São Paulo, terça-feira, 05 de agosto de 2008

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Pentágono muda foco para "guerra irregular"

Diretrizes privilegiam combate a grupos, não a países

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Quase sete anos após o 11 de Setembro e a menos de seis meses do fim do governo George W. Bush, o Pentágono anuncia a mudança mais profunda dos últimos tempos em sua estratégia geral. Segundo documento tornado público pelo Departamento de Defesa no fim da semana passada, o foco do órgão muda da guerra "convencional" para a "irregular", e grupos terroristas, e não países inimigos, passam a ser a prioridade.
Além disso, o relatório urge que os Estados Unidos optem por parcerias -em lugar de confrontação- com rivais como China e Rússia como maneira de frear a ascensão militar desses países. Recomenda ainda que a opção militar seja coordenada com o "soft power" (poder suave), a persuasão pela diplomacia, cooperação e influência cultural.
O documento é o primeiro sob a gestão de Robert Gates, 64, que em dezembro de 2006 substituiu Donald Rumsfeld como titular da Defesa. Marca uma virada pragmática em relação ao que ficou conhecido como doutrina Rumsfeld, o conjunto de ações prescritas pelo ex-secretário, um dos artífices da Guerra do Iraque.
"Se eu fosse descrever a nova estratégia de defesa nacional em uma palavra, ela seria "equilíbrio'", disse Gates. O balanço a que se refere é entre os dois fronts tradicionais aos quais o país dedica parte importante de seu poderio militar hoje e o que o documento chama de "combate irregular" contra organizações sem Estado, como a Al Qaeda.
As "guerras preventivas" defendidas por Rumsfeld, por exemplo, dão lugar a parcerias dos Estados Unidos com "Estados com pensamentos semelhantes". "A vitória exigirá de nós que apliquemos todos os elementos de poder nacional em parceria com velhos aliados e novos parceiros", afirma o texto, para depois definir:
"O Iraque e o Afeganistão continuam sendo as frentes de batalha centrais, mas não podemos perder de vista as implicações de travar um conflito de longo prazo, episódico, com múltiplas frentes e multidimensional, mais complexo e diverso que o confronto com o comunismo durante a Guerra Fria". Sucessos nos dois países "serão cruciais, mas sozinhos não trarão a vitória."
O chamado "soft power", termo criado pelo professor de Harvard Joseph Nye num livro de 1990, é citado cinco vezes no relatório do Pentágono: as guerras convencional e irregular "podem aparecer individualmente ou em conjunto, aumentando o espectro do combate e mesclando "hard" e "soft power". Em algumas ocasiões, talvez nem saibamos que o conflito está em andamento até que esteja avançado, e nossas opções sejam limitadas".
Tanto o Irã como a Coréia do Norte são citados negativamente, apesar de esforços diplomáticos recentes lançados pelos Estados Unidos em direção aos dois países. Ambos são chamados de "Estados proscritos" e acusados de "ameaçar a ordem internacional".
A versão anterior do documento era de 2005. A atual chega no fim do segundo mandato de Bush, o que causou estranheza entre analistas. Ela "está destinada a ser ultrapassada pelos eventos", disse Michele Flournoy, a presidente do Center for a New American Security, instituto moderado de Washington.


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