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Manhattan e Miami ibéricas expõem excesso à beira-mar
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma enorme investigação do
Ministério Público espanhol
descobriu que dezenas de prefeitos, vereadores, juízes, advogados e funcionários públicos
de seis diferentes Províncias
espanholas receberam presentes da imobiliária Aifos.
De hospedagem em hotéis
cinco estrelas a tratamentos
médicos e de beleza, tudo era
oferecido aos corruptíveis elos
que permitiam construções ilegais da empresa.
O maior foco dessa corrupção é um antigo reduto do jet-set europeu, Marbella, na Costa
do Sol, ao sul do país, onde um
prefeito foi deposto em 2002 e
seus dois sucessores estão presos por corrupção e abusos urbanísticos.
A cidade é uma Miami espanhola, cheia de lojas de luxo,
spas e clínicas de cirurgia plástica. Com apenas 125 mil habitantes, tem a maior concentração de iates da Europa e possui
15 campos de golfe (para se ter
uma idéia, o Estado de São Paulo inteiro tem 38).
O maior palácio da família
real saudita na Europa está lá,
uma versão muito ampliada da
Casa Branca, de Washington,
que abriga até 500 hóspedes.
Em Marbella, há 30 mil casas
e apartamentos irregulares. A
cidade serviu como cenário para festas de contrabandistas
nos filmes "Syriana" (com
George Clooney) e "Munique"
(de Steven Spielberg).
Como uma cantora muito
popular na Espanha, Isabel
Pantoja, namora um dos ex-prefeitos presos (e recebeu depósitos milionários dele), o escândalo imobiliário foi parar na
revista "Hola!", a revista de celebridades que é a bisavó da
"Caras", para delírio de fofoqueiros e paparazzi espanhóis.
Só na operação de Marbella,
86 pessoas já foram presas e
mais de US$ 3 bilhões foram
apreendidos com os corruptos,
de obras de arte a cavalos de raça, de Porsches a jóias.
Outro caso dos exageros à
beira-mar é Benidorm, na Comunidade Valenciana. Com
menos de 70 mil habitantes,
Benidorm se orgulha de ter a
segunda maior concentração
de arranha-céus do mundo por
metro quadrado, depois da ilha
de Manhattan, em Nova York.
É a versão mais rica e kitsch
de Balneário Camboriú. Lá, os
andaimes não param de subir:
um edifício residencial de 200
metros de altura está em construção, maior que o mais alto
hotel da Europa, o local Bali III,
com 52 andares e 186 metros.
Barreiras e demolição
Demorou, mas a sucessão de
escândalos e descalabros urbanísticos e paisagísticos começa
a ser freada. Em Algarrobico,
na Andaluzia, em uma praia
ainda deserta, um solitário hotel de 22 andares quase pronto
foi interditado pelo governo.
Será demolido - e o grupo
Greenpeace pichou o prédio
com letras enormes: "ilegal".
Já em Marbella, o governo
andaluz tirou a competência da
prefeitura em matéria urbanística por mais de um ano, até
que outro prefeito fosse eleito.
Várias prefeituras têm perdido
o direito de legislar sobre o solo, com intervenções regionais
e até do governo nacional.
A melhor notícia para o litoral espanhol, porém, é que provavelmente a bolha da construção imobiliária esteja perto do
fim, ou pelo menos, de uma forte desaceleração, com menos
crédito, preços dos imóveis menos competitivos e maiores
barreiras à construção.
No mês passado, entrou em
vigor a nova Lei do Solo, proposta pelo governo socialista,
que determina 30% do solo residencial para conjuntos habitacionais populares e promove
a participação popular em planos urbanísticos.
Mas os excessos da construção civil e a permissividade de
governos locais ainda servirão
por um bom tempo como
exemplo do que pode acontecer
com outros paraísos naturais.
(RAUL JUSTE LORES)
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