São Paulo, terça-feira, 05 de outubro de 2010

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Após rebelião, Correa sinaliza recuo

Presidente do Equador analisará mudanças na lei que retirou de policiais benefícios, principal causa do motim

Líder da bancada do governo afirma que nenhum ponto da lei sobre serviço público é considerado "intocável"

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL

A QUITO (EQUADOR)

O governo Rafael Correa e seus parlamentares na Assembleia Nacional anunciaram ontem que o Parlamento analisará projeto para reformar a controversa lei de serviços públicos, estopim de um motim policial na semana passada.
A ministra da Coordenação Política, Doris Soliz, havia dito à Folha, no sábado, que a reforma da lei seria a oportunidade para "revisar as reivindicações de policiais e militares em termos econômicos" e precisar pontos da lei, como o pagamento de aposentadorias com títulos do Estado.
Soliz também confirmou, em comunicado, que o presidente descarta, no momento, acionar a "morte cruzada", a dissolução da Assembleia e convocação de eleições.
Ontem, o líder da bancada do governista Aliança País, Juan Carlos Cassinelli, disse que nenhum ponto da legislação sobre o serviço público é considerado intocável.
"As bonificações por condecoração a policiais e militares foram retiradas porque se considerou um conceito de igualdade. Mas, se avaliarmos que não é assim, pode ser modificado. Depois de um momento tão complicado, é um tema a discutir", disse Cassinelli.
O presidente da Assembleia, o governista Fernando Cordero, também foi conciliador. Por videoconferência transmitida desde Genebra, afirmou que se poderia obter "vantagens da crise" revisando a lei e abrindo "um diálogo nacional".
Além da lei de serviços públicos, Cordero afirmou que a também polêmica lei do ensino superior será revisada.
O discursos conciliadores destoam do tom do presidente Rafael Correa. No sábado, na TV, ele narrou suas quase dez horas no hospital da polícia e também de seu resgate armado.
Explicou detalhes da lei e insistiu que nela estavam previstas compensações a policiais e militares pela retirada de bônus por promoção. Disse que nenhum artigo seria mudado.

INVESTIGAÇÃO
Ontem, o governo afirmou que a operação da Polícia Nacional havia sido normalizada em todo o país -onde vigoraria o Estado de exceção até a 0h de hoje-, ainda que também tenha divulgado medidas de segurança para evitar novos levantes.
Segundo o ministro do Interior, Gustavo Jalkh, os policiais do Regimento 1 de Quito, palco da sublevação de quinta, foram distribuídos entre várias unidades e "já não comandam grupos. Agora estão sob responsabilidades administrativas, com vigilância interna".
Jalkh também afirmou que os policiais que utilizam motos, também identificados em vídeo do motim, tiveram o porte de arma suspenso.
Segundo a imprensa, o governo prometeu aos militares que revisaria a lei -o emissário teria sido o ministro da Defesa, Javier Ponce.
Ao menos uma facção participou da rebelião da semana passada, ainda que o comando militar tenha respaldado o governo.
No dia do levante, Ernesto González, chefe do Comando Conjunto das Forças Armadas, anunciou apoio ao presidente.


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