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memória
Temas de 1994 voltam na voz da oposição
CLAUDIA ANTUNES
EDITORA DE MUNDO
Nos Estados Unidos, como
aqui, a política anda em círculos. Os republicanos conquistaram a maioria na Câmara, hoje em perigo, no segundo ano do primeiro mandato do democrata Bill Clinton. Apoiavam-se numa plataforma, o Contrato com a
América, que pretendia varrer os últimos traços do liberalismo cultural e do Estado
intervencionista inaugurado
pelo governo Roosevelt
(1933-1945). Prometiam acabar com um governo "muito
grande e intruso" e respeitar
"os valores da família".
Ao lado do Leviatã e da
frouxidão moral, havia o mote da ética, traduzido na campanha de então como uma
guerra da América profunda
e honesta contra os vícios de
Washington. O contrato prometia acabar com o "ciclo de
escândalo e desgraça" na Câmara, onde os democratas
eram maioria havia 40 anos.
Vitoriosos, os republicanos trataram de zelar pela
moralidade, impondo a Clinton um processo de impeachment pelo caso com a
estagiária (ou por mentir sobre isso). O próprio presidente, numa reverência aos
novos tempos, engavetava
um plano de ampliação do
seguro público de saúde e decretava o "fim da era do governo grande".
Com a eleição de George
W. Bush, em 2000, os republicanos tiveram a oportunidade de concluir a primeira
parte do seu programa, com
cortes generosos de impostos para os americanos de
renda mais alta e uma ofensiva (não consumada) contra a
Previdência. Na batalha contra os políticos, abateram o
Legislativo, endossando superpoderes para o presidente. Ao mesmo tempo, sancionavam o aumento dos gastos
do governo - agora para a
guerra externa e interna ao
novo inimigo, o terrorismo.
Entrementes, o slogan da
ética naufragava. Ajudados
pela onda patriótica que calou a imprensa e pelo duplo
monopólio do poder (no
Executivo e no Legislativo),
republicanos geraram seus
escândalos particulares.
Corrupção envolvendo lobistas, negócios obscuros
com firmas encarregadas da
"reconstrução" do Iraque,
isenções suspeitas de impostos para petrolíferas.
A esses desmandos os democratas se apegam agora,
numa extensão com sinais
trocados daquela campanha
de 12 anos atrás. Claro, acima
de tudo há hoje o grande catalisador da ofensiva oposicionista, o Iraque -69% dos
americanos desaprovam a
condução da guerra pelo governo. Mas qual é, afinal, a
proposta dos democratas?
Não se sabe, ou não há uma,
mas várias. O certo é que eles
querem que a Casa Branca
decrete nos próximos dois
anos um plano de saída do
caos iraquiano -para não terem que fazer isso caso vençam Bush em 2008.
Também há os impostos.
Como diminuir o déficit, como ampliar o seguro de saúde que falta a 30% dos americanos sem aumentá-los?
Não existe, igualmente, nenhuma definição dos oposicionistas. Os americanos que
votam são os mais educados
e os mais ricos. Para eles, os
republicanos falam do risco
da volta do governo "intruso" -não aquele que espiona
seus e-mails, mas aquele que
mete a mão no seu bolso para
dar dinheiro a perdedores.
No momento, as pesquisas
indicam que a oposição pode
estar sendo mais medrosa
que os eleitores, embora o
sistema distrital americano
torne os prognósticos sobre
eleições legislativas pouco
confiáveis. Mas os jornais
também noticiam que alguns
dos candidatos democratas
mais bem-sucedidos são
aqueles que aproximam seu
discurso dos "valores morais" e do ódio a Washington
semeado por ideólogos conservadores. Há, portanto, o
risco de que as mesmas armas se voltem amanhã contra os atacantes de hoje.
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