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Israel se preocupa com enterro e terror pós-Arafat
MICHEL GAWENDO
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE TEL AVIV
O Exército de Israel foi posto em
estado de alerta ontem por causa
do estado de saúde de Iasser Arafat, mas o governo não se manifestou oficialmente sobre o tema.
A liderança de Israel teme que
Arafat seja enterrado em Jerusalém, o que poderia gerar conflitos
entre judeus e muçulmanos, e que
grupos palestinos culpem Israel
pela morte do líder e intensifiquem o terrorismo contra o país.
O ministro da Defesa, Shaul
Mofaz, determinou que só palestinos com mais de 50 anos de idade poderão participar das orações
muçulmanas em Jerusalém hoje.
O objetivo é evitar que a frustração se transforme em protestos
violentos em Jerusalém. Os serviços penitenciários de Israel também estão em estado de alerta para o caso de morte de Arafat, pois
as autoridades avaliam que pode
haver protesto entre os mais de
4.000 palestinos presos no país.
O premiê Ariel Sharon recusou-se a comentar o estado de saúde
de Arafat com base em informações desencontradas. A TV estatal
de Israel chegou a anunciar ontem a morte de Arafat, citando a
Rádio Monte Carlo e fontes francesas não identificadas. Mas o
premiê não a confirmou.
"Instruí meu gabinete a não se
manifestar sobre o tema enquanto não houver um anúncio oficial
sobre a situação. Não tenho mais
nada a dizer", afirmou Sharon em
reunião de seu partido, o Likud.
Sharon acusa Arafat de nunca
ter desistido do terrorismo e sustenta que não tem com quem negociar no lado palestino. Seu governo rejeita a idéia de que, com a
saída do líder e o surgimento de
um novo comando palestino, Israel sofrerá pressão dos EUA para
remontar o processo político.
"O governo israelense está
acompanhando a situação de perto e se preparando na questão de
segurança, mas não quer dar a
impressão de estar interferindo
nos assuntos palestinos. É melhor
deixar que eles se organizem sozinhos sem Arafat", disse à Folha
Ephraim Kam, vice-presidente do
Centro Jaffe de Estudos Estratégicos, da Universidade de Tel Aviv.
Segundo Kam, Israel tem duas
preocupações atualmente. A primeira é evitar que Arafat seja enterrado em Jerusalém. "Se isso
acontecer, além da chance de conflitos, Jerusalém pode ficar marcada como a capital palestina, o
que Israel não quer", disse Kam.
Arafat sempre disse que gostaria de ser enterrado em Jerusalém.
Mas Sharon repetiu no começo da
semana que não deixaria que ele
fosse enterrado na cidade sagrada
para muçulmanos, judeus e cristãos. "Enquanto eu for premiê, isso não ocorrerá", disse Sharon.
Israel prefere que o enterro
aconteça em um bairro árabe perto da Jerusalém antiga ou em uma
propriedade da família de Arafat
no campo de refugiados de Khan
Yunis, na faixa de Gaza.
A outra preocupação de Israel é
a segurança. "Num primeiro momento, acho que haveria uma calma relativa. Mas, em seguida, é
provável que terroristas tentem
aumentar o número de ataques."
Segundo Kam, o principal alvo
dos ataques seriam assentamentos judaicos na Cisjordânia.
"Os grupos terroristas podem
querer demonstrar sentimentos
de frustração pela morte de Arafat
atacando regiões judaicas vulneráveis na Judéia e na Samaria",
afirmou, usando os nomes em hebraico para a Cisjordânia.
Já o líder da oposição trabalhista
em Israel, Shimon Peres, disse
que uma nova liderança palestina
começou a ser formada desde que
Arafat foi levado para a França e
que isso pode resultar em avanço
no processo de paz.
Peres, que compartilhou o Prêmio Nobel da Paz com Arafat em
1994, afirmou achar que a nova liderança palestina, encabeçada
por Mahmoud Abbas (Abu Mazen) e Ahmed Korei, "parece estar
determinada a pôr fim ao terrível
problema da nação palestina".
"Os palestinos precisam corrigir o seu principal erro, que foi a
tomada da política palestina por
terroristas, e espero que o grupo
que assumir a liderança entenda
isso", afirmou Peres.
Mas, para Kam, a nova liderança palestina ainda terá de "enfrentar oposição interna de grupos radicais e de lutar para assumir o
controle sobre todas as facções
em Gaza e na Cisjordânia".
"Só quando o poder real do governo palestino ficar claro, Israel
poderá pensar em negociar."
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