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ELEIÇÕES NOS EUA/O IMPÉRIO DO MEIO
A cada eleição, EUA ficam mais "roxos"
Nem só azuis, nem só vermelhos; desta vez, a maioria "no meio do caminho" é que decidirá o pleito desta terça-feira
Especialistas mostram que democratas fiéis são 20% do eleitorado e republicanos, 30%; partidos caminham cada vez mais para o centro
DE WASHINGTON
Ao final das eleições de 2004,
Robert J. Vanderbei resolveu ir
atrás dos resultados de cada um
dos 3.141 condados que dividem administrativamente os
50 Estados norte-americanos.
Esse professor de Engenharia e
Ciência Aplicada de Princeton,
em Nova Jersey, intuía que seu
país não era tão radicalmente
dividido entre progressistas e
conservadores, entre democratas e republicanos, quanto o
próprio país imaginava.
Demorou, mas juntou os dados, conta Vanderbei. De posse
deles, passou a fazer o que é sua
especialidade: um mapa. Coloriria com vermelho, a cor tradicional republicana, as regiões
em que o voto tivesse sido
100% para aquele partido; faria
o mesmo com o azul para os democratas; e usaria uma escala
que iria do vermelho ao azul, de
acordo com a porcentagem para cada um.
Tabulados os números, viu
tudo roxo. É o que ficou conhecido como O Mapa da América
Roxa. Os lugares em que os democratas ou os republicanos
representavam a maioria eram
exceção. Depois de amanhã, será a América roxa que outra vez
decidirá uma eleição nos EUA.
"Há, sim, uma divisão cada
vez mais aguda", resume Robert J. Lieber, do Departamento de Assuntos Governamentais e de Política Externa da
Universidade de Georgetown,
em Washington. "Mas é entre
democratas convictos e republicanos convictos; a maioria
da população não é uma coisa
nem outra. São os "no meio do
caminho"."
Segundo seus cálculos, baseados em pesquisas recentes,
os republicanos legítimos respondem por algo como 30% do
eleitorado, ante perto de 20%
dos que votam cegamente nos
democratas. O resto, cerca de
50%, está no meio do caminho.
E aí forma-se um ciclo vicioso.
Os "roxos" podem se justificar
pelo fato de os dois partidos terem caminhado cada vez mais
para o centro do espectro político, numa tentativa de abocanhar o maior número possível
deles, os "roxos".
Na TV, é difícil definir se o
candidato é democrata ou republicano. Há republicanos
que defendem o casamento gay
em distritos progressistas e democratas a favor do porte de arma em redutos conservadores.
Muitos escondem sua afiliação
-que aparece no final em pequenas letras, como os efeitos
colaterais de remédios.
Virar casaca
Outros começam a virar casaca, fenômeno raro nas eleições norte-americanas. Só no
Kansas -um Estado que desde
1939 só elege senador republicano-, nove candidatos ao
Congresso viraram democratas. Todos cobiçam essa maioria, que decide seu voto em relação ao tema do momento.
Foram os "roxos" que deram
a vitória ao candidato Bill Clinton em 1992 -a questão que
mais afetava os eleitores então
era o bolso, o que fez o marqueteiro democrata James Carville
criar o mantra "É a economia,
estúpido!" para o seu candidato. Foram eles que deram a vitória a George W. Bush em
2004, inflamados pela defesa
dos valores morais e da guerra
ao terror.
Naquele momento, lembra
Alan Rosenthal, professor de
sociologia da Universidade
Rutgers, o fracasso da Guerra
do Iraque não estava tão claro,
e diversos Estados traziam em
suas cédulas propostas de legalização de união gay. "O Partido
Republicano não conta com essa ajuda extra agora", disse.
Em 2006, não só a guerra como a política externa inteira do
republicano está em julgamento -e os "no meio do caminho"
não gostam do que vêem, a julgar pelas pesquisas de opinião
mais recentes, que dão vitória
para os democratas em pelo
menos uma das duas Casas legislativas e citam a Guerra do
Iraque como principal tema da
campanha. "Não tem a intensidade da época da Guerra do
Vietnã, mas é o mais citado",
confirma Robert Lieber.
O próprio Robert J. Vanderbei é um exemplo do que ajudou a definir visualmente com
seu mapa: "Sou conservador
em questões fiscais e liberal em
questões morais". E é contra a
maneira como a Guerra do Iraque está sendo conduzida. Pode ser definido como um dos
"roxos", então? "Sim, acho que
você pode dizer isso."
(SÉRGIO DÁVILA)
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