São Paulo, sábado, 05 de outubro de 2002

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IRAQUE

Político russo diz que Moscou quer explorar mercado iraquiano no pós-guerra

Rússia e EUA já negociam petróleo

DA REDAÇÃO

A Rússia quer uma fatia do mercado de petróleo iraquiano caso os EUA lancem um ataque para depor o ditador Saddam Hussein, disse ontem um político do alto escalão russo, conselheiro do presidente Vladimir Putin.
"Temos interesse no setor petrolífero da economia iraquiana", disse Mikhail Margelov, líder do comitê de relações internacionais do Conselho da Federação (Câmara Alta do Parlamento russo).
"Quando digo interesse, não quero dizer apenas honrar os contratos já existentes, mas também uma oportunidade para uma cooperação igual e frutífera entre as companhias internacionais de petróleo na privatização do setor petrolífero iraquiano", afirmou.
Margelov, atualmente em visita a Washington, afirmou que a Rússia também tem preocupações sobre a dívida que Bagdá tem a pagar ao país, de entre US$ 7 bilhões e US$ 12 bilhões.
Segundo ele, já há negociações entre Moscou e os EUA sobre eventuais divisões dos lucros numa era pós-Saddam. O petróleo do Iraque, disse Margelov, não deve ser repartido apenas entre um ou dois países. "A competição deve ser aberta a todos."
Suas declarações corroboram denúncias feitas com frequência pelas autoridades iraquianas. Bagdá afirma que o presidente americano, George W. Bush, planeja se apoderar de suas reservas petrolíferas e estaria usando a questão das armas de destruição em massa como justificativa para iniciar uma guerra.
A Rússia tem adotado posição divergente à americana nas discussões em curso no Conselho de Segurança (CS) da ONU. Washington quer a aprovação de uma resolução criando um regime mais rigoroso de inspeção de armas e autorizando o uso da força caso o Iraque se negue a cumprir as determinações da ONU.
Russos, franceses e chineses -todos com direito a veto no CS- afirmam ser contra a inclusão do parágrafo que permite o início de uma campanha militar.
Diplomatas americanos disseram estar trabalhando com o Reino Unido -que apóia Washington- e com a França para superar o impasse e formular documento capaz de agradar a todos.
Paris propõe um processo em duas etapas: primeiro, Saddam teria a chance de colaborar com as inspeções. Só depois, se as missões fracassassem, o CS aprovaria nova resolução autorizando uma campanha militar.
"Nossa impressão é que o Departamento de Estado está buscando um compromisso (...) Eles estão percebendo que a proposta [dos EUA" não é tão popular quanto poderia ter sido", disse um diplomata ocidental na ONU.

Mais acusações
Os EUA renovaram a carga de suas acusações contra Saddam ontem ao divulgar um relatório da CIA que diz que o Iraque continua desenvolvendo secretamente armas químicas e biológicas, além de mísseis de alcance superior ao autorizado pela ONU.
O relato -que não traz grandes novidades em relação ao dossiê divulgado pelo premiê britânico, Tony Blair- diz que Bagdá poderia ter uma arma nuclear dentro de um ano se conseguisse comprar no exterior material físsil.
Bush fará na noite de segunda-feira um discurso à nação de 20 minutos explicando por que os EUA se preparam para agir contra o Iraque. "Alguns podem dizer: "Há muitos bandidos por aí. Por que este [Saddam" é diferente?'", disse um alto funcionário do governo americano. "O presidente vai responder a essa questão."
Segundo uma porta-voz do Departamento da Defesa americano, o Iraque já começou a adotar preparativos para a volta dos inspetores de armas da ONU ao país, escondendo os seus armamentos.
O Iraque chegou a um acordo esta semana com os órgãos responsáveis pelas inspeções de seus arsenais para a retomada dos trabalhos, interrompidos em 1998.
Entretanto o chefe dos inspetores de armas, Hans Blix, e o diretor da Agência Internacional de Energia Atômica, Mohamed El Baradei, que pretendiam enviar uma primeira equipe a Bagdá em 19 de outubro, decidiram aguardar uma definição sobre a nova resolução do CS antes de reiniciar as inspeções.


Com agências internacionais

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