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Fantasma da inflação assombra Cristina
Alta de preços e suposta manipulação de índices perseguem candidata argentina
Presidenciável nega que inflação acumulada no ano supere 10%; para analistas independentes, índice é maior que 15% em 9 meses
RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES
Com a crise energética temporariamente abrandada pelas
temperaturas amenas e a falta
de novidades sobre os recentes
escândalos de corrupção, a alta
da inflação passou a ser a principal preocupação eleitoral da
primeira-dama argentina, Cristina Fernández de Kirchner.
O Indec (instituto de estatísticas oficial) divulgou ontem o
índice oficial de inflação de setembro na Grande Buenos Aires, o último antes da eleição
presidencial do próximo dia 28.
Outra vez ele foi questionado: o
0,8% de variação nos preços
apontado pelo instituto é inferior às estimativas de analistas
privados, que apontam uma inflação de até 1,7% no mês.
Os dados do Indec estão sob
suspeita desde o início do ano,
quando o governo interveio no
órgão; a inflação acumulada
oficial de 5,8% em 2007 pode
chegar ao triplo do valor.
A alta de preços e a manipulação dos índices foram dois
dos temas da reunião de Cristina anteontem com empresários brasileiros. Os jornais argentinos destacaram como ápice do encontro uma pergunta
sobre o que ela faria para controlar a inflação, que seria superior a 17% neste ano. A candidata favorita disse que os empresários se equivocaram: a inflação não passará de 10%.
Dívida
O índice de inflação tem sua
importância para as contas argentinas -boa parte dos títulos
da dívida do país se ajustam de
acordo com ele. Mas o que mais
preocupa o governo é o perigo
que a percepção de uma inflação galopante causa no eleitor.
O símbolo máximo da alta
dos preços no país são os vegetais. O governo fez um acordo
para que o quilo da batata não
passe de 1,40 peso (R$ 0,80),
mas nos mercados o produto é
encontrado por até quatro vezes esse valor. O preço do tomate, por sua vez, subiu 300% em
dois meses, e hoje o quilo desse
legume está mais caro que o de
carne bovina, cujo preço é controlado pelo governo.
Além da exploração pela oposição, o tema gera enfrentamentos no próprio governo.
Recentemente, o presidente do
Banco Central, Martín Redrado, afirmou estar "muito preocupado" com a inflação; a observação levou a uma resposta
dura do principal ministro argentino, o chefe-de-gabinete
Alberto Fernández, que disse
que não existe inflação no país.
A disputa chegou à própria
chapa de Cristina, depois que a
diretora do órgão de estatísticas de Mendoza, Província governada pelo candidato a vice-presidente Julio Cobos, contestou um índice difundido pelo Indec. Cobos tentou minimizar o tema, dizendo que a discussão era "técnica".
Ciente de que a perda de credibilidade do Indec atingiu um
nível preocupante, o governo
prepara uma nova metodologia
de medição dos preços, que deve ser acordada com os trabalhadores do instituto, mas só
entrará em vigor depois das
eleições. Não há sinais, porém,
de que haverá mudanças na política de controle inflacionário
no curto prazo.
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