São Paulo, sexta-feira, 05 de outubro de 2007

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Fantasma da inflação assombra Cristina

Alta de preços e suposta manipulação de índices perseguem candidata argentina

Presidenciável nega que inflação acumulada no ano supere 10%; para analistas independentes, índice é maior que 15% em 9 meses

RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES

Com a crise energética temporariamente abrandada pelas temperaturas amenas e a falta de novidades sobre os recentes escândalos de corrupção, a alta da inflação passou a ser a principal preocupação eleitoral da primeira-dama argentina, Cristina Fernández de Kirchner.
O Indec (instituto de estatísticas oficial) divulgou ontem o índice oficial de inflação de setembro na Grande Buenos Aires, o último antes da eleição presidencial do próximo dia 28. Outra vez ele foi questionado: o 0,8% de variação nos preços apontado pelo instituto é inferior às estimativas de analistas privados, que apontam uma inflação de até 1,7% no mês.
Os dados do Indec estão sob suspeita desde o início do ano, quando o governo interveio no órgão; a inflação acumulada oficial de 5,8% em 2007 pode chegar ao triplo do valor.
A alta de preços e a manipulação dos índices foram dois dos temas da reunião de Cristina anteontem com empresários brasileiros. Os jornais argentinos destacaram como ápice do encontro uma pergunta sobre o que ela faria para controlar a inflação, que seria superior a 17% neste ano. A candidata favorita disse que os empresários se equivocaram: a inflação não passará de 10%.

Dívida
O índice de inflação tem sua importância para as contas argentinas -boa parte dos títulos da dívida do país se ajustam de acordo com ele. Mas o que mais preocupa o governo é o perigo que a percepção de uma inflação galopante causa no eleitor.
O símbolo máximo da alta dos preços no país são os vegetais. O governo fez um acordo para que o quilo da batata não passe de 1,40 peso (R$ 0,80), mas nos mercados o produto é encontrado por até quatro vezes esse valor. O preço do tomate, por sua vez, subiu 300% em dois meses, e hoje o quilo desse legume está mais caro que o de carne bovina, cujo preço é controlado pelo governo.
Além da exploração pela oposição, o tema gera enfrentamentos no próprio governo. Recentemente, o presidente do Banco Central, Martín Redrado, afirmou estar "muito preocupado" com a inflação; a observação levou a uma resposta dura do principal ministro argentino, o chefe-de-gabinete Alberto Fernández, que disse que não existe inflação no país.
A disputa chegou à própria chapa de Cristina, depois que a diretora do órgão de estatísticas de Mendoza, Província governada pelo candidato a vice-presidente Julio Cobos, contestou um índice difundido pelo Indec. Cobos tentou minimizar o tema, dizendo que a discussão era "técnica".
Ciente de que a perda de credibilidade do Indec atingiu um nível preocupante, o governo prepara uma nova metodologia de medição dos preços, que deve ser acordada com os trabalhadores do instituto, mas só entrará em vigor depois das eleições. Não há sinais, porém, de que haverá mudanças na política de controle inflacionário no curto prazo.


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