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Na Itália, ex-modelo vira ministra antiprostituição
Mara Carfagna impulsiona lei que criminaliza prática em lugares públicos
"Carfagna tentou fazer uma carreira sexy na televisão. Esperava que ela fosse mais solidária com prostitutas", diz representante da classe
GINA MARQUES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE ROMA
A bela Mara Carfagna, 32
anos, virou a página do calendário no qual posou nua sete
anos atrás. Nas vestes da atual
ministra das Oportunidades
Iguais, ela está esquentando a
política italiana com a ousada
proposta de proibir a prostituição nas ruas do país.
O seu projeto de lei, aprovado
recentemente pelo governo comandado pelo primeiro-ministro Silvio Berlusconi, prevê penas de multa e prisão para as
prostitutas que praticam a atividade em lugares públicos e
seus clientes. Antes mesmo de
ele ser ratificado pelo Parlamento, meretrizes e fregueses
já começaram a ser multados
em cidades como Roma, Pádua,
Vicenza e Verona.
O prefeito de Roma, o pós-fascista Gianni Alemanno, decidiu antecipar a lei e combater
a prostituição a seu modo, ordenando que, "para evitar acidentes de trânsito e tutelar a
decência pública", as prostitutas e os clientes devem ser multados. A ordem municipal, que
entrou em vigor no dia 16 do
mês passado, já puniu mais de
cem pessoas com multas de
200 para prostitutas e clientes.
Na semana passada, as multas
passaram a 500.
O primeiro cliente multado
foi um mecânico de 23 anos
surpreendido por um guarda
municipal enquanto negociava
os serviços de um travesti brasileiro. "Não sabia que havia
um decreto. Nunca mais vou
votar em Alemanno" disse.
A associação nacional União
dos Consumidores protestou:
"Mais uma vez são os consumidores os únicos que deverão
pagar. As prostitutas não pagarão porque são clandestinas".
Segundo o sindicato dos policiais municipais (SULPM), a
norma é confusa demais para
ser aplicada. A ordem do prefeito também proíbe as jovens
de usar vestidos que manifestem de maneira inequívoca a
intenção de atrair ou exercer a
prostituição.
"Compreendemos o esforço
do prefeito, mas agora quem
veste minissaia corre risco"
disse um policial do SULPM.
A representante do Comitê
dos Direitos Civis das Prostitutas, Mônica Rosellini, pediu
um encontro com o prefeito
para conversar sobre a situação, mas ele negou. "Nós só dialogamos com quem combate a
prostituição, e não com quem
representa as prostitutas", disse Alemanno.
Rosellini disse à Folha que
ficou desiludida com a ministra: "Carfagna tentou fazer
uma carreira sexy na televisão.
Depois ela se arrependeu e entrou na política. Esperava que
ela fosse mais solidária com as
prostitutas".
Negócio rentável
Segundo estudos oficiais, estima-se que 70 mil pessoas, um
terço delas estrangeiras, se
prostituam na Itália. Além disso, 65% das prostitutas -das
quais 20% são menores de idade- trabalham nas ruas. Os
clientes são cerca de 9 milhões.
A prostituição produz um lucro
ilegal de 90 milhões por mês.
Os bordéis foram proibidos
na Itália em 1958 com uma lei
que ficou conhecida pelo nome
da autora, a senadora Lina
Merlin. Desde então, não é
considerado crime prostituir-se nas ruas ou em casas particulares, mas é ilegal explorar a
prostituição.
O projeto de lei de Carfagna
propõe autuar a prostituição
em lugares públicos com penas
que variam entre 5 e 15 dias de
prisão e multas de 200 a
3.000 aos clientes e às prostitutas. A exploração sexual de menores de 18 anos poderá ser punida com 6 a 12 anos de prisão e
multas de 15 mil a 150 mil.
As penalidades serão mais severas no caso de menores de 16
anos. Se o menor de idade for
imigrante, ele será deportado
ao país de origem.
Carfagna não explicou o que
acontecerá nos casos nos quais
a prostituição aconteça na própria casa, ao afirmar que "não é
legal, mas também não constitui um crime".
A nomeação de Carfagna como ministra provocou comentários maliciosos na Itália.
Além das fotos nuas do calendário, durante um programa de
televisão em janeiro de 2007,
Berlusconi lhe disse: "Eu me
casaria com você imediatamente, se não fosse casado".
A declaração irritou a mulher do então líder oposicionista, Verônica, que, com uma carta publicada nos jornais exigiu
do marido um pedido de desculpas. Ele se justificou dizendo que se tratava de um período de "turbulência temporária". Após a vitória eleitoral de
abril, Berlusconi nomeou a bela jovem ministra das Oportunidades Iguais.
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