São Paulo, sexta-feira, 05 de novembro de 2004

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REELEIÇÃO NOS EUA

Animados com a vitória de Bush, partidários à direita do presidente esperam emplacar agenda antiliberal

Conservadores agora querem sua "revolução"

DAVID D. KIRKPATRICK
DO "NEW YORK TIMES"

Exultantes com suas vitórias nas eleições, os partidários conservadores do presidente Bush imediatamente começaram a planejar missões integradas a uma ambiciosa agenda de objetivos longamente acalentados, entre os quais a privatização do seguro social, a proibição ao casamento homossexual, a reforma da Suprema Corte e a derrubada das decisões do tribunal que sustentam o direito ao aborto.
"Agora vem a revolução", disse Richard Viguerie, especialista em campanhas políticas conservadoras via mala direta, a cerca de 12 veteranos do seu movimento reunidos em torno de um televisor aqui, computando os resultados para o Senado, no comecinho da manhã. "Se não implementarmos uma agenda conservadora agora, quando?"
Pela metade do dia, porém, a briga pelos espólios já começara, com os conservadores debatendo o veredicto do pleito quanto à Guerra do Iraque, os gastos do governo Bush e o vigoroso apoio da administração a causas sociais tradicionalistas.
Os cristãos conservadores, tanto católicos quanto protestantes, estavam na frente da fila, em defesa de seus objetivos, com pesquisas que indicavam que uma pluralidade de eleitores de Bush definia os "valores morais" como questão mais importante, e alegando que uma campanha para proibir casamentos homossexuais havia estimulado um maior comparecimento de eleitores às urnas do Ohio.
"Não se equivoquem os conservadores cristãos e os eleitores preocupados com valores deram essa vitória a George W. Bush e aos republicanos do Congresso", escreveu Viguerie em memorando enviado a outros conservadores proeminentes. "É crucial que a liderança republicana não se esqueça disso por mais que alguns deles devam tentar", disse.
"Os liberais, muita gente na mídia e no seio do Partido Republicano estão instando o presidente a "unir" o país descartando os aliados que lhe valeram mais quatro anos no governo", prosseguiu Viguerie. "Estão insistindo que ele descarte a nós, os católicos e protestantes conservadores, pessoas para quem os valores morais são a questão mais importante".
James Dobson, fundador da Focus on the Family e influente protestante evangélico que pela primeira vez expressou apoio a um candidato à presidência e trabalhou para fortalecer o comparecimento dos cristãos conservadores, disse ter feito um alerta a um "agente da Casa Branca" que ligou na manhã de quarta-feira para agradecê-lo pelo apoio.
Dobson disse que depois de informar ao sujeito que muitos cristãos acreditavam que o país estava "à beira da autodestruição" por abandonar os valores familiares tradicionais, argumentou que "por meio da oração e do envolvimento de milhões de evangélicos, protestantes e católicos tradicionais, Deus nos livrou do mal".
"Mas acredito que não por muito tempo", prosseguiu, acrescentando que os conservadores agora tinham quatro anos para aprovar uma emenda proibindo o casamento homossexual, pôr fim ao aborto e à pesquisa com células-tronco de embriões, e acima de tudo para alterar a composição da Suprema Corte. "Acredito que o governo Bush precise agora ser mais agressivo na promoção desses valores, e caso não o faça creio que pagará o preço dentro de quatro anos", disse, em referência ao Partido Republicano.
Dobson e diversos outros conservadores cristãos disseram acreditar que o aumento da maioria republicana no Senado e a derrota do líder da bancada democrata no Senado, Tom Dachsle, os colocavam em posição favorável tanto para propor uma emenda constitucional que proíba os casamentos homossexuais quanto para aprovar um número suficiente de juízes conservadores para a Corte Suprema, com o objetivo de derrubar a decisão do caso Roe vs. Wade, e outros processos que estabeleceram o direito ao aborto.
"Creio que isso seja uma verdadeira possibilidade", disse o senador Sam Brownback, republicano do Kansas e campeão de causas sociais conservadoras. Enquanto isso, diz, espera também poder aprovar outras idéias defendidas pelos conservadores este ano, entre as quais uma "lei de conscientização sobre a dor das crianças não nascidas", requerendo que haja uma oferta compulsória de anestesia para o feto no caso de algumas mulheres que procuram abortos.


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