São Paulo, quinta-feira, 05 de setembro de 2002

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Embaixadora admite erros dos EUA

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, Donna Hrinak, admitiu ontem que o seu país cometeu "erros no passado" quando se aliou a Saddam Hussein e a Osama Bin Laden -hoje tidos por Washington como inimigos mortais. O mea culpa também se referiu ao apoio dos Estados Unidos a golpes militares na América Latina nos anos 60 e 70.
"Cometemos erros no passado. [Vamos] Seguir cometendo os mesmos erros agora?", declarou Hrinak, em entrevista coletiva em Brasília, ao ser questionada sobre as justificativas que os EUA invocam para iniciar uma eventual guerra contra o Iraque, ainda que o país receba aval do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).
Saddam, ditador iraquiano, foi um conveniente aliado quando o governo Ronald Reagan quis combater o regime fundamentalista do Irã. Ele recebeu apoio americano na guerra do Iraque contra o Irã (1980-1988).
O terrorista saudita Bin Laden, tido como responsável intelectual pelos atentados de 11 de setembro do ano passado, obteve suporte militar dos EUA em 1979. Naquele ano, o terrorista se juntou a grupos fundamentalistas do Afeganistão para combater o domínio da então União Soviética, o que interessava aos EUA.
A embaixadora invocou imperativos de ordem moral para justificar a guerra no Afeganistão, dizendo que as mulheres daquele país sofriam opressão do regime Taleban.
Ao afirmar que é preciso agir contra Saddam, para defender os EUA de eventuais ataques terroristas, argumentou que ele "usa armas químicas contra os curdos", uma minoria étnica.
Hrinak foi lembrada pela imprensa que as mulheres já sofriam nas mãos do Taleban antes de 11 de setembro e que os curdos, faz tempo, são atacados por Saddam. Os EUA decidiram agir no Afeganistão e no Iraque somente após 11 de setembro do ano passado, quando ataques terroristas derrubaram as torres gêmeas do World Trade Center e danificaram o Pentágono.
Hrinak disse existir "debate no governo" dos EUA sobre a conveniência de atacar o Iraque sem aval da ONU. Afirmou que a administração Bush busca esse apoio, mas que a ONU permite ação "em defesa própria".
"Não tomo críticas aos EUA como antiamericanismo. Entre amigos, temos de discutir", disse. Entretanto, afirmou haver "certa tendência de imaginar que temos [os EUA" um plano nefasto para controlar tudo" no planeta.
Hrinak disse que "a guerra contra o terrorismo" deixou em segundo plano prioridades dos EUA em relação à América Latina, mas que deve ser retomada a "agenda hemisférica".


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