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Mundo não é prioridade de Bush, diz analista
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
O restante do planeta, sobretudo os europeus, deverá entender
que o governo do presidente reeleito dos EUA, George W. Bush,
continuará a privilegiar a segurança nacional do país e a utilizar
as ferramentas que considera necessárias para garanti-la.
A explicação é de John Hulsman, diretor de pesquisas da Fundação Heritage (situada em Washington), um dos mais influentes
centros de pesquisas conservadores dos EUA, e especialista em relações transatlânticas e em política externa americana.
Até a última terça, havia, em boa parte do planeta, um sentimento de que a primeira vitória de Bush
fora uma anomalia
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Para ele, Bush foi reeleito porque é considerado mais apto a
protagonizar a guerra ao terror.
"No que tange ao amplo tema da
guerra ao terror, Bush manteve
uma liderança de ao menos 12
pontos percentuais em todas as
pesquisas realizadas durante a
campanha eleitoral", afirmou.
Leia a seguir trechos de sua entrevista, por telefone, à Folha.
Folha - Qual será o impacto da
confortável vitória de Bush sobre
as relações internacionais?
John Hulsman - Até a última terça-feira, havia, em boa parte do
planeta, um sentimento de que a
primeira vitória de Bush fora uma
anomalia, uma aberração, pois a
eleição de 2000 fora uma experiência francamente bizarra.
Sua reeleição, todavia, põe fim à
idéia de que Bush foi um presidente acidental. Independentemente da nacionalidade, as pessoas são agora compelidas a entender que as únicas questões nas
quais Bush sempre esteve à frente
de [John] Kerry [candidato democrata] nas pesquisas são a política externa e a segurança nacional, e ele insistiu nesses assuntos
porque acredita ser o mais apto a
liderar o país nessas áreas.
No que tange ao amplo tema da
guerra ao terror, Bush manteve
uma liderança de ao menos 12
pontos percentuais em todas as
pesquisas realizadas durante a
campanha eleitoral. Em parte, essa tendência se deve à péssima
atuação dos democratas durante
a Guerra do Vietnã. Assim, eles
estão atrás nas pesquisas relacionadas à segurança nacional desde
o início da década de 70.
Com a reeleição de Bush, os franceses são menos influentes aqui em Washington que meu estagiário
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No que se refere a questões de
guerra e paz, a população americana ainda não confia neles. Ademais, vale lembrar que a eleição
deste ano foi o primeiro pleito
presidencial desde o 11 de Setembro e o início da guerra ao terror.
Com isso, a fraqueza democrata
nessa área e o clima gerado pelos
atentados favoreceram os republicanos. Afinal, são eles que dizem que a segurança nacional
americana deve ser primordial.
Isso não significa que os EUA devam entrar em conflito com o restante do planeta, mas quer dizer
que sua segurança nacional não
deve ser negligenciada.
Folha - Podemos prever a existência de novos ataques preventivos dos EUA nos próximos anos?
Hulsman - Trata-se de uma possibilidade que não pode ser descartada. Os EUA têm o mais poderoso aparato militar do planeta
e não devem relegar ao segundo
plano a opção militar. Contudo é
pouco provável que haja ataques,
já que a situação no Iraque tem-se
mostrado bastante complexa.
Por outro lado, ações preventivas ainda fazem parte do leque de
opções do governo. Para Bush,
numa era em que terroristas podem decidir atacar os EUA com
uma bomba suja carregada de
componentes nucleares, não há
tempo para esperar uma decisão
da ONU. Deve-se frisar que ela
não conseguiu tomar uma decisão sobre Saddam Hussein [ex-ditador iraquiano] em nove meses de debates e de negociações.
Curiosamente, durante a campanha eleitoral, Kerry disse concordar com o fato de que ataques
preventivos devem ser uma das
ferramentas da política externa
dos EUA. Não se trata da única
ferramenta americana, no entanto ela não pode ser descartada,
visto que a segurança nacional do
país está em jogo.
Folha - A atual crise iraquiana
tem solução plausível?
Hulsman - Precisamos encontrar
interlocutores legítimos entre os
iraquianos, pessoas que gozam de
legitimidade política aos olhos da
população. Não devemos apontar
a liderança iraquiana, pois a população do país deve escolher
seus próprios líderes políticos.
É por isso que as eleições marcadas para janeiro são tão importantes. O processo de transição só
terá sucesso se as eleições forem
bem-sucedidas. Se isso ocorrer, o
problema de segurança permanecerá em condições de ser administrado. Caso contrário, o problema de segurança sairá do controle americano. É crucial ter em
mente que a solução para a crise
iraquiana é política, não militar.
Folha - Como o sr. vê a evolução
das relações transatlânticas?
Hulsman - A distância entre a
Europa e os EUA será mantida,
embora ambas as partes busquem
uma reaproximação. Os britânicos e os franceses sempre se opuseram no que concerne ao modo
como lidar com os americanos.
Londres pensa que os europeus
devem trabalhar com os EUA para poder influenciar suas políticas, agindo de modo construtivo
para influir nas grandes decisões
da política externa americana.
Já Paris crê que essa posição seja
errada e que seja necessário construir um pólo de poder europeu
para equilibrar a força americana.
Com a reeleição de Bush, os franceses são menos influentes aqui
em Washington que meu estagiário. Afinal, ele faz pesquisas para
meus textos, que são lidos pelos
ocupantes da Casa Branca. A diplomacia francesa não significa
nada em Washington.
Tony Blair [premiê britânico],
por sua vez, é um dos conselheiros mais próximos de Bush, embora viva em Londres. Assim, os
europeus deverão adaptar-se ao
fato de que o governo dos EUA
tem a segurança nacional como
prioridade. Eles terão de aprender
a lidar com os americanos.
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