São Paulo, domingo, 5 de julho de 1998 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice NO CHIFRE DA ÁFRICA Região, que proclamou independência da Somália em 1991, tem Constituição, Exército e polícia Somalilândia luta para ser reconhecida
ALFONSO ARMADA do "El País", em Hargeissa A Somalilândia tem nome de país imaginário, de conto de fadas oriental. Apesar de ter bandeira, capital, moeda, placas de veículos, Exército, polícia, governo, impostos, Constituição e mais de 2 milhões de habitantes, a Somalilândia é um país inexistente, um objeto político não identificado. Herdeira do protetorado instaurado por Londres em 1886 para proteger o seu encrave de Áden (no atual Iêmen), todas as ousadas iniciativas da antiga colônia britânica da Somalilândia, desde que proclamou-se independente do resto da Somália, em 1991, foram em vão. Nem um único Estado do mundo o reconheceu como país independente, nem mesmo seus vizinhos compreensivos como a Etiópia e a Eritréia. E isso apesar de os 63 mil km2 da Somalilândia serem a única parte da Somália onde foi restabelecida uma autoridade, os tribunais funcionam, existe um banco central e a vida se tornou viável, em meio à aridez de uma paisagem semidesértica povoada por 5 milhões de camelos (um quinto da população mundial do animal). Na Somalilândia, as agências internacionais como a Unicef, que contribuíram para restabelecer o fornecimento de água em Hargeissa e Berbera ou ajudam a manter hospitais e escolas, não se vêem forçadas a pagar pela proteção de jovens armados até os dentes, como continua acontecendo no resto da Somália. Depois da reeleição de Mohamed Ibrahim Egal para a Presidência da Somalilândia, no ano passado, por uma conferência nacional de chefes de clãs e outros notáveis que também aprovou uma das Constituições mais liberais de toda a região, a estabilidade verificada ali permitiu que fossem iniciadas as obras de reconstrução da capital, Hargeissa. A cidade ainda mostra traços do forte bombardeio a que foi submetida em junho de 1988 pela aviação do ditador somali Siad Barre e, depois, dos choques esporádicos ocorridos entre subclãs que desafiavam Egal e se negavam a aceitar que a República da Somália, criada em 1960 a partir da união da Somalilândia britânica com a Somália italiana, havia deixado de existir para sempre. Egal despreza o pacto assinado em janeiro último pelas principais facções somalis no Cairo e rejeita uma possível reunificação com a Somália. "Somos um país com história própria, que já tinha identidade própria quando fazia parte do Império Otomano", afirma. "A comunidade internacional está muito mal informada a respeito de nossa história." O Reino Unido concedeu autonomia a seu protetorado no dia 26 de junho de 1960. A independência durou poucos dias. No dia 1º de julho, a ex-Somália italiana e a ex-Somália britânica se uniram sob o nome de República da Somália. Egal recorda que durante aqueles cinco dias de junho foram recebidos "38 telegramas de chefes de Estado e de países membros do Conselho de Segurança reconhecendo a Somalilândia". Tradução de Clara Allain Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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