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IRAQUE SOB TUTELA
Para organismo, alteração tardia de regras é "inaceitável" e não condiz com padrões internacionais
ONU ataca mudança em Carta iraquiana
DA REDAÇÃO
A ONU criticou duramente ontem a decisão do Parlamento iraquiano de mudar as regras do plebiscito sobre a Constituição do
país -que, na prática, reduz a
chance de rejeição da Carta pela
minoria sunita- e exortou os legisladores a rever sua decisão.
Com a votação marcada para o
próximo dia 15, os legisladores
iraquianos, majoritariamente xiitas, alteraram as regras do processo na noite do último domingo.
Determinaram que, para ser derrubado, o documento precisa ser
rechaçado por dois terços do total
de iraquianos aptos a votar em
três das 18 Províncias do país. Pela
regra anterior, o veto ocorria com
a rejeição de dois terços dos que
forem às urnas em três Províncias
-um universo menor.
O problema é que o Parlamento
usou dois pesos e duas medidas
para interpretar a legislação provisória do país. A mesma deliberação que
usa para o veto o total de iraquianos aptos a votar determina que,
para o documento ser aprovado, é
necessário o "sim" da metade daqueles que forem às urnas -um
número muito mais factível.
"Eles não podem usar dois padrões para interpretar a mesma
frase", disse José Aranaz, assessor
para assuntos legais do comitê
eleitoral da ONU. "Estão mudando as regras nos 45 minutos do segundo tempo. Expressamos nossa posição à Assembléia Nacional
e ao governo. Dissemos que a decisão é inaceitável e não cumpre
os padrões internacionais. Esperamos que, amanhã [hoje], a situação seja esclarecida."
Um tom abaixo, os EUA ecoaram as preocupações. "Eles têm
de respeitar a lei transitória. Não
só seu texto como seu espírito",
disse o porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack. "Cremos que, seja qual for
o resultado da discussão, ela deva
visar o consenso político."
Barreira aos sunitas
A mudança de última hora tornou mais difícil para a minoria
sunita derrubar a Carta.
Os sunitas têm ampla maioria
em três das Províncias do país e ligeira vantagem em outras duas, o
que lhes daria condição de veto.
Mas, agora, precisam convencer
seu eleitorado a ir às urnas, já que
a abstenção passaria a contar, na
prática, a favor do "sim". E já há
grupos promovendo o boicote.
A facção minoritária discorda
de pontos importantes do documento, como o federalismo e o
papel do islã no Estado. A Carta
foi redigida por um comitê dominado por xiitas, já que os sunitas
boicotaram as eleições legislativas
e acabaram sub-representados.
A intervenção da ONU é a ação
mais firme do organismo no processo político do Iraque desde que
os EUA solicitaram sua ajuda no
processo de transição entre a Autoridade Provisória de Coalizão,
encabeçada por Washington, e
um governo iraquiano eleito.
"Temos de fazer com que entendam que nosso papel é garantir credibilidade ao processo",
disse Aranaz, dando a entender
que, sem recuo, o organismo internacional retirará sua chancela.
Operação americana
Com 2.500 militares, bombardeios e helicópteros, os EUA lançaram a operação River Gate -a
segunda de grande porte em menos de uma semana- no oeste
do país, no primeiro dia do Ramadã, o mês sagrado islâmico.
O comando americano também
anunciou a morte de cinco soldados na região, o que eleva suas
baixas em 30 meses de conflito
para 1.941. Três militares foram
vítimas de uma bomba que explodiu anteontem em uma estrada
em Haqlaniyah. Um marine morreu numa explosão semelhante
em Karabilah, e outro foi morto a
tiros em Taqaddum.
O Parlamento do Iraque aprovou ontem uma lei que prevê a
pena de morte para aqueles condenados por financiar ou "provocar" o terrorismo.
Com agências internacionais
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