São Paulo, segunda-feira, 05 de outubro de 2009

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"Hóspedes" de embaixada têm de fazer "ginástica" para receber suprimentos

DOS ENVIADOS ESPECIAIS A TEGUCIGALPA

A chegada de comida e mantimentos ao interior da embaixada brasileira é um processo complexo e tão supervisionado como abastecer um familiar em uma prisão. Consome tempo, paciência e, é claro, um pouco de sorte.
Com a lista em mãos, é preciso enfrentar lojas de departamentos e supermercados. Saco de dormir, travesseiro, toalhas, blocos e canetas. Papel higiênico e sabonete. Fora a comida: pizzas, lasanhas, isotônicos e refrigerantes. Em solidariedade aos "aprisionados" na casa, já apelidada do lado de fora de "Big Brother hondurenho", tenta-se levar jogos e, como não poderia faltar em território brasileiro, bolas de futebol.
Com a ajuda de prestimosos hondurenhos, tudo vai para o porta-malas do carro. Em sacolas semiabertas -para facilitar a revista-e divididos em dois grupos: comida de um lado, mantimentos de outro. É preciso escrever o destinatário em cada pacote.
Ao meio-dia, um ajudante espera em frente ao bloqueio que isola a embaixada. Recolhe a comida, que entrará primeiro. Em menos de uma hora as pizzas já estão sendo devoradas.
Difícil é entrar com o "supérfluo": roupas, toalhas e entretenimento. Ao voltar à embaixada, momento de pavor: os entregadores já haviam entrado. Alguns telefonemas depois, um deles volta para recolher o que chegou mais tarde. Com muita paciência, repete o procedimento pelo menos duas vezes em meia hora. Enquanto isso, uma delicada revista é feita pelos militares.
Segundo Andrés Pavón, presidente do Comitê dos Direitos Humanos em Honduras, responsável pelas entregas diárias de comida, os militares não deixam passar bola de futebol, comida enlatada, gel para cabelo, colchonetes, lençóis, lanternas, pilhas, caderno, material de escritório e até um liquidificador.
Mas o item barrado que mais faz falta é o cigarro, cujo valor inflacionou dentro da embaixada. Por exemplo, algumas mulheres cobram 100 lempiras, a moeda local, para lavar uma trouxa de roupa, mas aceitam um maço de cigarro como pagamento, que do lado de fora pode ser comprado por 45 lempiras.
Algum tempo depois do início da revista, a bola de futebol volta. Segundo um dos entregadores, é preciso tentar a cada dia, por a entrada e saída depende do humor do responsável pela liberação.
A bola vai continuar indo e vindo, até que, por descuido, passe na revista. Enquanto isso, nada de pelada na embaixada. (FABIANO MAISONNAVE E ANA FLOR)

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