, eles levaram a mim,
mas já é tarde", disse Finvarb.
"Vai viver na Rússia", gritou
um dos moradores durante a sessão. A resposta de militantes de
entidades de direitos humanos era
chamar de "Hitler" os deputados
contrários à prostituição.
"Invocar nesse caso o direito de
liberdade sexual é o mesmo que
um vendedor de santinhos falar
do direito à liberdade de culto",
afirmou o deputado Jorge Miguel
Srur, da Nova Liderança.
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