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EUA
Entidades de defesa dos direitos humanos, que dizem que a fronteira entre a insanidade total e a parcial é tênue, atacam decisão
Execução de doentes mentais gera críticas
CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK
O governo do Estado do Arkansas decidiu ontem manter a condenação à morte de Charles Singleton, 44. O condenado, que sofre de esquizofrenia paranóide,
tem sido medicado à força para
estar mentalmente apto para ser
executado, segundo um porta-voz do governo do Estado.
O caso de Singleton, que foi
condenado por assassinato e poderá ser executado em janeiro, e o
de James Willie Brown, 55, que seria executado ontem às 22h (horário de Brasília), em Atlanta, e também sofria de esquizofrenia paranóide -segundo seus advogados-, reacenderam a polêmica
sobre a aplicação da pena de morte a doentes mentais nos EUA.
A acusação que pesava sobre
Brown, durante seu julgamento,
era de estupro seguido do assassinato da dançarina Brenda Watson, em 1975. À época, a vítima tinha 21 anos. A esquizofrenia paranóide provoca, entre outros sintomas, alucinações.
Na tarde de ontem os advogados de Brown ainda tentavam
adiar sua execução.
Outras duas aplicações da pena
de morte a criminosos com problemas mentais estão previstas
para ocorrer nos EUA em breve.
A próxima execução prevista é a
de Joseph Keel, 39, que tem o
cumprimento da sentença marcado para a próxima sexta-feira, na
Carolina do Norte. Keel foi condenado pelo assassinato de seu
sogro, em 1990.
Ele já foi submetido a dois julgamentos e condenado à morte em
ambos. A defesa alega que o condenado tem um problema mental
sério e a idade mental de uma
criança de nove anos.
Outro que consta da lista, com
sua execução agendada para 14 de
novembro, é John Dennis Daniels, 46. Daniels foi condenado
pelo assassinado a sua tia de 76
anos, em 1990. Os advogados de
Daniels afirmam que ele tem o
discernimento mental de uma
criança de 11 anos.
"Isso é um erro. Esses homens
têm graves doenças mentais. Não
deveriam ser julgados como adultos com plena capacidade mental", disse à Folha David Elliot, diretor da Coalizão pela Abolição
da Pena de Morte. A organização
sem fins lucrativos faz lobby no
Congresso dos EUA.
De acordo com a Suprema Corte, se o condenado comprovadamente não tiver capacidade de
discernir os seus atos ou até mesmo de compreender por que está
sendo julgado, não será condenado à morte.
Mas, para os ativistas dos diretos civis, a fronteira entre insanidade total e parcial é tênue. "É difícil saber o quanto um paciente
com problemas mentais- em
qualquer nível- tem plena capacidade de responder pelos seus
atos. Doentes mentais deveriam
receber outro tipo de punição em
vez da pena de morte", diz Richard Dieter, diretor da organização Centro de Informação sobre a
Pena de Morte.
Em recente relatório, a organização Human Rights Watch revelou o número de encarcerados
com problemas mentais nos
EUA. Aproximadamente 3.000
prisioneiros nos EUA sofrem de
algum tipo de distúrbio mental.
Isso representa uma proporção
de 1 para cada 6 prisioneiros. Muitos deles, disse o relatório, padecem de doenças graves, como a
esquizofrenia, mas não recebem
tratamento adequado. Mas a instituição não forneceu detalhes sobre o número de doentes mentais
no corredor da morte. Hoje, segundo a Coalizão para a Abolição
da Pena de Morte, 3.704 esperam
para serem executados nos EUA.
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