São Paulo, domingo, 05 de novembro de 2006

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ELEIÇÕES NOS EUA / VIZINHOS

Democrata ou republicano, Congresso ignora Brasil

Prioridade será investigar Bush e Iraque; América Latina seguirá em segundo plano

Com atenção voltada para a guerra ao terror, interesse na região deve se manter restrito ao México, a Cuba, à Venezuela e à Colômbia

Ricardo Stuckert-17.jul.2005/Efe
Lula cumprimenta Bush durante cúpula do G8 em San Petersburgo: sem aproximação até 2008


DE WASHINGTON

Se os democratas ganharem o Congresso na eleição desta terça-feira, uma das prioridades não será o Brasil -nem a América Latina. Se os republicanos mantiverem o controle, uma das prioridades continuará não sendo o Brasil -nem a América Latina. O desprezo pela região no Legislativo norte-americano é um ponto de união entre os dois partidos.
Levem uma ou duas das Casas legislativas, os democratas passarão os próximos dois anos investigando cada passo dado por George W. Bush em sua guerra contra o terrorismo, especialmente o episódio iraquiano. Contratos serão revistos, comissões serão criadas, e a Casa Branca poderá ficar parcialmente paralisada.
Nesse sentido, o Brasil só ganhará importância se um dia for comprovado que há realmente atividade terrorista na zona da Tríplice Fronteira, com o Paraguai e a Argentina -o que parece pouco provável que aconteça.
Caso contrário, o interesse do Congresso dos EUA na América Latina continuará restrito ao México, pela proximidade, a Cuba e à Venezuela, pela posição ideológica, e à Colômbia, por causa da manutenção do plano antidrogas. A Colômbia é o país que mais recebe verbas americanas na região.
Não que o Brasil não seja importante, segundo Joel Velasco, vice-presidente da empresa de consultoria norte-americana Stonebridge International.
"É que o país não chegará ao nível de prioridades de assuntos como o Iraque e o Orçamento, que um Congresso democrata terá", disse à Folha. "Os problemas da política externa continuarão sendo a guerra contra o terrorismo, só que com visão diferente."

Sem prejuízo
Ainda assim, segundo Velasco, pode ser uma boa oportunidade para que se desfaça a impressão no país de que um Legislativo democrata é sinônimo de prejuízo para o Brasil.
"Duas das grandes questões do partido em relação aos outros países são o respeito às leis trabalhistas e às questões do ambiente", contabiliza ele. "Em ambos os assuntos, o Brasil não tem nada a dever."
"Paradoxalmente, eu acho que muda, sim, mas para pior, pois o grau de paralisação do governo norte-americano vai aumentar", disse à Folha Ricardo Amorim, economista para a América Latina do banco de investimentos WestLB.
"Se a Casa Branca já não tem conseguido fazer nada em relação ao Brasil hoje em dia, seja política, seja economicamente, com o domínio democrata essa paralisia tende a aumentar", pondera Amorim.
O economista chama a atenção para outro risco: um país dividido por um embate entre seu Executivo e seu Legislativo pode levar não só a uma crise política como a um pior desempenho econômico. "Isso teria um impacto negativo no mundo inteiro, inclusive no Brasil."
(SÉRGIO DÁVILA)


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