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análise
Mudanças não tiram Ortega da mira dos EUA
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
O Departamento de Estado mandou que os americanos na Nicarágua permaneçam "atentos" à eleição presidencial. Pode haver violência, segundo a embaixada,
que se disse com o dever de
recomendar cuidados. Mas
não foi dado nenhum aviso
do gênero em outros países
latino-americanos onde
ocorreram disputas em clima tenso, como Bolívia, Peru, Colômbia e México. Por
acaso ou não, o alerta coincidiu com Daniel Ortega, da
Frente Sandinista de Libertação Nacional, aparecer nas
pesquisas com 35%.
É o mínimo exigido para
vitória no primeiro turno,
desde que o mais votado fique ao menos cinco pontos
percentuais à frente do segundo. A pesquisa teve o carimbo insuspeito da Zogby
International, de Miami. Na
última, Ortega apareceu com
34%. Há 16 anos a Nicarágua
saiu de uma guerra civil entre os sandinistas e a guerrilha dos "contras", treinada,
armadas e financiada pelos
EUA. Depois de afinal perder
nas urnas o poder conquistado com armas e de mais três
derrotas eleitorais, Ortega
tem agora chances de vencer.
Com isso estão em pé de
guerra gabinetes em Washington e oponentes dos
anos 80, além de rivais locais.
A pesquisa fez o Conselho
Superior da Empresa Privada declarar publicamente
apoio a Eduardo Montealegre, da Aliança Liberal Nicaragüense, o mais próximo de
Ortega. Fracassou o esforço,
com participação do embaixador dos EUA, para que a
"família liberal", dividida em
três facções, enfrentasse Ortega reunificada.
José Rizo, do Partido Liberal Constitucionalista, recusou-se a renunciar em favor
de Montealegre. Também o
sandinismo vai às urnas dividido. Ortega lidera a porção
maior, acusado, internamente, de maquiavelismo e "obscenidade política". Escândalos de corrupção após a queda revelaram o envolvimento de líderes da FSLN em
cerca de 30 grandes empresas. A ocupação de casas de
alto luxo resultou no famoso
"la Piñata". Em 1999, ávido
pelo poder, Ortega ligou-se
ao ex-presidente Miguel Alemán, liberal depois levado
aos tribunais como corrupto.
Um ex-protegido de Ortega, Carlos Guadamuz, chamou-o de "novo Somoza".
Houve até acusações de abuso sexual. Em 1994, figuras
históricas, como o poeta Ernesto Cardenal, produziram
um racha. Surgiu o Movimento Sandinista de Renovação, cujo candidato, Edmundo Jarquim, aparece em
quarto. Mesmo com essa ficha pós-poder e privado de
luminares do sandinismo
original, Ortega não se livra
da ira de Washington.
O jornalista NEWTON CARLOS é especialista em questões internacionais
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