São Paulo, sexta-feira, 05 de novembro de 2004

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Israel se preocupa com enterro e terror pós-Arafat

MICHEL GAWENDO
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE TEL AVIV

O Exército de Israel foi posto em estado de alerta ontem por causa do estado de saúde de Iasser Arafat, mas o governo não se manifestou oficialmente sobre o tema.
A liderança de Israel teme que Arafat seja enterrado em Jerusalém, o que poderia gerar conflitos entre judeus e muçulmanos, e que grupos palestinos culpem Israel pela morte do líder e intensifiquem o terrorismo contra o país.
O ministro da Defesa, Shaul Mofaz, determinou que só palestinos com mais de 50 anos de idade poderão participar das orações muçulmanas em Jerusalém hoje.
O objetivo é evitar que a frustração se transforme em protestos violentos em Jerusalém. Os serviços penitenciários de Israel também estão em estado de alerta para o caso de morte de Arafat, pois as autoridades avaliam que pode haver protesto entre os mais de 4.000 palestinos presos no país.
O premiê Ariel Sharon recusou-se a comentar o estado de saúde de Arafat com base em informações desencontradas. A TV estatal de Israel chegou a anunciar ontem a morte de Arafat, citando a Rádio Monte Carlo e fontes francesas não identificadas. Mas o premiê não a confirmou.
"Instruí meu gabinete a não se manifestar sobre o tema enquanto não houver um anúncio oficial sobre a situação. Não tenho mais nada a dizer", afirmou Sharon em reunião de seu partido, o Likud.
Sharon acusa Arafat de nunca ter desistido do terrorismo e sustenta que não tem com quem negociar no lado palestino. Seu governo rejeita a idéia de que, com a saída do líder e o surgimento de um novo comando palestino, Israel sofrerá pressão dos EUA para remontar o processo político.
"O governo israelense está acompanhando a situação de perto e se preparando na questão de segurança, mas não quer dar a impressão de estar interferindo nos assuntos palestinos. É melhor deixar que eles se organizem sozinhos sem Arafat", disse à Folha Ephraim Kam, vice-presidente do Centro Jaffe de Estudos Estratégicos, da Universidade de Tel Aviv.
Segundo Kam, Israel tem duas preocupações atualmente. A primeira é evitar que Arafat seja enterrado em Jerusalém. "Se isso acontecer, além da chance de conflitos, Jerusalém pode ficar marcada como a capital palestina, o que Israel não quer", disse Kam.
Arafat sempre disse que gostaria de ser enterrado em Jerusalém. Mas Sharon repetiu no começo da semana que não deixaria que ele fosse enterrado na cidade sagrada para muçulmanos, judeus e cristãos. "Enquanto eu for premiê, isso não ocorrerá", disse Sharon.
Israel prefere que o enterro aconteça em um bairro árabe perto da Jerusalém antiga ou em uma propriedade da família de Arafat no campo de refugiados de Khan Yunis, na faixa de Gaza.
A outra preocupação de Israel é a segurança. "Num primeiro momento, acho que haveria uma calma relativa. Mas, em seguida, é provável que terroristas tentem aumentar o número de ataques."
Segundo Kam, o principal alvo dos ataques seriam assentamentos judaicos na Cisjordânia.
"Os grupos terroristas podem querer demonstrar sentimentos de frustração pela morte de Arafat atacando regiões judaicas vulneráveis na Judéia e na Samaria", afirmou, usando os nomes em hebraico para a Cisjordânia.
Já o líder da oposição trabalhista em Israel, Shimon Peres, disse que uma nova liderança palestina começou a ser formada desde que Arafat foi levado para a França e que isso pode resultar em avanço no processo de paz.
Peres, que compartilhou o Prêmio Nobel da Paz com Arafat em 1994, afirmou achar que a nova liderança palestina, encabeçada por Mahmoud Abbas (Abu Mazen) e Ahmed Korei, "parece estar determinada a pôr fim ao terrível problema da nação palestina".
"Os palestinos precisam corrigir o seu principal erro, que foi a tomada da política palestina por terroristas, e espero que o grupo que assumir a liderança entenda isso", afirmou Peres.
Mas, para Kam, a nova liderança palestina ainda terá de "enfrentar oposição interna de grupos radicais e de lutar para assumir o controle sobre todas as facções em Gaza e na Cisjordânia".
"Só quando o poder real do governo palestino ficar claro, Israel poderá pensar em negociar."


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