São Paulo, terça-feira, 05 de outubro de 2010

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Ex-guerrilheiro causa tensão entre Argentina e Chile

Decisão do governo argentino de conceder asilo a chileno acusado de dois crimes provoca revolta em Piñera

GUSTAVO HENNEMANN
DE BUENOS AIRES

O presidente do Chile, Sebastián Piñera, decidiu convocar o embaixador da Argentina em Santiago para expressar a irritação com o governo de Cristina Kirchner.
O mal-estar entre os dois países começou na semana passada, quando a Argentina se negou a extraditar o ex- -guerrilheiro chileno Sergio Apablaza, acusado de planejar, em 1991, o assassinato do senador Jaime Guzmán, aliado político do ex-ditador chileno Augusto Pinochet.
O ex-guerrilheiro, também acusado de sequestrar um empresário, diz que está sendo perseguido politicamente. Ele havia pedido asilo ao governo argentino em 2004.
Na última quarta, a Conare (Comissão Nacional de Refugiados), ligada ao Ministério do Interior, concedeu status de refugiado a Apablaza. O ato provocou atritos com os chilenos e com as próprias autoridades argentinas.
Dias antes da Conare conceder o refúgio, a Corte Suprema de Justiça argentina havia autorizado a extradição de Apablaza por entender que não se tratavam de crimes políticos, já que todos os delitos ocorreram depois da redemocratização do Chile. A oposição argentina também apoiou a extradição.
O presidente chileno protestou contra a decisão do Conare e disse que ela "não ajuda em nada a relação entre Chile e Argentina". Segundo ele, o refúgio "é um golpe e significa um retrocesso na causa dos direitos humanos e da Justiça no Chile".
A decisão, ontem, de convocar o embaixador argentino para manifestar oficialmente o mal-estar foi tomada depois de o presidente se reunir com o embaixador chileno em Buenos Aires.
O julgamento de Apablaza em território chileno se tornou causa nacional. O governo tem apoio de todos os blocos políticos pela extradição.
Já o advogado de Apablaza nega que o país ofereça tribunais imparciais para julgar seu cliente e afirma que as autoridades chilenas não têm nenhuma prova da participação do ex-guerrilheiro nos crimes. Hoje, Apablaza vive em um sítio, na Província de Buenos Aires.
O chanceler da Argentina, Héctor Timerman, sustenta que a Conare toma decisões de forma autônoma, apesar de estar ligado ao Executivo, e negou que a concessão do refúgio possa causar algum tipo de conflito bilateral.
A presidente Cristina, que tem evitado falar sobre o caso, publicou em sua conta de Twitter uma mensagem em defesa do asilo: "Apablaza vive na Argentina desde 1993 e tem três filhos argentinos".


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