São Paulo, sexta-feira, 05 de agosto de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

OPINIÃO

Mercado joga com as brancas e ameaça dar o xeque-mate


A CRISE DE CONFIANÇA FEZ ATÉ A BOLSA DO BRASIL, ONDE O PROBLEMA NÃO É A FALTA DE CRESCIMENTO, DESABAR

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

O frenético xadrez da economia mundial era assim assustadoramente descrito pelo sítio da Eurointelligence, centro de investigação da economia europeia:
"Do ponto de vista do risco-país [índice que o mercado usa para apontar o perigo de calote], Itália e Espanha estão agora na posição em que estavam Irlanda e Portugal quando tiveram que ser socorridos; a Bélgica está onde a Espanha costumava estar faz apenas um mês. E a França subiu para onde costumava estar a Bélgica".
Resumo: se a França, quarta maior economia do mundo, segunda da Europa, entrou no jogo, significa que ninguém está a salvo.
Prova-o o fato de que as Bolsas do mundo inteiro desabaram ontem de novo, inclusive a do Brasil, país em que o problema não é a falta de crescimento, mas o inverso, o risco de superaquecimento.
"O que estamos vendo é uma disseminada crise de confiança", confirma para o jornal britânico "Financial Times" Ed Yardeni, fundador de um grupo de pesquisa que leva seu sobrenome.
O que está no ar, como escreve a colunista do "Financial Times" Gillian Tett, é um certo ambiente Lehman Brothers, banco cuja quebra, três anos atrás, foi o detonante da Grande Recessão que se seguiu: "A maneira pela qual a história da eurozona está se desenvolvendo parece assustadoramente similar ao padrão por trás da turbulência financeira norte-americana do final de 2008", escreveu ela ontem.
Por fim, até o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, cuja missão é defender o rei nesse xadrez, admitiu que a crise da dívida já não se limita à periferia da zona do euro (aliás, só por licença poética pode-se colocar a Itália na periferia do que quer que seja, já que é membro pleno do G7).
E o pior ainda está por vir, ao menos em matéria de desemprego, dizem 47% dos europeus, maioria relativa dos consultados pelo Eurobarômetro nos 27 países da União Europeia.
Nos países já quebrados, o terror é ainda maior: 80% dos portugueses temem uma piora. Esse percentual é de 78% entre os gregos e 60% entre os irlandeses.
Como emprego está indissoluvelmente associado a crescimento e como a falta dele é o pretexto do dia para explicar a queda das Bolsas, fica a sensação de que o xeque-mate pode estar a apenas alguns lances mais.


Texto Anterior: Ação do BC europeu ajuda a espalhar o pânico pelo mundo
Próximo Texto: Bolsa de SP tem 2ª pior queda mundial
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.