São Paulo, sexta-feira, 05 de novembro de 2004

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REELEIÇÃO NOS EUA

Após a vitória, o presidente diz ter "grande fé" no desejo de liberdade das pessoas em todo o mundo

Bush promete "promover a democracia"

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O presidente reeleito dos EUA, George W. Bush, estabeleceu como ""ponto central" da política externa de seu segundo mandato transformar Estados autoritários em governos democráticos.
Bush disse ainda que pretende retomar a liderança no processo de paz no Oriente Médio e formar uma "ampla coalizão" para combater o terrorismo.
"Não faz parte do meu pensamento acreditar que algumas sociedades não possam ser livres. Promover a democracia no mundo será o ponto central da minha política externa. Tenho grande fé em que as pessoas queiram ser livres", disse Bush na primeira entrevista coletiva desde a eleição.
Em um recado claro aos governos no golfo Pérsico e à Coréia do Norte, Bush garantiu a realizações de eleições no Iraque em janeiro próximo e afirmou que elas serão "um exemplo" que outros países devem seguir.
"Essa é a melhor maneira de proteger o nosso país: espalhar a democracia pelo mundo. E quando um presidente dos EUA fala, ele precisa ser firme em suas ações para que suas palavras tenham credibilidade", afirmou.

Coalizão antiterror
Bush exortou outros países a criarem uma "ampla coalizão" para combater o terrorismo.
"Sei que tomei decisões difíceis para proteger nosso país e sei que muitas delas não são populares em outros lugares. Mas todos temos de entrar nisso."
"Qualquer país civilizado tem o dever de fazer isso, assim como o de perseguir programas que reduzam a pobreza, a fome e as doenças no mundo", disse, acrescentando que as Nações Unidas devem estar envolvidas nesse processo mais amplo.
Sobre o Iraque, Bush disse que os EUA vão fazer "o que for preciso, com verbas realistas aprovadas pelo Congresso", para concluir a eleição de janeiro.
Questionado sobre o envio ou a retirada de tropas, o presidente respondeu que não tinha "números para discutir".
Bush afirmou que vai se dedicar ao processo de paz no Oriente Médio e voltou a defender a criação de um Estado palestino. "Temos uma nova oportunidade pela frente", afirmou.
No meio da entrevista, o presidente foi informado de que o líder palestino Iasser Arafat (considerado corrupto e não-confiável por Bush) havia "morrido", notícia que posteriormente foi desmentida. "Deus abençoe a sua alma", declarou.
Segundo Martin Indyk, ex-embaixador dos EUA em Israel e especialista em Oriente Médio, a saída de cena de Arafat poderá abrir um "novo caminho"" para o envolvimento dos EUA no processo de paz na região.

"Derramamento de sangue"
Indyk afirma que os EUA devem "agir rapidamente" se quiserem evitar, como conseqüência da invasão do Iraque, "um legado de derramamento de sangue, terror, preços do petróleo nas alturas e o avanço do extremismo religioso".
"Mais do que com o processo entre Israel e Palestina, há uma preocupação generalizada entre os líderes da região com uma nova força do movimento islâmico radical, impulsionada pela invasão do Iraque. Essa é a hora de agir positivamente", diz.
Indyk afirma ainda que os EUA terão de voltar a dialogar diretamente com o Irã neste segundo mandato de Bush. "Se o Irã de fato conseguir armas nucleares, haverá uma corrida de outros países na região na mesma direção. Ela deve ser detida agora."
Do ponto de vista geral, Philip Gordon, diretor de política externa do instituto Brookings, de Washington, afirma que a vitória de Bush "passará ao mundo a mensagem de que os EUA são realmente diferentes", o que pode abrir divisões irreconciliáveis.
"Havia uma esperança de que Bush fosse um acidente. Sua vitória mostra que os EUA de fato mudaram e se tornaram um lugar conservador. A convivência será difícil", afirma.


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