São Paulo, domingo, 05 de novembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELEIÇÕES NOS EUA/O IMPÉRIO DO MEIO

A cada eleição, EUA ficam mais "roxos"

Nem só azuis, nem só vermelhos; desta vez, a maioria "no meio do caminho" é que decidirá o pleito desta terça-feira

Especialistas mostram que democratas fiéis são 20% do eleitorado e republicanos, 30%; partidos caminham cada vez mais para o centro

DE WASHINGTON

Ao final das eleições de 2004, Robert J. Vanderbei resolveu ir atrás dos resultados de cada um dos 3.141 condados que dividem administrativamente os 50 Estados norte-americanos. Esse professor de Engenharia e Ciência Aplicada de Princeton, em Nova Jersey, intuía que seu país não era tão radicalmente dividido entre progressistas e conservadores, entre democratas e republicanos, quanto o próprio país imaginava.
Demorou, mas juntou os dados, conta Vanderbei. De posse deles, passou a fazer o que é sua especialidade: um mapa. Coloriria com vermelho, a cor tradicional republicana, as regiões em que o voto tivesse sido 100% para aquele partido; faria o mesmo com o azul para os democratas; e usaria uma escala que iria do vermelho ao azul, de acordo com a porcentagem para cada um.
Tabulados os números, viu tudo roxo. É o que ficou conhecido como O Mapa da América Roxa. Os lugares em que os democratas ou os republicanos representavam a maioria eram exceção. Depois de amanhã, será a América roxa que outra vez decidirá uma eleição nos EUA.
"Há, sim, uma divisão cada vez mais aguda", resume Robert J. Lieber, do Departamento de Assuntos Governamentais e de Política Externa da Universidade de Georgetown, em Washington. "Mas é entre democratas convictos e republicanos convictos; a maioria da população não é uma coisa nem outra. São os "no meio do caminho"."
Segundo seus cálculos, baseados em pesquisas recentes, os republicanos legítimos respondem por algo como 30% do eleitorado, ante perto de 20% dos que votam cegamente nos democratas. O resto, cerca de 50%, está no meio do caminho. E aí forma-se um ciclo vicioso. Os "roxos" podem se justificar pelo fato de os dois partidos terem caminhado cada vez mais para o centro do espectro político, numa tentativa de abocanhar o maior número possível deles, os "roxos".
Na TV, é difícil definir se o candidato é democrata ou republicano. Há republicanos que defendem o casamento gay em distritos progressistas e democratas a favor do porte de arma em redutos conservadores. Muitos escondem sua afiliação -que aparece no final em pequenas letras, como os efeitos colaterais de remédios.

Virar casaca
Outros começam a virar casaca, fenômeno raro nas eleições norte-americanas. Só no Kansas -um Estado que desde 1939 só elege senador republicano-, nove candidatos ao Congresso viraram democratas. Todos cobiçam essa maioria, que decide seu voto em relação ao tema do momento.
Foram os "roxos" que deram a vitória ao candidato Bill Clinton em 1992 -a questão que mais afetava os eleitores então era o bolso, o que fez o marqueteiro democrata James Carville criar o mantra "É a economia, estúpido!" para o seu candidato. Foram eles que deram a vitória a George W. Bush em 2004, inflamados pela defesa dos valores morais e da guerra ao terror.
Naquele momento, lembra Alan Rosenthal, professor de sociologia da Universidade Rutgers, o fracasso da Guerra do Iraque não estava tão claro, e diversos Estados traziam em suas cédulas propostas de legalização de união gay. "O Partido Republicano não conta com essa ajuda extra agora", disse.
Em 2006, não só a guerra como a política externa inteira do republicano está em julgamento -e os "no meio do caminho" não gostam do que vêem, a julgar pelas pesquisas de opinião mais recentes, que dão vitória para os democratas em pelo menos uma das duas Casas legislativas e citam a Guerra do Iraque como principal tema da campanha. "Não tem a intensidade da época da Guerra do Vietnã, mas é o mais citado", confirma Robert Lieber.
O próprio Robert J. Vanderbei é um exemplo do que ajudou a definir visualmente com seu mapa: "Sou conservador em questões fiscais e liberal em questões morais". E é contra a maneira como a Guerra do Iraque está sendo conduzida. Pode ser definido como um dos "roxos", então? "Sim, acho que você pode dizer isso."
(SÉRGIO DÁVILA)


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Memória: Temas de 1994 voltam na voz da oposição
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.